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Uma das edições mais comentadas até hoje foi a #44, quando abordamos o assunto "aplicativização das pessoas" pela primeira vez. (recomendo que leia antes de continuar)

Veio gente concordar, gente discordar, gente desabafar, e toda troca foi muito positiva.

Vamos voltar a esse assunto:

Primeiro, porque metade das pessoas que estão aqui hoje não estavam aqui na época.
Segundo, porque tiveram dois acontecimentos na última semana que o trouxeram à tona
E terceiro, porque a gente ainda precisa voltar muito nesse assunto. A nossa relação com aplicativos de entrega e a conveniência às custas da precarização do trabalho de muita gente exige no mínimo uma reflexão.
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1) A Uber lançou no Brasil a categoria "Uber Comfort", que vai substituir a categoria Select e acrescentar à experiência de quem quiser pagar um pouco a mais carros mais confortáveis, e a possibilidade de requisitar via aplicativo que o motorista permaneça em silêncio.

2) O iFood lançou uma série de benefícios para os seus entregadores. Na edição #44, a marca já tinha sido destacada por ser a única a ter áreas de relaxamento em pontos chave da cidade. Agora, tem seguro para acidentes, treinamentos e um programa de benefícios. "Agora é a vez dos entregadores", eles disseram.

3) A thread do carteiro Floyd foi atualizada desde maio quando a compartilhamos, e ela vale muito a pena. Quem já viu, revisite. Quem não viu, faça isso pela sua semana. Você não vai se arrepender <3

"Muito se fala sobre a 'aplicativização' dos serviços e como ela revolucionou a forma com que nós vamos aos lugares e pedimos delivery, e como isso consequentemente mudou nossos hábitos alimentares e a frequencia com que saímos de casa... Mas não há discussão suficiente sobre a 'aplicativização' das pessoas.

As nossas relações com prestadores de serviço estão mudando muito, muito rápido. E eu me questiono se para melhor. A gente nunca teve tantas pessoas diferentes nos prestando serviços e nunca soube tão pouco (ou sequer se importou em saber) sobre elas. 

Porque agora, entre nós e esses prestadores de serviço, tem uma tela. Um produto. Uma UX. Uma marca. Quem está vindo te buscar é 'o Uber', quem está trazendo a sua janta é 'o iFood', quem faz suas compras é 'o Rappi'. E para quem gostaria de pedir silêncio em um botão, o que é um bom dia, um boa noite, ou um muito obrigado?"


Desde maio, quando escrevi esses parágrafos, a evolução nessas relações foi tímida.

Se por um lado uma das maiores marcas desse segmento passa a ter um olhar atento e empático aos entregadores, por outro, acompanhei discussões infinitas no Twitter sobre o tal botão da Uber - e se ele é ofensivo ao motorista ou 'business as usual' e direito da pessoa cansada que chama um carro para voltar para casa.

Me pergunto se é a categoria do serviço em si, ou se o próprio aplicativo estimula esse tipo de dinâmica impessoal, e a envelopa como mais uma conveniência. Por exemplo, você "silenciaria" uma diarista com um botão? Uma manicure? Um eletricista? Um garçom no bar? Por que é ok silenciar um motorista de aplicativo?

Tambem no Twitter, vi gente comentando que se essas condições que o iFood está oferecendo encarecerem o serviço, vão migrar para a concorrência.

Minha conclusão é que fomos muito, mas muito mal acostumados com o excesso de conveniência e os preços irrealistas desse tipo de serviço. Ao mínimo sinal de incômodo, silenciamos. Ao mínimo sinal de investimento nos entregadores, reclamamos.

Nesse cenário, acredito que as marcas envolvidas tem muito a ganhar tomando a frente dessa discussão e tratando seus prestadores de serviço como as pessoas que são - cada qual com suas necessidades, sua história e sua luta diária. Mesmo que o posicionamento incomode alguns. Mesmo que cobrar um preço justo afaste outros.

