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A 36ª newsletter do RelevO: bicheiro real, diretor fictício e talk shows
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edição #36 – 28 de junho de 2016
editor Mateus Ribeirete     editor-assistente Lucas Leite
projeto gráfico Marceli Mengarda     revisão Daniel Zanella
BOM DIA, leitor da Enclave — a newsletter que sabe até o terceiro dígito do π.

Já viu o Jornal RelevO de junho? Tá aqui. Outra coisa: o RelevO finalmente tirou seu ISSN. Nós agora existimos!

Se você aprecia a salada de internet que fazemos com a Enclave, por favor, recomende às pessoas que você estima. É uma grande chance de apostar em um conteúdo antes de se tornar popular demais, e aí até quem você detesta falar sobre a Enclave como se tivesse inventado o orgasmo (e você, por associação, implicar injustamente com o conteúdo). Evite toda essa catástrofe sendo o mala superantenado que descobriu uma newsletter muito "irada" desde já! Cada novo inscrito é celebrado por nossa equipe e nosso histórico está sempre
ao seu dispor.

Alguns rodopios mentais:

— Ingrid Bergman não tinha nenhum parentesco com Ingmar Bergman;
— Na Enclave #28, mencionamos a maldição da cidade americana de Cleveland, incapaz de ganhar qualquer coisa em qualquer esporte por mais de cinco décadas. Pois bem, a maldição finalmente acabou com a vitória do Cleveland Cavaliers na NBA;
— O imperador romano Trajano parece o Ross (David Schwimmer), de Friends.

#1 Quem pensa que o Brasil se resume a futebol, carnaval e corrupção, deveria conhecer a história de Castor de Andrade, um homem que dedicou sua vida, lutou e venceu nessas três áreas.

Castor de Andrade foi o bicheiro mais conhecido do Brasil. Costuma-se apontá-lo como o MAIOR e MAIS PODEROSO bicheiro do país, mas a falta de um prêmio oficial da categoria ou mesmo de uma revista especializada me faz preferir o critério de popularidade. Nasceu em 1926 no Rio de Janeiro, já filho e neto de contraventores ligados ao jogo do bicho. Tudo teria começado com a sua avó materna Eurídice que, após ter ficado viúva, teve a ideia de começar o seu próprio jogo do bicho na sua residência – uma casinha de sapê localizada na Rua Fonseca, no bairro do Bangu.

Seu pai pertencia a uma família que, a princípio, não tinha ligação alguma com os jogos de azar. Por influência da família da mãe, contudo, acabou entrando no negócio da contravenção. Seu Zizinho fez fortuna com o jogo do bicho, proporcionando uma infância regrada ao menino Castor, que mais tarde não apenas herdaria o negócio todo, como também multiplicaria por muito o faturamento.

Castor de Andrade foi um bicheiro amado e respeitado porque usou o dinheiro do bicho para dar alegria ao povo nas duas coisas que mais lhe interessam: futebol e carnaval. É, também, uma grande ingenuidade achar que Castor de Andrade usou o dinheiro do bicho para de fato dar alegria ao povo nas duas coisas que mais lhe interessam, quando na verdade parece ter havido um mutualismo muito interessante no sentido de carnaval e futebol serem caminhos bastante conhecidos (e eficientes) para se lavar dinheiro. Mas ele deu.

No futebol, perseverou à frente do Bangu. Um clube tão modesto que, quando incrivelmente chegou à final do Campeonato Brasileiro de 1985, não despertou raiva dos rivais cariocas, mas simpatia. A final foi no Estádio do Maracanã, com mais de 100 mil espectadores – a maioria torcedores de outras equipes cariocas – apoiando o Bangu. A equipe acabou derrotada nos pênaltis para o Coritiba, um time que jamais havia ganhado um Brasileiro, nunca venceu de novo e provavelmente nunca mais vai ganhar.

Castor de Andrade foi presidente de honra do Bangu e maior financiador do time exatamente nessa época. Foi muito querido pela torcida, que não se importava nem um pouco com algumas histórias estranhas que aconteceram na Era Castor, como a de um torcedor misterioso que faleceu e deixou uma herança de aproximadamente 500 bilhões de cruzeiros para o clube carioca. O adepto era professor de matemática, solteiro e a sua suposta fortuna era desconhecida mesmo pelos mais chegados. Ele não era sequer sócio do Bangu.

