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Desculpe, mas chamo-lhe assim, à falta de melhor termo abrangente. Sim, podia ser a telecoisa – teletrabalho, teleconferência, teleestudos,… mas é um bocadinho século XX, não é? Muito mais moderno o grande reboliço das vídeo…coisas. Nós, na Oficina de Psicologia, fazemos videoconsultas, temos videoreuniões, dinamizamos videoformações e videoencontros. Um pouco por todo o mundo que tem um bom parque tecnológico e infraestrutura de redes, os humanos fixaram-se à frente de um rectângulo, por onde lhes entra o mundo, e assim vão, várias horas por dia, porque não têm outro remédio actualmente. Nem as bisavós são poupadas, que são os Skypes e Facetimes quem as salva do isolamento, de bicharocos e família.
 
Não é que seja mau – claro que este confinamento aqui há uns anos atrás seria o mesmo que as pessoas serem engolidas pelas paredes que as abrigam, salvo uns telefonemas esporádicos, de telefone fixo para outro. Mas tem os seus desafios e coloca questões que começamos todos a descobrir nesta sua utilização intensiva. E sim, tem impacto ao nível do funcionamento psicológico e qualidade energética dos nossos dias.
 

O cansaço físico

A imobilidade postural, como aquela que é requerida para quem está horas à frente de um computador, sem a benesse das amenas cavaqueiras com os colegas de trabalho e pausas para um cafezinho, torna-se particularmente desgastante, abre as portas à instalação de dores (um pouco por todo o lado) o que cria desgaste, impaciência e dificuldades de concentração. Bem, e dores, claro.
A isto somam-se as horas de esforço visual, com focagem a menos de 1 metro, e sobre uma superfície plana e brilhante. Não sou oftalmologista, mas diria que, se não os olhos, pelo menos o cérebro não foi desenhado para este tipo de utilização. Já lhe aconteceu no final de um dia, levantar-se da secretária, levantar o olhar e ter uma sensação de irrealidade ou de estar zonzo?
 
Sugestão
Combater este efeito? Levante o olhar com frequência, de preferência, colocando-o uns segundos no horizonte – uma janela por perto vai dar-lhe jeito, a não ser que more num dos bairros tradicionais antigos, daqueles em que se assoma à janela para pedir açúcar à vizinha da frente. Só tem de se lembrar de o ir fazendo frequentemente, e aproveitar para endireitar a cabeça também, alongando a coluna, de volta à sua posição natural, porque, de certeza que esteve curvado, colocando uma carga e esforço sobre a coluna vertebral que, também ela, vai ter as suas consequências
 
 

O cansaço intelectual

O contexto onde as conversas ocorrem tem uma influência directa no seu decurso e no seu impacto geral sobre nós.
As conversas presenciais têm um ritmo e uma gestão de pausas que nos permite reflectir sobre aquilo que é essencial. Também têm uma riqueza muito superior de informação sobre o outro, dados que processamos a um nível menos consciente, mas que é permanente e vital para nos ajudar a perceber o que se está a passar. E, finalmente, a comunicação presencial não tem cortes de internet, nem imagens congeladas, que nos obrigam a um esforço elevado para conseguir ir aferindo o sentido do que está a ser dito.
 
Sugestão
Por isso, o cansaço de uma videocoisa é muito superior, e a sua duração deve ser reduzida. Pense em reduzir a duração, tanto quanto possível das suas reuniões online; em contextos mais formais, como é o caso profissional, considere investir antes e depois em mecanismos que ajudem todos a ter informação pertinente que os ajude a navegar estas dificuldades: um envio prévio da agenda da reunião e de informação importante que requeira ser analisada, e o envio posterior das suas notas e entendimentos daquilo que foi falado.
 
De igual forma, habitue-se a falar mais devagar do que costuma fazer, para que resulte mais claro, e não se coíba de pedir aos outros para fazer o mesmo. Se a conexão estiver mesmo muito má, sugira reagendar para outra altura, em vez de insistir no esforço de tentar apanhar os pedacinhos da conversa palavra-aqui-palavra-acolá – se uma coisa tem tudo para correr mal, vai correr mal de certeza, pelo que não vale insistir no que não está a funcionar. Poupe-se.
 

