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A filosofia nunca esteve tão viva
Em 2011, durante uma palestra para o Google, o renomado físico Stephen Hawking anunciou para o público: a filosofia está morta.

Para o físico, as grandes mudanças na forma que o universo funciona já estavam sendo respondidas pela ciência de base, principalmente pela física.

Quando entrei no curso de filosofia, muitos amigos que fizeram física comigo questionaram sobre a função prática da filosofia. Seguindo a mesma linha de pensamento levantada por Hawking, por que estudar ideias antigas e que não fazem diferença num mundo regido pelos dados e pela ciência?

Este tipo de visão em relação ao que constitui a filosofia normalmente é limitado pela falta de compreensão do tamanho do universo filosófico e em quantos pequenos ramos a filosofia se desenvolve. Filosofia é, antes de mais nada, o lençol do pensamento humano que cobre tudo o que é feito, discutido ou interpretado.

Quando estudamos filosofia da ciência, por exemplo, estudamos inferência à melhor explicação. Como decidir entre duas ou mais teorias para um fenômeno, que explicam igualmente bem, mas possuem origens e organizações completamente diferentes?

Todos que acharam que a filosofia não tinha mais nada para acrescentar ou interferir na realidade, estão sendo pegos de surpresa por discussões que haviam sido resolvidas há séculos.

Porque, infelizmente, as pessoas seguem não confiando em dados, números ou evidências. O que elas confiam é na argumentação que soa mais compreensível. E para o público geral, compreensível significa coerente. É assim que pessoas que estudaram os conceitos científicos na escola, mas não passaram pelo processo filosófico de compreensão desses conceitos, hoje flertam com o terraplanismo.

Quando o questionamos pessoas que acreditam em teses absurdas, a resposta comum é que os cientistas são arrogantes e se acham deuses. Para os cientistas, isso não deveria afetar o impacto das evidências. Mas o publico geral não está se importando com fatos.

O mundo está sendo dividido em ideologias, e de um lado, a bandeira que carrega multidões é a negação da ciência. Os cientistas seguem ignorando a mudança e apoiando-se em que "a ciência está sempre certa", e que isso deveria ser o suficiente para frear o negacionismo. Do outro lado, líderes mundiais estão demitindo cientistas por não concordarem com seus dados, sucateando universidades e perseguindo fontes de conhecimento.

O que antes era um grupo de malucos negando que o homem pisou na lua, hoje são presidentes e ministros negando o aquecimento global. As próprias pessoas que deveriam se organizar para reduzir os problemas, são as mesmas que estão negando que esses problemas existem. E a ciência, nunca importou menos nesse processo.

Com a ineficiência da ciência em conseguir que as pessoas entendam conceitos difíceis e compreendam de forma elementar o que homens de jaleco levantando dados em laboratórios estão tentando dizer, o público segue ouvindo aqueles que tem paciência para conversar com quem a ciência chamava de burro.

As armas que distorcem o que a ciência diz e implantam ideias como a volta do trabalho escravo, trabalho infantil, negação do aquecimento global, os supostos lados positivos do nazismo, terraplana, antivacina, negação do desmatamento da amazônia e as milhares de teorias que estão na mente dos políticos que estão no poder, são puramente filosóficas. O manual de argumentação desse grupo é basicamente o que já víamos na Grécia Antiga, com os sofistas.

O uso da linguagem, os truques de argumentação e todo jogo de contaminação de opiniões é mais antigo do que a própria civilização na era moderna. A filosofia, que supostamente estava morta, volta a ser a única arma para argumentar e iluminar pensamentos. A única saída agora não é mostrar que a ciência merece atenção, mas trabalhar na capacidade do pensamento crítico, a única capaz fazer pessoas enxergarem os erros dos argumentos tendenciosos.

No filme Obrigado por fumar (2005), o lobista da industria de tabagista trabalha para convencer o país de que cigarros não fazem mal. Em uma das cenas, o filho do lobista pergunta para o pai como ele faz quando está errado.

- O que você faz quando está errado?
- Eu nunca estou errado.

- Você não pode estar sempre certo
- Se seu trabalho é estar certo, você nunca está errado.
- Mas o que acontece se você está errado?
- Certo, vamos dizer que você está defendendo chocolate, e eu defendo baunilha. Eu digo para você que baunilha é o melhor sabor de sorvete. O que você diz?
- Não, é o de chocolate.
- Exatamente. Mas você não pode ganhar essa discussão. Então eu pergunto: Chocolate é um sabor que supera todos os outros?
- Sem dúvidas. É o melhor sorvete. E eu não pediria nenhum outro.
- Então, é tudo chocolate para você?

- Sim, chocolate é tudo o que eu preciso.
- Mas eu preciso mais do que chocolate, inclusive preciso mais do que baunilha. Eu acredito que precisamos ser livres para escolher quando falamos de sorvete. E essa é a definição de liberdade. 
- Não é disso que estamos falando.
- Eu sim. É disso que eu estou falando.
- Mas isso não prova que baunilha é melhor.
- Eu não preciso. Eu provei que você está errado, logo, eu tenho razão.
- Só que isso ainda não me convenceu
- Mas eu não quero convencer você, eu quero convencer os espectadores.


Os debates políticos que vemos todos os dias, a guerra de hashtags e argumentações entre governo e especialistas seguem essa exata lógica. Enquanto a ciência e os pró-ciência estão batalhando para provar que estão certos, negacionistas estão participando de um outro debate, convencendo o público que a ciência não merece ser ouvida.

É assim que um ministro nega o aquecimento global, dizendo que passou frio visitando Roma. Os cientistas riem, mas o público geral, que também não entende como funciona a parte cientifica, se identifica com o argumento. O ministro mostra para o público que a ciência está errada e que, logo, ele deve ter razão.

A resposta para esse embate pode chegar tarde demais, caso os cientistas não entendam que essa não é uma briga que está no campo dos dados, mas no campo do uso da linguagem, da argumentação e do debate. Para cada afirmação absurda que cientistas se debruçam em dados, para fazer piadas sobre o que é dito. Milhões se identificam com a pessoa que recebeu as piadas, sentem-se ofendidos e se afastam ainda mais da ciência.

A batalha não é sobre conhecimento e informação, mas sobre convencimento e paciência.

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Para entender como chegamos neste ponto, The Great Hack é crucial.

Gostaria de pedir desculpas pela demora no envio dessa newsletter, comecei a escrever este texto ainda na quarta-feira, mas as viagens de trabalho acabaram me impedindo de terminar.

Espero que compreendam!

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