Bissexto
Vinte e nove dias em suspenso. O sol some do céu. Os namoros terminam ao meu redor. Juras de amor desfeitas, as próprias nuvens que se desmancham em tórridas águas. Vinte e nove dias. Não sou a mesma de antes, mas também não sei definir quem sou (tormentas invadem o meu peito sem pedir permissão alguma). Vinte e nove dias de trabalho. Muito trabalho. Vinte e nove dias de angústia e prazos e lágrimas. Hesito. Será que tomei a decisão mais acertada? Vinte e nove dias me perguntando se estou no lugar certo, na hora certa, com as pessoas exatas. Vinte e nove dias me apegando às palavras das amigas que me suplicam para que eu tenha coragem, enquanto elas mesmas passam por seus tornados particulares. Vinte e nove dias vendo as nossas casas, nossas vidas, nossos territórios seguros entrando no redemoinho e sendo atirados pelo ar. Vinte e nove dias em barulho externo e silencio vindo de dentro (é possível silenciar pensamentos?). Vinte e nove dias que finalmente se findam ao mesmo tempo em que estou deitada, em posição fetal, vendo a poeira flutuando no ar. Aonde ela irá pousar (se é que ela vai)? Lembro-me da música, mas me questiono mais uma vez: depois da tormenta será mesmo que sai o sol?
De onde vem a coragem, a força, a alegria? Inspiro. Sinto o ar enchendo por completo os meus pulmões. Minha caixa torácica sobe. Abraço um março que chega dando as boas-vindas, lembrando das realizações próximas, dos momentos felizes que já estão assinalados na agenda. Expiro. Visualizo as novas chances. Trinta e um dias buscando ter coragem com leveza. Trinta e um dias tendo leveza com coragem.
Ainda não encontro todas as respostas. Entretanto compreendo: a vida não me obriga a seguir um caminho só.
|