E ainda não é desta que chegam os tweets editáveis.
7 de junho de 2021
Como pode um negócio adaptar-se à pandemia quando a transformação digital não é uma opção? A história da AMC, a maior cadeia de cinemas do mundo, está longe de estar terminada, mas conta com a participação de três "atores" que fizeram parte do nosso último ano e meio de vida.
O streaming, no papel de um dos vilões que afasta audiências das salas de cinema
O vírus, que protagoniza o outro vilão que fecha as salas de cinema em todo o mundo e causa o medo nas audiências
Os "investidores do Reddit", a representar os heróis que utilizam a sua força para revitalizar um negócio para o qual havia pouca esperança
Se analisarmos os gráficos da valorização de algumas empresas cotadas em bolsa no último ano e meio, é fácil encontrar um padrão: na semana de 13 a 19 de março de 2020, muitas apresentam uma quebra significativa no preço das suas ações. Não é uma coincidência este ser precisamente o período que se seguiu à declaração do Covid-19 como uma pandemia, a 11 de março. No entanto, no caso da AMC, a maior cadeia de cinemas do mundo, o declínio já se verificava muito antes de um vírus aparecer e “encerrar” as suas salas por tempo indeterminado.
No início de 2017, as ações da empresa valiam cerca de 26 dólares. No período homólogo de 2020 (pré-vírus), o preço já estava nos 7 dólares, mesmo depois de a AMC ter apresentado, em 2019, 3.3 mil milhões de dólares em receitas, o melhor resultado dos quinze anos anteriores. Três fatores ajudam a explicar este fenómeno:
Para cobrir os custos que gerir 1.000 cinemas no mundo inteiro implica, a AMC tinha contraído um nível de dívida significativo, que colocava a autonomia da empresa em risco caso não a conseguisse pagar.
Havia, de ano para ano, menos pessoas a ir ao cinema e as receitas recorde só estavam a ser possíveis graças a uma subida de preços generalizada, também ela pouco sustentável e com um impacto negativo nas audiências do “grande ecrã”.
O streaming fazia com que cada vez mais pessoas decidissem ficar no conforto do seu sofá e que começassem a ser mais seletivas no tipo de filmes que realmente valiam a pena o esforço financeiro do cinema.
Como sobreviver à pandemia
2020 foi um ano dramático para a AMC, com um decréscimo de 80% nas suas receitas.
Por um lado, depois de meses de salas vazias, a recuperação da indústria praticamente não aconteceu. As portas voltaram a abrir no verão, mas a desconfiança dos clientes face ao perigo do vírus e o medo dos estúdios de Hollywood de lançarem um filme cujo orçamento não iam conseguir recuperar fez com que a situação difícil que AMC atravessava não melhorasse.
Por outro lado, a transformação digital que a maior parte dos negócios foi “obrigada” a fazer, não estava à disposição da empresa dado que o online já incluía os serviços (Netflix, HBO, Disney+) que eram os seus principais rivais (e onde muitos estúdios estavam a colocar os seus filmes para recuperarem o investimento). E, mesmo que quisesse ir por esse caminho, ia exigir um investimento que não tinha meios para fazer devido às restrições financeiras que já trazia do passado.
Solução: ir buscar financiamento para as suas operações aos mercados, emitindo mais ações da empresa para serem negociadas em bolsa. E foi isso que fez na segunda metade de 2020 e no início de 2021. Antes da pandemia, a AMC tinha cerca de 52 milhões de ações suas em circulação. Em junho de 2021, tem mais de 500 milhões.
Afinal, o segredo era ser um meme
No início de 2021, a história da GameStop encheu as capas de todos os meios de comunicação social. Resumidamente, aconteceu o seguinte:
Um conjunto de investidores anónimos identificou algumas empresas que tinham um elevado nível de short-selling: um número significativo de investimentos a apostar na sua desvalorização. Entre elas estava a GameStop (que se tornou o nome mais sonante), mas também outras como a Blackberry, a Nokia e, claro, a AMC. Estas ganharam a denominação de meme stocks, ações sem razão aparente para crescer sem ser o facto de se tornarem um dos tópicos mais discutidos nas redes sociais.
Comunidades de investidores individuais em plataformas como o Reddit, o Telegram e o Twitter começaram cada vez mais a incentivar o investimento nestas empresas, fazendo subir o preço das suas ações e obrigando quem tinha investido “contra” a replicar o comportamento para minimizar as perdas.