Porque se depender só dos consumidores, essas pessoas só tendem a se tornar mais invisíveis, conforme o nosso padrão de "on demand" vai ficando cada vez mais exigente.

Desse jeito, essa conta não vai fechar tão cedo - pelo menos não para os entregadores ou motoristas.

E não sei quanto a vocês, mas eu prefiro viver num mundo que trate as pessoas mais como "Floyds", do que como botões de liga/desliga. E apoiarei feliz a marca que levantar essa bandeira
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Esse assunto é polêmico, mas essa imagem podia se chamar "apenas fatos". E a partir dela, a interpretação fica a critério da visão de mundo de cada um. FIque à vontade para dividir a sua comigo, respondendo a esse e-mail!
- Beatriz


PS: O horário oficial de envio dessa newsletter é às quintas-feiras, 8h. Com reenvio às segundas, para garantir que ela não se perca na caixa de entrada. Ou seja, a edição de hoje está atrasada. Porque por trás de cada texto tem uma pessoa, cuja rotina pesa um pouco às vezes. Prometo manter a consistência o máximo possível. E agradeço muito a compreensão <3
~ espero que você olhe diferente ~

para os entregadores que avistar por aí no fim de semana.
e se a reflexão valer a pena, compartilhe essa edição com o máximo de pessoas que puder.
é aos poucos que a gente vai pensando diferente, e estimulando ações diferentes.
O que leva as pessoas a confiarem nas marcas
Segundo pesquisa recente da Edelman, divulgada pela Exame. Spoilers: de forma geral, a gente tende a duvidar das boas intenções das marcas. E com razão. Para quem gosta de relatórios completos, o original está disponível em inglês aqui.

A lista atualizada dos unicórnios brasileiros
Já com o mais novo integrante dessa lista, a curitibana EBANX.

"Consumismo espiritual"
O nome que esse artigo do New York Times deu à tendência recente de investir - e muito! - em produtos que promovam o auto cuidado e a auto realização. Com referências que vão de Queer Eye e Marie Kondo à GOOP, ele prova que poucos segmentos sairão imunes a esse comportamento e, consequentemente, esses dólares.

Uma entrevista com Scott Galloway
Fico feliz de poder compartilhar uma referência dele que não seja em inglês. Nessa entrevista, Scott fala abertamente sobre a queda do WeWork e o que ela representa para as startups. O Brazil Journal obteve e traduziu com exclusividade. Quem sabe um dia quem o entrevista exclusivamente sou eu ;)

As fotos que não abalaram o Instagram
Série de tirinhas que ilustra o lado zero glamour e bastante vida real do Instagram. Impossível não se identificar. Confesso que já postei várias delas.

Elizabeth Warren contra o Facebook
Sem ligar que está falando de um dos homens mais poderosos do mundo, a candidata democrata lançou um anúncio no Facebook com uma mentira sobre Zuckerberg. Para ver se ele vai derrubá-lo, já que recentemente a plataforma anunciou que não iria julgar anúncios vindos de políticos - mesmo que sejam abertamente mentirosos. Esse texto do Casey Newton é tudo que você precisa ler para entender essa treta (e as suas implicações para Zuck e para a democracia) em detalhe.
Eu sou uma pessoa de poucos podcasts. Gosto do formato e admiro muito quem está produzindo e profissionalizando cada vez mais essa mídia, mas o meu negócio é mesmo a escrita.

Dito isso, o único podcast que eu não perco nenhum episódio é o Pivot, apresentado pela Kara Swisher e pelo (ele, de novo) Scott Galloway.

Ambos são brilhantes, e toda sexta-feira passam de 35 a 45 minutos debatendo os últimos acontecimentos no mundo da tecnologia. Com um pouco de branding, comportamento, política, sociedade.. E a cada edição, arriscam alguma previsão para o futuro. Spoiler: já acertaram várias.

Minha dica é aproveitar que hoje mesmo saiu um episódio novo, e torná-lo parte da sua rotina.

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