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Uma mulher. Escrevendo. Seus problemas. E mudando a internet brasileira.
Ano 5, edição 70
                              
                             A Estrada Perdida, filme do David Lynch

Meu avô morreu duas vezes, meu pai tinha duas mães, minha mãe tinha duas datas de aniversário,e eu fui amiga por muito tempo de dois pares de gêmeas. Segundo Marx o capitalismo cria as condições da própria contradição e também a história se repete, primeiro como tragédia, depois como farsa.

Minha irmã é o doppelganger da minha mãe, assim como os que existiam no Black Lodge de Twin Peaks. Eu escrevo num teclado onde eu não consigo colocar trema no a, então deveria desistir de escrever palavras alemãs.

Mas a minha irmã é um doppelganger da minha mãe quase no sentido literal da palavra, é o duplo dela que anda por aí, com uma personalidade oposta, e assumindo a forma que a minha mãe tinha quando eu era criança. Minha mãe morreu, mas minha irmã não, e hoje quando eu olho fotos antigas fico pesando no quanto minha mãe se parece com Thaís, que hoje é a referência, e não o contrário.

Eu conheci meu marido em duas circunstâncias muito diferentes, a primeira como farsa, a segunda como história fofinha de final feliz. Tivemos duas celebrações de casamento em duas cidades bem distintas.

Freud escreveu sobre o duplo em um trabalho sobre o Uncanny, que eu não li, citando um tal de Otto Frank, que eu também não li.

Uncanny é aquela coisa familiar e estranha ao mesmo tempo, que gera uma perturbação, porque não deveria estar lá.

Eu não tenho um duplo, a não ser que você considere a semelhança física com a Miss Universo 63 Ieda Vargas. Deixo aqui em vídeo porque a semelhança é mais uncanny ainda com ela em movimento.

Eu pareço muito com meu pai, mas ele é um cara, usa barba e os aspectos secundários vão distraindo da semelhança.

Acho que o meu duplo sou eu mesma, quem eu sou e quem eu poderia ter sido, como no poema A trilha que não tomei (The road not taken) do Robert Frost e o Burnt Norton do T.S. Eliott ("O que poderia ter sido e o que foi apontam pra um só lugar, que é sempre o presente"- tradução minha).

Saramago tem uma história sobre duplos, que é O homem duplicado. Dickens também gostava muito de duplos, ao ponto do absurdo em O conto de duas cidades, mas que também tem um dos finais de livro que mais me emocionam.

E sim, O retrato de Dorian Gray também é o duplo literário que vem primeiro à minha cabeça. O outro é O médico e o monstro.

Em narratologia tem um outro duplo menos estranho, que só existe em análise, é o personagem foil, como papel alumínio mesmo, que fica na história pra ressaltar pelo contraste uma característica importante do personagem principal.

A primeira coisa que me apareceu na cabeça enquanto eu estudava isso na faculdade, e que continua vindo, é a Maligna em oposição à Teela no desenho antigão do He-man. Repara como até as roupas delas são parecidas, além da semelhança física que todo mundo tinha naquele desenho de animação limitada.

O duplo que eu imagino de mim que é a versão melhor, a que todo mundo esperava e eu queria. Eu é que sou a degeneração, o doppelganger, a criatura do Frankenstein solta pelo mundo, o David Copperfield do livro homônimo, eternamente comparado com a irmã perfeita  que nunca existiu.

Mas enfim, antes ser um doppelganger que nada. No fim das contas só quem existe realmente sou eu.


***


O que eu estou fazendo:
  • Ouvindo músicas setentistas do Elton John, porque à exceção de Your Song (que eu conheci em Moulin Rouge) pra mim ele já tinha nascido velho fazendo a trilha sonora de o Rei Leão. Agora eu amo Rocket Man e Tiny Dancer, e mal posso esperar pra me decepcionar com Rocketman quando entrar em cartaz no fim do mês
 
  • Lendo Valsa Brasileira da Laura Carvalho pra entender um pouco melhor a economia dos últimos anos. O livro é muito legal, e muito didático, até pra mim que mal entendo como funcionam essas flutuações de taxas de juros. Dói ler a política do governo Dilma comparada à do Reagan? Dói sim, mas o que dizer, a verdade mais excruciante é melhor que a ignorância
 
  • Lendo O mundo povoado pelos demônios do Carl Sagan pra reunião do clube do livro dia 01/06. Sagan era um otimista de achar que se todo mundo tivesse conhecimento de ciências o pensamento mágico iria deixar de existir. E dentro desse otimismo ele relata muitas curiosidades, faz humor e mostra pra gente a paixão que ele sentia tanto pela ciência quanto pela divulgacão científica. Leitura super interessante e ainda mais necessária nesses nossos tempos de obscurantismo
 
  • Assistindo à segunda temporada de This is Us que acabou de chegar no Amazon Prime, e reassistindo a primeira pra garantir que Lucas ficasse tão viciado quanto eu. É aquela série que te faz sofrer e em seguida te oferece uma coisa fofinha, morde e assopra, traça paralelos com a própria vida de todo mundo, e por isso faz a gente chorar muito mais. E eu acho uma série maravilhosa porque o masoquismo é uma parte integrante da minha personalidade
 
  • Fazendo as contas da fortuna que vai ser gasta na viagem que eu e Lucas vamos fazer pros EUA e Canadá mês que vem. As partes mais caras já foram compradas, mas mesmo assim me dá apreensão pensar no que ainda falta fazer usando esse dólar que já passou de 4 reais

***

Ontem eu me sentia muito péssima, tanto de dor quanto de humor. Acabei fazendo uma mistura de tramadol com rivotril, o que não é recomendável, mas também não é perigoso. Até escrevi a maior parte dessa edição quando os remédios começaram a bater.

Eu não quero ficar tendo que recorrer aos meus remédios de emergência o tempo todo, então resolvi dar um pequeno passo pra trás e aumentar um pouco a dose da pregabalina. A dor deve melhorar, eu espero, e só quando eu ficar firme nos exercícios eu tento diminuir de novo.

Hoje eu fui pra yoga, porque eu acordei animada e sem dor. Mas como eu ainda estava dopada não consegui fazer nada que exigisse equilíbrio, só exercícios de força e de alongamento.

Mas o importante é que eu fiquei e com a sensação de que os meus projetos de vida estão avançando.

Espero que os seus também.


Eu estou planejando mandar essa newsletter uma vez por semana, como uma forma de terapia pra mim mesma. Mesmo que eu nem tenha lá muita coisa a dizer, é importante manter o hábito.

Beijo grande e até semana que vem!
Essa aí da foto é Camila, que sou eu.
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