De seguida, o valor destas empresas, sem que algo o justificasse, disparou e criou um frenesim nos mercados...
Na semana passada, foi a vez da AMC ter o protagonismo. Depois de anunciar que ia emitir mais ações para recolher 230 milhões de euros (que ia utilizar para expandir o negócio), o valor das ações da empresa atingiu os 72 dólares, levando a que passasse a valer mais 3600% do que aquilo com que tinha começado 2021 (chegaram a valer 2 dólares em janeiro). Dada esta volatilidade, surgiram novamente vozes a demonstrar preocupação com fenómenos como este e com os perigos que podem representar. 80% das ações da AMC, após sucessivas emissões, já estão nas mãos de investidores individuais e não de grandes fundos de investimento e, nos últimos dias, as transações de ações da AMC já ultrapassaram os 7 mil milhões de dólares (10x as receitas da AMC em 2020).
A AMC, por seu lado, não parece muito preocupada e deu indicações de até querer tirar proveito deste “movimento”. Para isso, criou o AMC Investor Connect, uma plataforma de comunicação com os investidores da empresa na qual estes terão direito a benefícios como pipocas grátis e convites para ante-estreias dos seus filmes favoritos.
No futuro… até existem boas notícias para o cinema e para a AMC. As campanhas de vacinação estão a dar confiança às audiências para se colocarem diante de um grande ecrã novamente e, nos EUA, as receitas de filmes como “Godzilla vs Kong” e “Quiet Place 2” já estão a atingir níveis pré-pandémicos.
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Retirar do Carrinho
Ciberdrama em carne e osso
Na semana passada, soubemos de uma história que nos provou, mais uma vez, que nenhum negócio está a salvo de um ataque de hackers. A JBS, a maior produtora de carne do mundo, teve de parar as operações na América do Norte e na Austrália depois de um ciberataque ter impedido o acesso ao seu sistema informático. A empresa norte-americana acredita que a operação pode ter sido orquestrada por uma organização criminosa com sede na Rússia.
Porque é que isto importa? O problema resolveu-se relativamente rápido, uma vez que terá durado cerca de um dia. No entanto, o negócio nos Estados Unidos representa cerca de metade da receita da JBS e quase 20% da produção de carne bovina. Portanto, uma paralisação temporária das fábricas, por mais curta que fosse, “deixaria sempre mossa”. Se o problema se tivesse estendido por várias semanas, ou até mesmo apenas por alguns dias, podia ter danificado as relações da empresa com vários retalhistas, que corriam o risco de não ter um bem essencial como a carne nas suas nas prateleiras. A si, juntar-se-iam ainda as cadeias de fast-food, que exigem um fornecimento contínuo do mesmo produto.
Mau no prato e na carteira. Esta interrupção da produção ameaçou disparar os preços da carne (já em alta). Nos EUA, em abril, o preço médio da carne subiu cerca de 5,1% em comparação com o mesmo período do ano passado. Em causa está a escassez de mão-de-obra, a reabertura do setor da restauração, o aumento do custo dos transportes internamente e na exportação de carne para outros países.
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Vi algures na Internet
Mais filhos para bem da economia
A política de um único filho na China foi implementada no início da década de 80, com o objetivo de reduzir a população e dar uma resposta mais sólida às necessidades dos cidadãos. Em 2015, esta política deixou de estar em vigor e, hoje em dia, o Estado chinês está mesmo a incentivar a que as famílias tenham não dois, mas três filhos. O anúncio foi feito na semana passada pelo Governo daquele que é o país mais populoso do nosso planeta (18.7% da população mundial).
Porquê? Em 2021, houve “apenas” 12 milhões de nascimentos na China. O número pode parecer elevado, mas representa uma queda 18% em relação ao ano anterior, num contexto de quatro anos consecutivos de declínio. Este fenómeno tem impactos profundos na economia e produtividade do país, uma vez que o facto de haver menos bebés significa que haverá também menos futuros trabalhadores numa potência mundial cuja população ativa é a maior do mundo. Esta redução da população jovem também prejudica a qualidade de vida dos mais velhos, já que os impostos dos mais novos alimentam os serviços públicos para os reformados.
