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#A Obra é o que sobra

No folheto de uma exposição de arte do Itaú Cultural, a alguns anos, encontrei uma frase que ficou na minha cabeça para sempre. “A obra é o que sobra.”. Lembrei da frase quando li a última edição da newsletter da Ana Martino falando sobre o trabalho invisível do autor. Ana estava falando sobre todo o trabalho e retrabalho que um escritor tem antes do livro ficar pronto e eu me identifiquei com a ansiedade que ela sente enquanto tudo não passa de um amontoado de ideias flutuando em uma nuvem qualquer.
Quando o livro chega nas mãos do leitor, embalado com plástico estéril, enfeitado com uma capa que podia estar em uma galeria de arte, com frases profundas que dão vontade de grafitar na parede e personagens tão interessantes que sentimos que são nossos amigos, ninguém pensa no tanto de suor, sangue, merda, álcool e antidepressivos pelo que o autor nadou até chegar até ali.
A obra é o que sobra. Toda a Arte acontece nos bastidores. Toda vez que abro meus arquivos para verificar a última versão de um trabalho isso fica bastante claro. É como olhar para um multiverso alternativo, onde personagens têm outros nomes, casais improváveis se formaram, mortos se ergueram do túmulo, protagonistas se despediram cedo demais, metralhadoras chegaram a idade média, balões de ar quente substituíram carros, sapos são os melhores amigos do homem e nada disso aconteceu.
A arte em geral é uma maneira solitária de se conectar com o outro. Ela não faz sentido algum trancada nos rascunhos empilhados sobre a mesa, mas é ali que acontece de verdade e é esse o grande paradoxo.
A maior parte dos restos de história que abandonamos pelo caminho como cacos são versões opacas e sem valor do que finalmente foi publicado, mas que desenho bonito eles formam espalhados pelo chão onde cortam os nossos pés.
 

#CartasMarcianas

<<First Name>>, saudações marcianas!
Espero que você me perdoe pela mensagem de texto, mas o delay da chamada com a Terra me deixa confuso. Ainda não entendo como os jovens conseguem manter uma conversa coerente com esses cinco minutos de espera entre uma resposta e outra. Me disseram que tem alguma coisa a ver com os novos chips de chamada, que calculam a probabilidade de uma resposta através do histórico de conversas, te antecipando a resposta antes que você faça a pergunta. Para mim parece apenas que você está conversando com aqueles chats automáticos de telemarketing. Você pergunta sobre o tempo, e o chip te responde que as mangueiras estão florindo. Enfim.
Espero que esteja tudo bem contigo. Soube da confusão causada pela A.N.A. no último congresso da O.N.U. (esses nomes ainda me deixam confuso) e das ameaças terroristas. Mantenha-se em segurança, por favor, e mande notícias. Estou com saudades de todos e cansado de comida reidratada.
Nesta semana encontrei o Carlos, uma das primeiras pessoas que me receberam quando cheguei aqui. Um cara baixinho e grisalho, que de alguma forma lembra bastante o meu avô. Talvez pela disposição física ou pela inclinação à bebida. Meu avô tomou cachaça 51 e fumou Derby a vida toda, Carlos bebe um diluído de etanol que podia colocar um foguete em órbita. Diz que sente falta do fumo, mas está aí uma restrição que poucas pessoas tem coragem de burlar desde que perdemos uma sessão inteira por causa de uma guimba contrabandeada.
Bem, Carlos me contou que passou a trabalhar nas escavações da sessão 33Z, catalogando uma nova câmara cheia de cacarecos. É a terceira que abrimos este ano e não encontramos nada de novo. Avise o pessoal que nada de homenzinhos-verdes por enquanto, só as mesmas tumbas monumentais, pirâmides e esfinges. Quando deixaram esse planeta nossos amiguinhos levaram a prataria e deixaram as pedras. Não sei para onde foram, mas não acho que pretendem voltar. As câmaras, porem são grandes o suficiente para serem convertidas em outra sessão, abrindo espaço na colônia. É mais rápido do que escavar moradias.
Carlos é um cara engraçado. Daqueles que acredita que os inquilinos anteriores colonizaram o Egito e que somos todos descendentes de antigos marcianos. Se ele não tivesse entrado em um foguete tenho certeza de que diria que a Terra é plana e a Austrália não existe, mas como estamos em Marte ele precisou encontrar outro tipo de maluquice conspiratória para se apoiar, então entrou nessa onda de Egito marciano. O mais engraçado é que ele viu as esculturas e sabe como os verdinhos eram, então queria saber onde foram parar os tentáculos triformes e os olhos de inseto já que #SomosTodosMarcianos, mas sempre que pergunto sobre isso ele desconversa e diz que talvez esses sejam só ídolos dos deuses de Marte.
A merda é que faz sentido; outra merda é que não temos como saber; mas a terceira merda é que ninguém liga. Uma escavadeira derrubou uma parede cheia de entalhes para abrir um dos túneis e a maior parte do que restou foi lançada em um aterro na superfície. 
<<First Name>>, estamos moendo o planeta para fazer tijolos para a colônia. Hieróglifos, tentáculos, olhos de inseto e abdômen seccionados já se tornaram parte da arquitetura local. Você enlouqueceria só de imaginar o estrago.
São os jovens que se esforçam mais para preservar as coisas por aqui. É como se estivessem em busca de uma identidade e não conseguissem mais se enxergar em nada que tenha vindo da terra. Já faz parte dos seus vestuários, suas tatuagens e das festas proibidas que eles fazem nos salões. É assustador! Parece um culto! Não sei se foi boa ideia enviá-los para cá. Fazia mais sentido quando nós chegamos, os velhos que já estavam cansados do antigo mundo. Talvez os novos planos não caibam mais em uma expectativa de vida de dez anos.
Pelos meus cálculos nos próximos dias você irá receber algumas pedras marcianas. Sei que vocês gostam disso, mas para nós não tem outra utilidade além de material barato para construção. É meio brega, que nem comprar santinho em minas gerais, mas ao menos essas vieram de longe. Segundo os moleques, se você colocar essas pedras na cabeceira da cama, você terá sonhos marcianos. Nunca tentei. Estou velho demais para sonhar. Acho que fiquei meio melancólico. Sinto falta de todos vocês.
Grande Abraço.