No Carnaval carioca, teve ainda mais reconhecimento. Foi pentacampeão patrocinando a escola Unidos de Padre Miguel (sempre-10-na-bateria-saudoso-mestre-andré-sempre-soube-o-que-queria) entre os anos 1970 e 1980.

Castor de Andrade acabou falecendo vítima de um infarto fulminante em 1997, quando descumpria, como de costume, a ordem de prisão domiciliar. Ele havia sido preso em 1994, utilizando bigode falso e cabelos pintados, enquanto visitava o Salão do Automóvel  em São Paulo. “Foi aquela vaidade de ver o Jaguar, o Rolls-Royce, a Lotus”, teria lamentado.

Após a morte de Castor de Andrade, o império do jogo do bicho aos poucos ruiu: o bicheiro exercia muita influência sobre policiais e políticos da época, além de “apagar” outros bicheiros com muita descrição. Sua morte deu início a uma disputa intensa entre os seus herdeiros. Mais de 50 mortes aconteceram desde então, na briga pelo controle do império do jogo do bicho e das máquinas caça-níquel espalhadas pelo Rio de Janeiro.

Grandes momentos de Castor de Andrade:
- Durante o desfile de 1990, quando abordado por um repórter da Globo curioso pela ausência do bicheiro  na avenida em anos anteriores, respondeu na lata, sem a menor cerimônia: “há dois anos que eu não frequento a Passarela do Samba por motivos óbvios. Eu estive em cana”.
- No Carnaval seguinte, durante a comemoração do bicampeonato da Mocidade, respondeu a uma repórter da TV Manchete que, enquanto os outros celebravam, ele estava “preparando  a grana pra eles gastarem” no ano seguinte. "Procuro fazer da melhor forma possível porque a minha comunidade merece todo esse sacrifício".
- Em 1986, comandou um treino do Bangu enquanto o treinador Moisés viajava ao Equador para assistir o Barcelona de Guayaquil, que seria o primeiro adversário na inédita participação do clube na Taça Libertadores da América daquele ano.
- Conforme
contou a Jô Soares, um assaltante o ameaçou com um revólver e conseguiu entrar em sua casa. Entraram mais dois: o terceiro do grupo, porém, reconheceu Castor. Todos correram de lá.

[por Matheus Chequim]

Na internet, ninguém sabe se você é um cachorro diretor. Ou uma imagem de estoque.

#2 Com dezenas e dezenas de filmes creditados desde a década de 1960, Alan (Allen) Smithee é, facilmente, um dos diretores mais polêmicos da história do cinema. Isso porque, longe de alguma prisão por estupro ou de um eventual relacionamento com a enteada, Alan Smithee não existe. Ao menos não fora do IMDB.

Só Matando foi lançado em 1969, e, com ele, um problema. O longa-metragem contou com dois diretores: o primeiro deles, substituído durante o processo, não queria que seu nome assinasse a produção; o segundo, bom, também não. Como o uso de pseudônimos não era permitido, foi necessário um acordo para que o Directors Guild of America (DGA) liberasse a oficialização de Allen Smithee, espantalho criativo de um filme surpreendentemente elogiado.

O nome foi desenvolvido a partir de 'Al Smith', considerado comum demais. Allen se tornou Alan, e, desde então, diretores vêm assumindo o pseudônimo, de imediato ou de forma retroativa, quando alegam não terem tido liberdade suficiente na edição de uma obra, principalmente ao admitirem que o resultado final é um 
grande dejeto.

A palhaçada esfriou após An Alan Smithee film: Burn Hollywood Burn (
1998), filme metalinguístico com Eric Idle, do Monty Python, no papel principal. Idle interpreta Alan Smithee – rá! –, diretor de cinema querendo apagar seu nome de um longa-metragem, mas impossibilitado por, afinal, chamar-se Alan Smithee. A película foi um fracasso absoluto de público e crítica, e o diretor Arthur Hiller, alegando interferências diretas na edição, assinou como... Pois é.

[obrigado, Vitor de Lerbo!]


 

#3 De Johnny Carson a Rafinha Bastos, passando por Jô Soares e David Letterman, você já deve ter observado como a estrutura de talk shows noturnos costuma ser parecidíssima: uma mesa; convidados; monólogos; diálogos nem sempre espontâneosbanda fixa e um auxiliar coadjuvante. Ainda que existam exceções, a logística é quase sempre idêntica. Em meio a essa hiper-realidade de famosos sorridentes e fragmentos hiperativos (– quais as chances de acertarmos dois usos de "hiper" na mesma frase? –), o escocês Craig Ferguson se consolidou como um apresentador singular. Sua criatura, The Late Late Show with Craig Ferguson (2004-2015), da americana CBS, não perdia chances de rir do próprio gênero. 

