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Newsletter FOLHA #1

Eu sei, essa newsletter demorou a sair. Tanto que a estação mudou
e decidi não escrever sobre urtigas, pois a época de colheita ideal passou.
Quero é falar de rosas!


Minha relação com a rosa é muito recente. Como criatura tropical que sou, amante de flores extravagantes tipo a helicônia, confesso que nunca liguei muito pra essa flor. Conheci Dona Rosa primeiro através da comida, e só décadas depois aprendi sobre suas propriedades medicinais.

Essa planta é antiquíssima; fósseis mostram que há quarenta milhões de anos a rosa já estava aqui. Saiu da China e do Oriente Próximo para o mundo. Não falta literatura sobre seus usos medicinais em diferentes épocas, por várias civilizações. Os antigos romanos usavam-na para embelezar ambientes, em guirlandas durante seus banquetes para evitar bebedeiras e até para tratar raiva (daí o nome da espécie Rosa canina). Da rosa pode-se fazer tintura, vinagre, xarope, essência floral, elixir, mel medicado, licor, doces, hidrolato, pó, infusão, cremes, óleo macerado e essencial. O óleo essencial de rosa é um dos mais caros do mundo, um frasquinho de 5 ml custa 300 euros. Isso porque essa flor contém pouco óleo essencial: de seis toneladas de pétalas destila-se apenas um quilo de óleo. Se encontrares ó. e. de rosas a um preço acessível, podes ter certeza que se trata de um produto adulterado. Felizmente, a água de rosas — que é o mesmo que hidrolato ou hidrosol de rosas — não é cara e também possui propriedades maravilhosas. Em Portugal estão à venda em lojas de produtos indianos e bio. No Brasil, em empórios árabes. Vale dizer que a verdadeira água de rosas não é cor de rosa, é transparente, e não deve conter nenhum ingrediente além de rosas. Há muita água de rosas fake por aí.

Pétalas, água ou xarope da rosa podem ser adicionados à praticamente qualquer sobremesa, e também à pratos salgados. Busque inspiração na cozinha indiana, árabe e iraniana/persa. Rosa combina com côco, tapioca, arroz, pistache, mel, frutas da sua família — pêssego, nectarina, ameixa, alperce. Do fruto, azedinho, pode-se fazer geleias, xaropes e licores, além de infusões. Todas as centenas de espécies e milhares cultivares são comestíveis, mas nem todas são doces e aromáticas. Para saber, é preciso sair cheirando e provando. Mas atenção: nunca utilize rosas compradas na floricultura para fins culinários ou medicinais, elas vêm carregadas de pesticidas.

Do ponto de vista medicinal, a rosa pode ajudar-nos muito, tanto a nível emocional como físico. Podes começar a agradecê-la desde já. Adstringente, aromática, refrescante e calmante, sua flor é utilizada para aliviar problemas “quentes”, ou excesso de Pitta, na Ayurveda. “Quente” remete à excesso, inflamação, irritação, raiva, vermelhidão. Alguns exemplos: pele inflamada ou queimada de sol, conjuntivite, calores da menopausa, diarreia, rosácea, acne, tosse com muco, alergia, irritabilidade, coração cheio de ódio, ataques de raiva. A rosa pode ajudar-nos a recuperar a libido perdida, ao deixar-nos mais doces e menos negativos. Beber uma infusão de rosa, várias vezes ao dia, quando o mundo parece estar desmoronando, acalma e dá coragem. Sem dúvida uma planta para consumir livremente durante esses tempos de incertezas e ascensão da extrema-direita.

Os frutos são ricos em vitamina C e flavonoides, que são compostos antioxidantes e anti-inflamatórios. Uma ótima fruta (grátis!) para colher no outono, congelar ou secar e consumir na forma de infusão durante o inverno.

Não só as pétalas e frutos tem propriedades medicinais. O famoso óleo de rosa mosqueta, prensado a partir das sementinhas dos frutos, é único entre os óleos vegetais. Uma maravilha para suavizar manchas, estrias, cicatrizes e linhas de expressão. É um óleo caro, pois sua extração é muito laboriosa, mas vale cada cêntimo. A rosa aparece, em diferentes formas, nos seguintes produtos FOLHA: óleo facial, creme hidratante e grãos esfoliantes.

Poderia preencher mais duas páginas, mas fico por aqui. Deixo o convite para que inicies uma bela amizade com a Rosa, além de duas receitas simples para dares o primeiro passo ; )

Obrigada e até breve,
Marcella

Óleo corporal de rosas

Colha uma quantidade generosa de pétalas das rosas mais aromáticas que encontrar. Não colha a flor inteira pois o receptáculo é o futuro fruto. Espalhe as pétalas numa superfície e deixe-as murchar durante uma noite para eliminar parte da água que existe na planta. No dia seguinte encha um frasco com as pétalas grosseiramente picadas e cubra com óleo de amêndoas. Deixe macerar por 3 a 4 semanas ao sol e filtre com um pano fino. O processo é muito simples, mas há alguns detalhes importantes:

~ Use um frasco do tamanho certo. Quanto mais ar no interior, maior probabilidade do óleo estragar.
~ Envolva o frasco com um pano ou papel escuro para evitar expô-lo à luz direta.
~ Assegure-se que todas as pétalas estão submersas no óleo ou pode aparecer mofo. Cheque umas duas vezes por semana e vire o frasco para misturar o conteúdo.
~ Ao filtrar, não esprema excessivamente as pétalas para que a água ainda presente nelas não passe para o óleo.
~ Adicione vitamina E na proporção de 1% do volume total. É bom pra pele e previne a oxidação do óleo.

Passe no corpo todo após o banho, na pele ligeiramente molhada. Aproveite para se presentear uma auto massagem e pensar nas coisas boas que existem na sua vida hoje.

Gin tonic de rosas

É só adicionar 1/2 colher de chá de água de rosas por copo e decorar com pétalas frescas ou secas. Nesse caso vale a pena investir numa água tónica melhorzinha, como a Fever Tree, pois a Schweppes é muito amarga. Se não bebes álcool, experimente sem gin que fica gostoso na mesma.

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PS. Vou compartilhar minha bibliografia em cada newsletter, pois sei que há malta interessada. Não canso de dizer que para aprender herbalismo são necessários livros, livros e mais livros!
A internet é útil mas é também um poço de desinformação.

Practical Herbs, Henriette Kress
The Earthwise Herbal Vol. 1, Matthew Wood
A Modern Herbal, M. Grieves
Cosmética Natural, Fernanda Botelho e Dulce Morato

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