No último fim de semana de novembro, a cidade catarinense de Ilhota, no Vale do Itajaí (SC), se vestiu com as cores da Bélgica, começando com a recepção do autor Marc Storms ao aeroporto pela família Hostins.
Na noite do sábado 30, com um salão cheio de alegria, emoções e um bom aroma de comidas brasileiras e belgas, o livro “Sabores belgas no Brasil” foi lançado na cidade. A atividade contou com a presença do cônsul geral Matthieu Branders e do cônsul Thomas Maes do Consulado Geral de São e do administrador provisório do consulado honorário da Bélgica em Florianópolis Sr. Jeroen Servaes, suas famílias e autoridades locais. E, com e centenas de descendentes belgas, entre estes as famílias Brockveld, Buelens, Castelain, Coninck, Degand, Hostins, Mabba, Maes, Wan-Dall, Vander Hecht e Vilain.
Nessa noite foi empossada também a nova diretoria da Associação Ilha Belga, que tem por presidente a Sra. Sueli Ana dos Santos e cuja missão é resgatar e manter a cultura e identidade belga em Ilhota em 17 objetivos.
Na apresentação do seu livro "Sabores belgas no Brasil", o pesquisador Marc Storms ressaltou que a primeira vez que passou em Ilhota em 2011, a cidade parecia fantasma e bem similar às pequenas cidades belgas na mesma hora. “Não havia pessoas para fazer perguntas sobre a origem belga, mas vimos o brasão belga na prefeitura e alguns sobrenomes belgas nas ruas e lojas. Mas que diferença esta noite, pois eu nunca estive, no Brasil, numa sala com tantos descendentes belgas e com tanta alegria, entusiasmo e energia no ar!”. As famílias de descendentes estão engajadas, há meses na atividade e na criação da Associação Ilha Belga, um marco na trajetória para redescobrir e resgatar as suas origens e Marc manifestou estar honrado de poder ajudar neste caminho, já que pesquisa sobre a rica e diversificada herança e presença belga aqui e como coordenador do projeto Patrimônio belga no Brasil.
Na sua apresentação, Marc compartilhou os três destaques do livro em relação à Santa Catarina. O primeiro, sobre a brasileira Maria Helena Casemiro, de Balneário Camboriú, que viveu quinze anos na Bélgica, onde conheceu o waffle de Liège e se apaixonou por ele... e por um belga. Casada com Marc Temmerman, retornou à sua cidade, decidida a iniciar a produção da iguaria aqui, nascendo a Sabor Belga em 2012. A
Sabor Belga é pioneira ao oferecer o waffle de Liège e desenvolveu uma gama de sabores adaptados ao paladar local, com distribuidores e redes de supermercados em vários estados. Essa foi uma das sobremesas especiais dessa noite.
Cem anos antes da criação da Sabor Belga, dois agrônomos belgas,
Charles Vincent e Robert Ledent, trabalharam no posto zootécnico de Lages e lá iniciaram a criação de gado da raça flamenga com a importação de touros. Charles liderou os primeiros experimentos com forrageiros para o gado, algo incomum na época, no Brasil e organizou ainda as primeiras feiras pecuárias na região. A raça flamenga foi muito valorizada até a década de 1960 e até hoje, Lages mantém um rebanho de raça flamenga o único registrado no país.
Em 1842, a serviço da Societé Commercial de Bruges e proprietário da Compagnie belge-brésilienne de Colonisation, o belga original da cidade de Bruges, Charles Maximilien van Lede, desembarcou no Brasil. Ele foi o primeiro a realizar uma viagem de cunho científico à parte navegável do rio Itajaí-Açu. Desenhou um mapa da região, arquivado na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, reproduzido no livro. A partir da viagem, começou a alimentar a ideia de um projeto colonizador. Em uma pequena ilha, atual Ilhota, desembarcaram 175 anos atrás, os noventa primeiros colonos belgas. O cotidiano dos colonos foi marcado pela pesca e caça, derrubada de árvores, construção de casas e de engenhos de fabricação de farinha e açúcar. Apesar de conflitos e reivindicação de direitos por parte dos colonos, a colônia prosperou graças ao trabalho dos imigrantes.
O resgate da culinária típica dos colonizadores belgas em Ilhota é bem mais recente. Na área, apenas uma receita é conhecida por ter perpassado gerações: o Pão de Belga. O jornal “Metas Gaspar” de 17 de dezembro de 2011 registrou que a família de Ana Francisco dos Santos, então com 85 anos, ainda preparava e consumia o pão. Casada com Nelson José dos Santos, Ana teve doze filhos, descendentes de duas famílias belgas: Vilain e Vander Hecht. “Desde criança, sempre ouvi minha mãe dizer ‘pão de berga’ e, pesquisando, descobri que, na verdade, ela se referia ao ‘
Pão de Belga’”, explica no jornal. Lembra-se que comia o pão desde a infância e aprendeu a fazer a receita com a sua avó. Segundo Ana, outras famílias em Ilhota também consumiam o pão.
No momento de escrever o livro, Marc apenas conhecia esta história através do artigo no jornal. Até que a agora presidente da Associação Ilha Belga, Sueli Ana dos Santos entrou em contato sobre danças folclóricas belgas, é que descobriu que a Ana Francisco era a sua mãe e que ela está em boa saúde e ainda fazendo o pão belga. A Senhora Ana, presente na atividade, recebeu uma forte salva de palmas e recebeu o primeiro exemplar do livro.
Depois essas palavras, foi aberto o bufê que contou com opções belgas, entre outros os
carbonades à la flamande e, claro, não faltaram batatas fritas. A confraternização continuou até a madrugada.Mais detalhes sobre as histórias de Santa Catarina encontram-se no livro, que está a venda na loja online
patrimoniobelga por R$ 70,00.
Marc agradeceu o apoio da Embaixada e Consulados belgas, á Lei Rouanet, bem como também o
patrocínio das empresas
Callebaut,
Impextraco,
Katoen Natie do Brasil e
Parafix.
O próximo lançamento será no dia 4 de dezembro no Restaurante
Chez Vous em São Paulo.
Twitter: @saboresbelgasnobrasil
Instagram: patrimônio_belga_no_brasil