O cansaço emocional

Temos um cérebro que mantém todas as suas propriedades primitivas e de captação do contexto que mantém – felizmente – as suas capacidades muito animais, no sentido em que é muito sensível e dá prioridade absoluta a tudo o que signifique ameaça à sobrevivência. E, sem dúvida alguma, os outros seres humanos são fonte de ameaça para os nossos cérebros (nunca se sabe quando aquele senhor engravatado não é um inimigo da tribo dos canibais, pensam lá uns dos nossos neurónios resistentes às modernices). Por isso, passar várias horas diárias a falar com outras pessoas que se conseguem “ler” de forma muito simplista (só temos praticamente uma cabeça falante dentro de um ecrã), a quem falta toda a miríade de informação sensorial própria de um contacto a 3 dimensões, induz um estado de alerta importante. Não é de estranhar que cheguemos ao final do dia com um nível de desgaste emocional bem superior ao que temos depois de um dia no escritório ou na nossa vida sem restrições.
 
Sugestão
Faça pausas mais frequentes do que aquelas que, em situações normais, deveria estar a fazer (digo “deveria” porque sei que não as faz tão frequentemente quanto seria necessário). Numa situação normal, um adulto precisa de pausas – de 5/10 minutos – a cada 60/90 minutos (dependendo de condição física, vulnerabilidade, idade, hábito de concentração, hora do dia, etc). A meio de maratonas de videocoisas não deixe passar mais de 20/30 minutos sem que se levante, olhe lá para fora e vá beber um copo de água (não que o copo de água tenha alguma propriedade que nos interesse para aquilo que estamos a falar, mas porque implica mexer-se durante uns 2 ou 3 minutos e sempre hidrata as cordas vocais, em maior esforço por estar a falar para uma máquina).
 
 

A assertividade

Somos bonzinhos, amorosos e fóbicos a conflitos. Somos portugueses, claro :) A nossa assertividade, de uma forma geral, tende para zero, até porque nem tem grande fama (se fosse bem-vista de certeza que já teríamos todos um discurso e postura muito mais afirmativos). Mas as videocoisas vão dar-lhe cabo da paciência se não cria uma bolsa de assertividade muito rapidamente…
 
Se não, vejamos algumas das coisas capazes de fazer perder a paciência a um santo e que acontecem ao longo dos nossos contactos tornados tecnológicos:
  • A pessoa com quem está a falar insiste em ir mexendo coisas sobre, perto ou no computador, criando um ruído constante que ameaça levá-lo à loucura
  • A pessoa com quem está a falar ora mantém um tom de voz normal, ora usa toda a potência da sua caixa torácica, enquanto os seus tímpanos tentam resistir, e logo hoje que tinha colocado os auscultadores novos dos que se enfiam lá para dentro do ouvido
  • O seu interlocutor está com uma rede péssima e bloqueia segundo sim, segundo não; quando lhe pede para repetir aquilo que ele esteve a dizer ele não repete, mas explica, como se em vez de não ter ouvido, fosse tontinho
  • O seu interlocutor acedeu à videocoisa num telefone ou tablet que vai abanando freneticamente, por razões que se desconhecem, fazendo-o sentir-se num carrossel involuntário e, não contente com isso, de vez em quando aparece de cabeça para baixo, deixando-o perdido em considerações filosóficas sobre o mundo andar todo de pernas para o ar.
 
E agora isto multiplica-se por tantas outras situações de deixar qualquer um num caco de nervos, e pelas horas do dia, de manhã à noite, porque pelo que vejo as empresas acharam que teletrabalho que se preze tem de ser feito de calls constantes. De tal forma que o termo “call” já tem lugar na língua portuguesa comum – aguarda-se a qualquer instante que se aportuguese totalmente como em “Amanhã, cólo-te”. O que não seria mal achado, já que andamos todos um bocadito a descolar, não?
 
Então, ou se conforma com a ideia de que há uma boa probabilidade de ainda aparecer na primeira página de jornal, por acto de violência ou desacato de estribeiras perdidas, ou desenvolve a sua assertividade. Com a vantagem de que lhe fica para a vida. E de preferência, uma assertividade empática, para não perdermos esta personalidade de povo amoroso.
 
