Bom dia!
“É uma barra ficar em família 24 horas por dia.” Rosely Sayão, uma das mais conhecidas “conselheiras de pais” do Brasil, resumiu nesta frase a experiência que as crianças estão vivendo. É com ela a nossa seção “Uma pergunta para” de hoje. Colunista da rádio BandNews FM e do jornal O Estado de S. Paulo, Rosely coloca o dedo na ferida, sem melindres, para falar da relação entre pais e filhos. Às vezes, é desconcertante ouvir o que ela diz e ler o que ela escreve. Mas é sempre uma provocação para pais encararem o espelho. É ou não é uma barra esse confinamento prolongado com a família (para crianças e adultos, por mais amor que exista)?
No depoimento que selecionamos para esta edição, a psicóloga e escritora trata do isolamento social sob a perspectiva de crianças e adolescentes. E deixa um questionamento na mesa: vale a pena esse empenho dos professores e das famílias para fazer as crianças estudarem agora? “Será que a gente não está perdendo oportunidades mais ricas de aprendizado nesse contexto?”, pergunta Rosely. Confesso que penso muito sobre isso – nos dias em que preciso brigar para que meus meninos levem as aulas online a sério e nos dias em que deixo pra lá (e morro de culpa).
Segundo o psicólogo espanhol Rafael Guerrero, há três motivos que podem levar a uma explosão de raiva. Um deles é o sentimento de injustiça por violação de direitos. E é compreensível que muitas crianças entendam o ensino remoto como uma “violação de direitos”. Em uma das matérias de hoje, a repórter Heloísa Scognamiglio fala das reflexões de Guerrero sobre como ensinar aos filhos a lidar com a raiva (não só durante a quarentena, claro).
A boa notícia é que essa “violação de direitos” vai passar. Em alguma hora, as escolas vão voltar a receber seus alunos e a rotina das crianças voltará ao normal – ou ao “novo normal”. Especialistas da educação e também da saúde estão se preparando para a retomada das atividades. É o caso da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), uma das entidades que vem se dedicando a preparar pais e educadores para a próxima etapa. O alerta da SBP desta semana é sobre atividades físicas. É importante que as crianças voltem, o mais breve possível, a fazer exercícios físicos. Mas, como explica a matéria da editora Verônica Fraidenraich, depois de um confinamento prolongado, certos cuidados são necessários para que não haja risco para os pequenos.
E esses são apenas alguns dos destaques na edição de hoje. Boa leitura!
saúde
É importante para a saúde das crianças que elas voltem a praticar atividades físicas tão logo seja possível. Mas a retomada dos exercícios exige certos cuidados. O alerta é da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que divulgou orientações para pais e educadores.“Fazer atividades de forma desregulada, após longo tempo parado, pode trazer prejuízos ao organismo”, explica o pediatra Ricardo do Rego Barros.
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comportamento
Há três motivos que podem levar uma criança a “explodir” de raiva: o sentimento de injustiça por violação de direitos; não alcançar um objetivo; sentir fome, sede ou outras necessidades básicas. Em artigo para o jornal “El País”, o psicólogo espanhol Rafael Guerrero dá dicas para ensinar os filhos a gerir as próprias emoções – e lidar melhor com a raiva.
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tecnologia
A rotina de crianças e jovens brasileiros conectados inclui auxiliar os pais com atividades online. É o que mostra a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2019, divulgada ontem. O estudo também traz dados sobre o acompanhamento dos pais à vida digital dos filhos e sobre os riscos que os pequenos enfrentam na internet.
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números para refletir
24,3 milhões de crianças e adolescentes
brasileiros (89% do total) são usuários da internet.
29% da população de 9 a 17 anos
ajuda seus pais ou responsáveis em atividades na internet todos os dias ou quase todos os dias.
28%
oferecem apoio aos pais pelo menos uma vez por semana.
Do outro lado…
80% dos pais ou responsáveis
conversam com os filhos sobre atividades online.
77%
ensinam como usar a internet com segurança.
55%
ajudam a fazer alguma tarefa na Internet que a criança não entende.
Fonte: TIC Kids Online Brasil 2019
artigo
Como educar uma criança para que ela se torne um adulto saudável, feliz, confiante, cheio de estima por si e empatia pelos outros? “É um caminho longo, mas se puder fazer uma boa escolha, comece pelas emoções”, escreve a psicóloga Patrícia Nolêto, em artigo para a Canguru News. “Quanto mais cedo isso for feito, mais cedo a criança terá autonomia e habilidade para regular as próprias emoções.”
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casa
Especialistas na organização de ambientes, Cris Catussato e Glauce Di Mauro dão 10 dicas para ajudar mães e pais na difícil missão de ensinar os pequenos a guardar os brinquedos após a diversão – e manter a casa em ordem, mesmo durante a quarentena.
entretenimento
Embora muitos pais tenham receio de deixar filhos pequenos usar tesouras, o manuseio é importante para o desenvolvimento de habilidades motoras. Nossa colunista Laura Ladeira, especialista na produção de brinquedos reciclados, mostra como uma brincadeira ensina as crianças a usar o objeto cortante.
uma pergunta para...
Rosely Sayão
Psicóloga há mais de 40 anos, já escreveu livros como "Educação sem blá-blá-blá: como preparar seus filhos e alunos para o convívio familiar, a escola e a vida" e "Como educar meu filho"
As crianças estão em casa, mas não em férias. E agora? O que fazer?
“A única experiência que a criança conhece de estar em casa é em férias. Cognitivamente, a criança e o adolescente entendem que agora eles têm de estudar de casa. Mas o ‘global’ deles resiste a entrar nesse contexto porque não é a experiência conhecida. Isso me leva a perguntar se vale a pena esse empenho de professores e famílias em fazer com que as crianças estudem agora. Será que a gente não está perdendo oportunidades mais ricas de aprendizado nesse contexto? O tempo todo os professores precisam demandar dos alunos atenção. É natural. Porque as crianças e os adolescentes de hoje estão acostumados à multiplicidade, à diversidade de estímulos, eles são multitarefas de verdade, já nasceram nesse mundo. Se hoje, eles dizem que querem muito ir para a escola, não pensem vocês que é por causa da aprendizagem, que eles sentem falta das aulas: eles sentem muita falta é dos colegas e até dos professores. Porque em casa estão submetidos a apenas dois (ou talvez um) estilo de amar, de ficar bravo, de se irritar. E ir para a escola significava um respiro. Eles entravam em contato com outros estilos amorosos, de cuidado, de proteção, bem diferentes do estilo dos pais. É uma barra ficar em família 24 horas por dia e, vamos reconhecer, não é só para eles. Para os pais também, que podiam sair, ver os amigos. Tivemos de abrir mão disso em nome da segurança e da nossa saúde. Se pra gente é difícil, para as crianças é ainda mais porque esse convívio com a diversidade era fundamental para manutenção da saúde mental e das emoções delas.”
*Depoimento ao programa Café Filosófico, da TV Cultura.
Foto: Zanone-Fraissat - Folha-Press
Obrigada por nos ler!
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