O problema: por muito que o Governo chinês queira reverter esta tendência e dar mais sustentabilidade à sua Segurança Social, não está fácil fazer com que nasçam mais bebés. A política de dois filhos não teve bons resultados e espera-se que a política de três filhos também não mude o panorama.
Editar os tweets? Ainda não é desta
Pagar por um serviço como o Twitter pode parecer estranho. Mas a rede social anunciou, na semana passada, o seu serviço de subscrição - o Twitter Blue.
O que traz de novo?
A possibilidade de cancelar um tweet, antes que este seja efetivamente publicado.
Um cronómetro que agenda o momento para apagar um tweet.
Uma pasta de favoritos que agrupa tweets por categorias, para que seja mais fácil encontrá-los noutra ocasião.
O “Modo Leitor”, que agrupa os tweets de uma só página e que os transforma em texto de fácil leitura, com os trendingtopics no Twitter, sem que seja necessário saltitar de publicação em publicação.
Recursos estéticos, tais como as novas opções de tema de cores ou a possibilidade de mudar a cor do próprio ícone da aplicação.
Maior acessibilidade e rapidez na resolução de problemas relacionados com a conta (à exceção das denúncias de abuso ou assédio, que continuam a ter de passar pelos canais clássicos de resolução de problemas da plataforma).
Contudo, para já, a funcionalidade não vai estar disponível em Portugal… nem nos Estados Unidos (por uma vez na vida). É na Austrália, com um custo mensal de 4,49 dólares australianos, e no Canadá, com um custo mensal de 3,49 dólares canadianos, que vai ser lançado o serviço.
Virar o negócio do avesso. Ter um serviço de subscrição pago é uma mudança importante no modelo de negócio do Twitter. A empresa tem tentado viver da publicidade, mas não é fácil concorrer com o Facebook e o Google nesse aspeto. Em maio, a rede social começou a apostar no serviço Tip Jar (em português, pote de gorjetas), que dá a possibilidade aos utilizadores de enviar dinheiro aos seus criadores de conteúdo favoritos. Prevê-se ainda que seja lançado o Super Follows, uma ferramenta que permite aos utilizadores pagarem por serviços extra, tais como tweets bónus, grupos da comunidade ou newsletters.
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Projetos que ficaram debaixo de olho 🤩
Uma app, todas as funcionalidades. O serviço da Kitch que quer ajudar os restaurantes na transição para o digital sem que estes percam a sua independência. A startup portuguesa, que recentemente levantou uma ronda de investimento de 3,25 milhões de euros, dá apoio em todas as frentes, das lojas online aos serviços de entrega ao domicílio. Conheça melhor a sua história aqui.
Uma espécie de Netflix, mas de cervejas. Este é o conceito da Hops Club, um serviço de subscrição de cervejas artesanais. O objetivo é fazer com que estas se tornem tão presentes no nosso dia a dia quanto as cervejas clássicas. Saiba mais sobre esta empresa e utilize o código newsbigidea10 para ter um desconto de 10% numa compra na loja online da Hops Club.
Analisar a concorrência. "Manter os amigos por perto e os inimigos ainda mais" é um ditado que também pode ser aplicado ao mundo empresarial. A SEMRush permite que possa comparar o tráfego do site da sua empresa com o dos seus mais diretos concorrentes, relativamente à performance em diferentes canais, em SEO e ainda em métricas como o PPC (pay per click). Faça o free trial aqui. *
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É só mais 1 minuto ⌛
Um imposto global. Os ministros das Finanças que compõem o G7 anunciaram o apoio a uma legislação que criasse um imposto mínimo de 15% a multinacionais, em qualquer país no qual operassem.
WWDC. A conferência de developers da Apple começou hoje e a empresa de Tim Cook apresentou algumas novidades.
That’s my spot. Um lugar de estacionamento em Hong Kong foi vendido por 1.3 milhões de dólares.
Empresas.De acordo com a Bloomberg, pela primeira vez, todos os Conselhos de Administração das empresas no S&P 500 têm, pelo menos, uma mulher.
Unicórnios. Cada vez menos raros, de acordo com a CB Insights, já existem 700 startups com uma valorização superior a mil milhões de dólares.
Giveaways. Uma investigação da Vox sobre as campanhas promocionais no Instagram, cujo vencedor raramente é conhecido.
Mundo. Como cresceu a população nos últimos 12 mil anos? Veja aqui.
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Dois dedos de conversa
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