Bom dia!
A avó levou um susto quando o neto apareceu na tela do celular: “Que bochechas são essas, meu Deus”. É fato. Meu caçula Gabriel ganhou uns quilinhos desde que as aulas foram suspensas. Numa noite dessa semana, não queria vestir o pijama para dormir. Está incomodando de tão apertado – até o pijama! Não é para menos. O menino vive com um lanchinho na mão. Outro dia, desativou a câmera do computador e os colegas acharam que ele tinha abandonado a aula online pelo Google Meet, mas não… só não queria que a turma o visse atacando um saco de pipoca no meio dos estudos.
O que estou testemunhando na minha casa não é um caso isolado (infelizmente). Coordenadora da Pediatria no Hospital Leforte, em São Paulo, a médica Talita Rizzini diz que a queixa sobre ganho de peso das crianças nessa quarentena anda cada vez mais frequente entre os pais. E não faltam motivos para justificar esse repentino excesso de fofura dos pequenos: a redução da atividade física, a mudança na rotina com reflexo no sono e a ansiedade, só para citar alguns. Preocupada com o tema, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) elaborou o documento “Obesidade em crianças e adolescentes e Covid-19”, no qual destaca os impactos negativos que o ganho de peso exagerado durante o isolamento social pode provocar. É disso que trata a reportagem da editora Verônica Fraidenraich.
Também é dela a matéria sobre as estilosas festas de aniversário online que estão rolando nessa quarentena. Esqueça aquele bolinho com parabéns virtual transmitido em videoconferência com parentes e amigos. Dá para fazer bem mais do que isso – e deixar os pequenos tão felizes quanto se a celebração fosse presencial. A festa do Felipe, filho da arquiteta Bebel Soares, teve show ao vivo, apresentação de mágica e uns 160 convidados! Só não teve docinhos – o que, considerando o alerta da Sociedade Brasileira de Pediatria, talvez seja uma vantagem desse tipo de festejo digital em tempo de isolamento social.
Afinal, comes e bebes (embora deliciosos e tentadores) não são o mais importante para os pequenos. Os aniversariantes costumam passar longe das mesas de salgadinhos. O que eles curtem mesmo é se sentirem especiais e muito amados pelos pais, familiares e amigos. Não faltam pesquisas científicas para comprovar a relação do afeto, dos pequenos gestos de carinho, com o desenvolvimento infantil. E é sobre um desses estudos que trata a matéria da repórter Heloísa Scognamiglio: o psiquiatra Bruce Perry comparou os cérebros de duas crianças: uma que teve infância negligenciada e outra que cresceu num lar amoroso. O registro dos dois cérebros lado a lado é o tipo de imagem que diz mais que mil palavras.
Impossível ler o trabalho do especialista americano e não ter vontade de caprichar no afeto que entregamos aos filhos. Então, aproveite essa parada obrigatória que a vida nos impôs. Ninguém sabe quando será a volta às aulas, mas há muito o que as crianças podem (e devem) aprender nesse momento, como explica o artigo da educadora Luciana E. Correa. Uma voz crítica ao que foi chamado de “loucura conteudista”, a especialista em aprendizagem digital propõe que você se preocupe menos com as videoaulas e mais em ensinar seu filho a “ser” – a entrar em contato com as emoções, as vontades, os sonhos. Topa o desafio?
E tem mais na edição de hoje.
Boa leitura!
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números para refletir

3 em cada 10
crianças brasileiras, com idades entre 5 e 9 anos, estão acima do peso ideal, um total de...
4,4 milhões
de brasileirinhos dessa faixa etária, dos quais...
16%
estão com sobrepeso e...
8%
com obesidade.
Fonte: Ministério da Saúde
uma pergunta para...

Fernando Gomes
Neurocirurgião e professor da Faculdade de Medicina da USP
Como lidar melhor com os filhos para evitar conflitos durante a quarentena?
"Vamos olhar como os índios lidam com as crianças na aldeia? Índio não apanha, não leva bronca, não leva grito. Os pais e as mães, principalmente, que ficam o dia inteiro na aldeia, têm paciência. Por quê? Porque elas têm a natureza a sua volta. Se a criança quer ir ali fazer alguma coisa e voltar, obviamente coisas que não sejam perigosas, você dá o tempo para a criança e ela volta. É natural a criança ficar estressada, ela não vai te obedecer 100% do tempo e isso é normal. Se você lidar de uma forma um pouco mais primitiva com os filhos, fica mais fácil. Já com os adolescentes, encare como um adulto jovem, que é o que ele deseja ser. Estabeleça rotina e algumas regras, mas dê privacidade, dê o direito da pessoa ficar chateada, emburrada, de não querer fazer alguma coisa. Isso faz parte."
*Entrevista ao especial “O Mundo Pós-Pandemia: Equilíbrio Emocional”, da CNN Brasil.
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