Para entender a ruptura é preciso contexto


22/04/2019

Quanto falta para o carro 100% autônomo?

Alcançar a autonomia total segue sendo um grande desafio para os veículos motorizados.  Os fabricantes de automóveis têm estimativas muito diferentes de quantos anos ainda nos separam dessa realidade.

A jornalista Karen Hao, da MIT Technology Review, entrevistou Amnon Shashua, CEO da Mobileye, com o objetivo de entender em que pontos estamos dessa jornada. A fabricante israelense de tecnologias autônomas, adquirida pela Intel em 2017, tem parcerias com mais de duas dúzias de montadoras e é um dos principais players deste mercado.

Shashua abordou aspectos tecnológicos, de regulamentação e de negócios considerando três objetivos na construção de carros autônomos: segurança, utilidade e acessibilidade, do ponto de vista econômico. De uma perspectiva técnica, ele divide a tecnologia de mobilidade autônoma em duas partes: percepção e capacidade de tomada de decisão. 

O primeiro desafio, diz ele, é construir um sistema autônomo que consiga perceber melhor a estrada do que o melhor condutor humano. “Isso significa que o sistema de percepção de um automóvel autônomo pode falhar uma vez a cada 10 milhões de horas de direção”.

Hoje, os melhores sistemas de assistência de condução percebem incorretamente algo em seu ambiente uma vez a cada dezenas de milhares de horas, diz Shashua. "Estamos falando de uma lacuna de três ordens de magnitude."

Além de melhorar a visão computacional, ele vê outros dois componentes necessários para preencher essa lacuna: a criação de redundâncias no sistema de percepção, usando câmeras e radares, e o desenvolvimento de mapas altamente detalhados do ambiente, para tornar ainda mais fácil para um carro processar seus arredores.

O segundo desafio é construir um sistema que possa tomar decisões razoáveis, como a velocidade com que dirige e quando mudar de faixa. “Mas definir o que constitui “razoável” é menos um desafio técnico do que um regulatório”, diz ele. Os reguladores devem formalizar os limites de tomada de decisão razoável de modo que os fabricantes possam programar seus carros para agir somente dentro deles.

O último desafio, o de criar um carro com preço acessível, depende das montadoras. No curto prazo, com a tecnologia ainda em dezenas de milhares de dólares, apenas um negócio será financeiramente sustentável, na opinião de Shashua:  o robo-táxi. “Estamos falando do período de 2021, 2022”, diz ele. A Mobileye planeja lançar um serviço táxi autônomo com a Volkswagen, em Tel Avi, em 2022.


Enquanto isso...

  • O estado da arte dos veículos autônomos foi tema de uma palestra do cientista Lex Fridman, do Human-Centered AI do MIT, em fevereiro, abordando avanços da Waymo, Tesla, Cruise, Ford e GM em 2018,  e as expectativas para 2019.
     
  • O  CEO da Ford, Jim Hackett, assumiu uma postura conservadora, dias atrás, admitindo que a empresa "superestimou inicialmente a chegada de veículos autônomos". A Ford ainda planeja lançar sua primeira frota autônoma em 2021, mas com recursos significativamente reduzidos.
     
  • A infraestrutura necessária para os veículos elétricos começa a surgir no Brasil. É um caminho sem volta para o futuro da mobilidade.
     
  • E a Renault lança em São Paulo um embrião de carsharing, instalando um dos seus veículos 100% elétricos Zoe no CUBO Itaú. Os mais de 1 mil habitantes do prédio e os 300 funcionários da Renault instalados no Renault Lab poderão usar o carro pagando R$ 6 reais por 15 minutos. O Renault Lab faz parte das iniciativas globais de interação com startups. O carsharing utiliza a plataforma Joycar, startup presente no Cubo Itaú, e o carregador para abastecer o veículo é da Efacec.

11 passos para a transformação digital

Quase a metade de todos os líderes empresariais em atividade hoje não possui uma visão digital para o futuro e tampouco está preparada para investir na tecnologia necessária para a transformação dos negócios, diz o estudo Transforming your company into a digital-driven business, assinado pelos consultores Jeremy Blain e Robin Speculand.

Os autores ouviram mais de 1.800 líderes em três continentes para identificar os 11 passos comuns a todos os que já avançaram na jornada, resumidos por John Welsh na Forbes.

“Prevíamos que a transformação para o digital estaria no topo da agenda dos líderes em 2018. Mas os resultados indicaram pouca prontidão e até sugerem uma certa complacência entre os líderes ”, diz Jeremy Blain, co-autor do estudo.

Um dos pontos preocupantes está no passo 5, sobre Design Thinking e a capacidade das empresas de se comportar como startups quando buscam inovação. Em média, só 40% das empresas mudaram a cultura corporativa para aceitar o erro como parte do caminho para inovar.

Developers: a nova raça de líderes corporativos

517%. Essa é a taxa de crescimento das vagas globais em 2018 para engenheiros de software com habilidades em blockchain. Ela é praticamente 4 vezes o crescimento da demanda por engenheiros de software de segurança no ranking elaborado pela Hired, uma empresa de job search de San Francisco, especializada em tecnologia.

O frenesi por programadores é tão grande nas empresas, desesperadas por profissionais associados à transformação digital, que a Hired juntou os dados de mais de 100 mil candidatos e 10 mil empresas, para gerar o estudo "2019 The State of Software Engineers", um guia para entender como pensam e o que querem tais profissionais.

No relatório você descobre que se quiser tirar um especialista em machine learning de San Francisco para sua empresa vai ter de superar um salário anual de US$ 153 mil. Melhor buscar os franceses ou ingleses, com salários anuais de US$ 65 mil e US$ 87 mil, respectivamente.