Ferguson, afinal, sempre adotou uma abordagem um tanto anárquica no formato inteiro. Após anos recebendo reclamações pela ausência de um coadjuvante, seu companheiro no comando do programa era Geoff Petterson, um "robô gay" de movimentos limitados dublado por Josh Robert Thompson. Também não havia banda, mas existia Secretariat, um elemento fantasiado de cavalo cuja função consistia em dançar com o apresentador – isso acontecia com frequência. Fantasias e fantoches, aliás, não faltavam nos segmentos absurdos, bem como silêncios constrangedores. Quando membros da plateia participavam, eles realmente não tinham ideia do desdobramento da conversa.

E os entrevistados também não. Craig Ferguson claramente não se preparava para as entrevistas, segundo ele para manter uma curiosidade genuína nos convidados (o que muito soa como pretexto para preguiça).
Essa entrevista com Robin Williams, por exemplo, exibe dois lunáticos à vontade. Simbolicamente, Ferguson passou a rasgar aqueles cartões preparatórios de que todo apresentador dispõe, muitas vezes expondo-os ao ridículo. Da mesma forma, eram frequentes suas alusões à superficialidade do formato, como, por exemplo, ao papel de parede noturno e à gravação, que de noturna nada tinha.

Entretanto, o escocês não se consagrou só pelo humor: além do carisma invejável, Ferguson expunha um bom senso pouco visto na televisão (e em qualquer lugar, sejamos justos). Alguns de seus monólogos são especialmente marcantes, como aquele em que compartilha ter tido
sérios problemas com alcoolismo ou as homenagens a paimãe, diante de suas respectivas mortes. Sempre desprovido de demagogia, pretensão e proselitismo, Craig Ferguson tratou sua própria função com escárnio até encerrar o Late Late Show em 2015. Hoje comanda o Join or Die no canal History – aquele dos alienígenas –, propondo debates sobre história. Por seus não tão numerosos fãs, é adorado.

1. Bedozil
2. Drulak
3. Ginkoba
4. Muzik
5. Lanz
6. Imbruvica

7. Brabec
8. Latal
9. Lozan
10. Malysa
11. Niki
12. Necid
13. Plasil
14. Dostalek

15. Priligy
16. Prokop
17. Rezek
18. Ostrat
19. Rhesonativ
20. Sonnek
21. Valtana
22. Tivicay
23. Sobol
24. Stika
25. Suplasyn
26. Pristiq

27. Sirina
28. Maslak

29. Visken
30. Dolezal




 
Remédios: 1, 3, 5, 6, 9, 11, 15, 18, 19, 21, 22, 25, 26, 29.
Atletas tchecos: 2, 4, 7, 8, 10, 12, 14, 16, 17, 20, 23, 24, 27, 28, 30.
Ambos: 13
"Temos organizações e Estados com fronteiras cada vez mais indistintas entre si, com cada rede de influência global competindo entre si por vantagens. E seus fluxos de comunicação estão expostos a oportunistas, Estados concorrentes e assim por diante. Assim, novas redes estão sendo construídas além da internet, redes privadas virtuais, cuja privacidade é protegida pela criptografia. É essa base de poder industrial que está impedindo que a criptografia seja banida. (...) Acho que a única defesa eficaz contra a iminente distopia da vigilância é aquela em que cada um toma medidas para proteger a própria privacidade, porque os grupos capazes de interceptar tudo não têm incentivo algum para reduzir o próprio controle. Uma analogia histórica seria o modo como as pessoas descobriram que precisavam lavar as mãos. Essa mudança exigiu a consolidação e depois a popularização da teoria dos germes da doença e demandou o enraizamento da paranoia em relação ao alastramento da doença por meio de alguma coisa na nossa mão que não podia ser vista, da mesma forma como não dá para ver a interceptação em massa. Quando esse conhecimento se propagou o suficiente, os fabricantes de sabonete se puseram a fabricar produtos que as pessoas consumiam para aliviar o medo. É necessário instilar medo nas pessoas para que elas compreendam o problema antes de uma demanda suficiente ser criada para solucioná-lo."
Julian Assange, Cypherpunks: liberdade e o futuro da internet, 2012, ed. Boitempo.
 
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