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Você não pode aprender tudo online
A afirmação de que é possível aprender tudo na internet não é nova. Faz alguns anos que os vendedores de sucesso repetem esse discurso para convencer pessoas de que não precisam de curso superior, é melhor investir apenas 2 mil reais no curso de empreendedorismo criativo que dura apenas 3 dias e se comprar agora, sai apenas por R$ 1,499.
Mas depois que o governo anunciou os cortes no orçamento da educação esse discurso voltou com muito mais força, acompanhado de um irônico sorriso amarelo. "Está reclamando da falta de universidade? Deixe de ser preguiçoso e aprenda tudo online"
E existe sim matéria de universidade em site grátis de curso online, e muito conteúdo disponível na Internet. Mas aprendizado não é conteúdo. É possível ler todo conteúdo da Wikipedia e não servir de nada. Porque para o conteúdo fazer sentido, ele deve seguir uma linha lógica.
Conteúdo por conteúdo não ensina nada, é preciso um processo que faça a conexão de acordo com as falhas e necessidades de determinado tema. Se alguém tentar aprender Cálculo I no Coursera, mas não aprendeu função e equação no ensino médio. É impossível sair da primeira aula.
E aqui, quando falamos de matemática avançada, temos um problema muito comum nessa linha de pensamento. Educação não é apenas uma ferramenta para executar um trabalho. Por mais que esse seja um dos objetivos, existe algo muito além no percurso oferecido pela universidade.
Um exemplo muito comum é na programação. Conheço incontáveis programadores muito bons e que nunca pisaram numa faculdade. Eles conseguem atuar como Sênior na maioria das empresas e desempenhar um excelente trabalho. Mas existem graves falhas no conhecimento que o mercado não exige e que muitos deles jamais vão precisar encarar, mas são conhecimentos que para o desenvolvimento da computação como um todo faz diferença.
Ninguém aprende 3 anos de matemática num curso de ciência da computação porque é divertido, mas porque métodos avançados exigem esse conhecimento. E mesmo quando não exigem a matemática em si, vão se apoiar na lógica construída ao fundo.
O papel da universidade é exatamente organizar esse conhecimento de uma forma compreensiva, apresentando pré-requisitos e construindo ferramentas que poderão ser utilizadas no futuro quando necessidades maiores surgirem. E longe de mim dizer que o modelo é perfeito, mas a falta dele é ainda mais difícil.
Se apenas o conteúdo disponível fizesse essa diferença, estudar na Anhanguera, USP ou Harvard não faria diferença, mas na prática faz.
É difícil aceitar, mas aprender conteúdos soltos na internet trazem um vício ruim, a percepção de conhecimento. É o mesmo problema de alguém que assiste um TED sobre psicologia e acha que de fato entende psicologia. Se você não sabe o que não sabe, o que sabe parece ser tudo o que existe.
E nesse ponto a estrutura universitária faz muita diferença. É muito fácil assistir um vídeo de 40 minutos e achar que aprendeu alguma coisa quando não tem ninguém testando este conhecimento. Quem lembra da faculdade ou dos últimos anos de escola pode lembrar quantas vezes achou que tinham compreendido algo e o professor mostrou que estava errado.
E sem este processo de teste; sem tentativa, erro e acerto, não existe fixação de conhecimento.
Vai assistir inúmeros vídeos, comprar incontáveis cursos, mas meses depois não consegue lembrar de mais nada do que estudou. Apenas frases prontas e conceitos clichês.
E mesmo que alguém me diga que quer apenas aprender atividades para ter um trabalho e pagar as contas no fim do mês, a notícia também não é boa. Recrutadores ainda optam por pessoas com nível superior, nem que seja por conveniência. Se existem milhares de pessoas procurando uma vaga, eu posso escolher alguém tão bom quanto, mas que tenha nível superior.
E nem preciso falar de todo o resto do processo educacional: oficinas, seminários, trabalhos em grupo, acesso a pessoas mais inteligentes que você e discussões em grupo sobre conceitos. É na universidade que fazemos nossos primeiros contatos profissionais e que criamos nosso primeiro laço para o futuro. Nem que seja aquele amigo que vai indicar para uma vaga na firma.
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