*Por Jader Pires.
Eu perdi minha mochila no trem. Rolou nessa última viagem de férias que tirei. Eu nunca tinha deixado algo pra trás, de óculos escuros e isqueiro (de quando eu fumava), então, foi muito estranha a sensação de entrar no airtrain em Nova York e não achar as alças da mochila colada nos ombros.
Tava tudo lá. Os carregadores do celular, meus fones e o computador com meus textos dentro. Umas camisetas, uma boina que comprei todo feliz lá, depois de procurar a viagem toda e automaticamente transformado em item de estimação. Vocês sabem o sentimento.
Pois bem. Eu deixei no trem que me levava pro aeroporto. Só dei conta quando entrei no trenzinho que rodava os terminais e tava me levando pra casa.
Correndo, voltei pra estação Jamaica, uma das maiores do Queens, pra ver o que faria. O corpo gelado, as pernas parecendo dois pitocos de borracha, moles, bambos. Batei no vidro do tiozinho que dá os recados na estação, pedi pra ele me ajudar, falei que tinha deixado uma "blue backpack" no trem que tinha saído às vente e uma e trinta da Penn Station sentido Babylon.
Foi engraçado, pensando agora, que o tio ficou cabreiro que eu sabia exatamente qual trem era, porque ele teve que ir atrás, e naquele momento eu já saquei que ele tava com a resposta na ponta da língua: "porra, nem dá pra ir atrás de uma mochila em todos os trens que passam aqui, amigo". Mas tinha. E ele teve que ir atrás. Ligou, informou, me disse que eu tinha que esperar, que eles iam procurar.
E foi meia hora esperando. Desesperado. Garganta seca, a parte debaixo coladinha na parte de cima. O silêncio desconfortável, o ponteiro do relógio todo preguiçoso, o mundo acontecendo e eu ali, travado.
E encontraram a mochila. Me trouxeram no trem que passou meia noite e vinte. Intacta. Tudo lá dentro, bonitinho, depois de um passeio até Long Island.
Voltou pra casa comigo, ela. E eu não vou mais perder essa danada.
Botei até um nome nela: Unforgettable.
A Inesquecível.
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