A escassez de skills mandou os salários para o espaço. No LinkedIn, o número de vagas abertas para blockchain cresceu 33 vezes em 2018. Mais recente, um relatório da Janco Associates mostra que não só há um número enorme de vagas abertas sem preencher como, também por falta de profissionais especializados, projetos de transformação digital estão parados, perdendo prazos. E esse "Developer Coefficient" tem custado às empresas, globalmente, US$ 300 bilhões ao ano.

O problema, resumido pelo CFO da Stripe, Will Gaybrick: "Estamos com 1/4 de século na era do consumidor da internet e a C-suite ainda se debate com um problema fundamental chamado transformação digital. Um dos motivos desse desafio ser tão pernicioso é que ele não pode ser resolvido como a maioria das transições, com dinheiro e consultorias de gestão. Ele exige o expertise de uma nova raça de líderes corporativos: os desenvolvedores de software".
 

VÍDEO DA SEMANA: "Essa foi a maior fraude eleitoral na Grã-Bretanha em 100 anos. Numa eleição única para esta geração, que se decidiu por apenas 1% dos votos.". A jornalista inglesa Carole Cadwalladr, autora da reportagem que denunciou o escândalo do Cambridge Analytica, faz uma apresentação imperdível na abertura da TED2019 (15 a 19 de abril). Tendo na plateia boa parte das pessoas que ela acusa de serem inimigas da democracia. "Foi como convidar a raposa para o galinheiro. Só que eu era a raposa", escreve Carole no The Guardian, para comentar a aventura de ir à TED, o templo da tecnologia, declarar que o rei está nú.
Pesquisadores imprimiram um coração em 3D usando as células de um paciente, criando novas esperanças para transplantes."Esta é a 1a vez que alguém consegue projetar e imprimir um coração inteiro com células, vasos sangüíneos, ventrículos e aurículas", diz o professor Tal Dvir, da Universidade de Tel Aviv, um dos autores da pesquisa, publicada na Advanced Science.

Cinco livros sobre os riscos dos algoritmos

Será coincidência? Precisamos entender (e vigiar) as novas tecnologias e os riscos reais delas acentuarem os vieses da sociedade. E os 5 livros que separamos sobre o assunto foram todos escritos por... mulheres!

A tecnologia tóxica é o tema de Technically Wrong: Sexist Apps, Biased Algorithms, and Other Threats of Toxic Tech, escrito por Sara Wachter-Boettcher, que entrou para a lista dos melhores da Wired e da Fast Company.

Mais desigualdade poderá vir das análises de big data se não olharmos como são escritos seus algoritmos. Weapons of Math Destruction: How Big Data Increases Inequality and Threatens Democracy, de Cathy O’Neil, é revelador.

Direitos são negados e empregos recusados quando um algoritmo escrito de forma errada automatiza decisões em empresas e órgãos públicos. Vale ler Automating Inequality: How High-Tech Tools Profile, Police, and Punish the Poor, de Virginia Eubanks.

O racismo não some com a tecnologia. Na verdade pode aumentar se os algoritmos de busca reforçarem os vieses da sociedade. Algorithms of Oppression: How Search Engines Reinforce Racism, escrito pela professora Safiya Umoja Noble vai no ponto.

E o machismo impera no Silicon Valley. No livro Brotopia: Breaking Up the Boys' Club of Silicon Valley, a jornalista da Bloomberg TV, Emily Chang, expõe como as mulheres do Vale viveram até agora em ambientes sexistas e como estão brigando para mudar o cenário. 

Mais dados que estrelas no céu

Dados por toda parte. Até 2019, segundo a PwC, o total de dados acumulados pela humanidade chega a 4,4 Zettabytes (ZB). Em 2020, esse número deverá saltar para 44 Zettabytes. Um Zettabyte equivale a 1.000.000.000.000.000.000.000 bytes. O infográfico, produzido pela Raconteur e interpretado pelo Visual Capitalist, sinaliza o volume diário gerado hoje por Twitter, e-mail, Facebook, carros conectados etc. Com a Internet das Coisas em rampa ascendente, em 2025 deveremos gerar 463 Exabytes (EB) por dia, segundo a IDC. Ou 463.000.000.000.000.000.000 bytes

O garimpo da semana está bacana

  • É inacreditavelmente barato e legal construir um sistema de reconhecimento facial. Tudo o que você precisa é de filmagens públicas e US$ 60.  O New York Times examinou legalmente 2.750 rostos de pessoas no Bryant Park.
     
  • Pesquisadores de inteligência artificial estão testando os limites da AutoML, uma plataforma de software projetada para escrever e testar códigos como se fosse um cientista de dados.
     
  • Um novo sistema de IA pode converter a voz de uma cantora em outra. Como? Veja aqui
     
  • O que diferenciará o 6G do 5G? O 6G será a força propulsora por trás de uma geração totalmente nova de aplicativos para inteligência de máquina. Como a IA moldará a rede do futuro? 
     
  • Médicos e engenheiros da Stanford e da Georgia Tech desenvolveram uma luva vibratória que poderia ajudar os sobreviventes de derrame a recuperar a capacidade de controlar seus braços e mãos.
     
  • O mercado global de drones deve triplicar, chegando a US$ 43 bilhões até 2024.
     
  • A CRISPR iniciou uma revolução com a manipulação genética. Embora seja uma descoberta relativamente recente na história da biotecnologia, a CRISPR tornou-se rapidamente uma ferramenta-padrão de laboratório. O eBook CRISPR 101 ajuda a entender a tecnologia, fornecendo uma visão geral de seus fundamentos. 

Esta é a 15a edição da The Shift.

 

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Gratidão pela leitura e boa semana.

Cristina De Luca & Silvia Bassi

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