#Sublinhado

#Indicações

Mundos Apocalípticos
Neste livro o mundo já acabou. É um fato. Resta saber o que fazer a partir de agora. O preço pode parecer salgado, mas Mundos Apocalípticos reúne alguns dos maiores autores de ficção científica, fantasia e horror da atualidade, para nos dar sua visão sobre o fim dos tempos. A Planeta Minotauro caprichou nessa edição, não achei nenhuma vírgula fora do lugar. Apesar de ter gostado de todos os contos, achei que alguns deixam o final muito aberto, como uma história que não chegou ao fim. Outros, porém, te acertam no final com uma marreta e te deixam sangrando na porta de casa. É o caso de “O Povo da Areia e da Escória” sobre pós-humanos que adotam o cachorro; “Pão e Bombas” que me pegou de surpresa com o final; já em “Quando os SysAdmins Dominaram a Terra” um grupo de administradores de sistema tentam salvar o que resta da civilização com seus conhecimentos de informática; “A última forma-O” é uma história de monstro com um final amargo de te fazer deixar o livro de lado e “Depois do Juízo Final” um grupo de astronautas volta para a terra abandonada, depois que Jesus levou todos embora. Leia antes do mundo acabar.

#OssosDoOfício

Chamas do Império Volume 2 passou da metade e pegou embalado. Agora vai sem freio! Inclusive bati o martelo sobre o título, a revelação vai acontecer no grupo de WhatsApp.
A história como estátua de barro, é um artigo antigo que escrevi sobre o meu processo de escrita e reescrita em histórias com múltiplos pontos de vista.

#Agradecimentos

Meus agradecimentos ao Victor Burgos, Camila Fernandes, Ana Lúcia Merege e Brena Gentil que deram seu apoio no catarse para fazer com que esse boletim saísse da caixa de ideias. Se você também quer se tornar um apoiador, clique no botão abaixo.

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Diego Guerra | Fantasia e Ficção Científica · Rua de Casa · São Paulo, SP 00000000 · Brazil

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