Ao falar sobre
Mindfulness e todo este movimento ocidental que inclui programas para gerir stresse, ansiedade, depressão, lidar com a dor, etc., um amigo disse-me recentemente: é como se usasses um
laptop como pisa-papéis. Claro que um
laptop pode ser usado para pisa-papéis, mas realmente é pena, pois a sua utilização é tão mais vasta!
Quase nem saberia por onde começar para explicar o quanto acho este raciocínio injusto ou no mínimo limitado. Por um lado, pressupõe que só há uma motivação correta, quando se trata de meditação, e que é o despertar, a iluminação, e se não temos essa motivação, que “só” quisermos aprender a lidar com o stresse, a ansiedade, a depressão, ou as relações, isso ainda não é uma motivação correta. O caminho faz-se a partir do ponto onde estamos. Eventualmente a motivação pode até mudar, ou não, mas seja qual for, se há uma grande desarmonia na nossa vida, isso é um sintoma de algo e partir daí é uma motivação tão boa como outra qualquer. Por vezes há uma ideia de superioridade entre os meios ditos espirituais – de que determinados caminhos são superiores a outros, de que fazer determinadas escolhas é mais “elevado” do que outras. Na verdade não sabemos nada sobre os seres e o caminho de cada um, ou muito pouco. E este tipo de julgamento coloca-nos muito na perspetiva dualista do espiritual
versus material que é mais uma versão da nossa ignorância básica, de vermos as coisas, o mundo, nós mesmos, como entidades separadas umas das outras. Espiritual é material e material é espiritual.
contra o meu costume, este texto é mais longo do que o habitual e continua aqui >>>>
Margarida Cardoso