Por isso, achei importante descomplicar isto da assertividade empática, uma excelente ferramenta comunicacional para podermos defender as nossas posições, necessidades e direitos, pisando o mínimo possível de calos alheios. Pense sempre que uma comunicação assertiva tem três partes: uma descrição objectiva da situação, a partilha quanto ao impacto - sobretudo emocional - que essa situação tem sobre si e a sua proposta de resolução, tentando que seja a melhor possível para ambas as partes. Se resumirmos, será algo do género: Isto… faz-me sentir… pelo que proponho… A isto acrescenta-lhe uns pós de empatia, tentando perceber como é a realidade do outro e demonstrando que a está a tentar perceber.
Simples, não? Como tudo na vida requer treino. Bem, e primeiro também se estranha, mas prometo-lhe que depois se entranha.
 
Vamos a um exemplo que me parece muito útil face a tanta call que ameaça deixar toda a gente em desgaste improdutivo e com os nervos em frangalhos?
 
Marcam-lhe a enésima call da semana (ou talvez do dia). Uma resposta assertiva e empática possível seria “Eu percebo que estarmos todos à distância cria uma sensação de descontrolo do que se está a passar, e que falarmos com frequência nos faz sentir mais próximos. Mas estão a ser demasiadas calls – esta já é a 7ª desta semana - e o meu trabalho de concentração está a ser prejudicado com as interrupções e o cansaço acrescido das videoconferências. Posso sugerir (que este tema seja gerido por email/que exista uma única videoconferência diária, ainda que com mais pessoas, para se reverem os temas todos/…)?
 
Troquemos em miúdos:
Tentamos perceber o ponto de vista/as razões do(s) outro(s): “Eu percebo que estarmos todos à distância cria uma sensação de descontrolo do que se está a passar, e que falarmos com frequência nos faz sentir mais próximos.
Descrevemos objectivamente a situação (por oposto a interpretarmos, fazermos considerações subjectivas e emocionais, assumirmos intenções, etc): “Mas estão a ser demasiadas calls – esta já é a 7ª desta semana
O impacto que tem sobre si e que faz com que a situação não esteja a funcionar para si: “e o meu trabalho de concentração está a ser prejudicado com as interrupções e o cansaço acrescido das videoconferências
Proposta de solução e abertura de vias de consenso: “Posso sugerir (que este tema seja gerido por email/que exista uma única videoconferência diária, ainda que com mais pessoas, para se reverem os temas todos/…)?
 
Resumimos:
  • O que é isto de que estamos a falar?
  • Como acho que é isto para si
  • Como é isto para mim
  • Como proponho resolver o tema
 
E como se aplica lá em casa?
Que tal fazermos assim: eu dei-lhe a fórmula e dei-lhe um exemplo. Agora dou-lhe uma missão: pensa nas últimas 48 horas e vai anotando todas as situações que o incomodaram de alguma forma e que gostaria que tivessem sido diferentes.
Já está?
Óptimo: agora, à frente de cada uma dessas situações escreve aquilo que poderia ter dito, de forma empaticamente assertiva. Este treino retrospectivo é muito útil, porque permite um ensaio mental que nos prepara para as situações futuras. A única armadilha nisto é se lhe der para a autoculpabilização e usar o que gostaria que tivesse sido diferente de uma forma pouco útil, para se chicotear por não ser perfeito. Portanto, cuidado com isto – use o que não correu bem como uma arma importante de um futuro melhor, mostrando ao seu cérebro como seria uma reacção alternativa e de maior utilidade para si, sem amargos de boca por não se ter lembrado antes da solução.
 
E um bónus: se me quiser enviar as suas respostas, eu ajudo a melhorá-las, se for caso disso. Basta clicar aqui para me enviar um email com as suas respostas empaticamente assertivas.
 
 
Os meus exemplos

E se está preocupado?

Os nossos parceiros Your Care realizam testes Covid-19, cómodos e rápidos. Se está preocupado, consigo ou com os seus, com sintomas que podem significar infecção por Covid-19 pode telefonar-lhes ou enviar um email à Rita Lobato para uma breve avaliação clínica e teste (lembre-se de indicar o seu número de telemóvel para que possa ser esclarecido de forma mais rápida e completa). O teste é realizado no espaço de 1 a 2 dias, e os resultados são-lhe entregues 2 a 3 dias úteis depois. Tudo muito prático e sem necessidade de prescrição médica. E até pode escolher se faz o teste no laboratório, em casa ou sem sair do carro. Tudo em Portugal, claro.

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#fiquebememcasa

Continuamos todos por aqui E continuamos a trabalhar todos os dias para que fique bem em casa.
Receba um grande abraço,
Madalena Lobo

PS: Não se esqueça de conferir a próxima data das nossas videocoisas :)

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