Nas últimas semanas a internet foi dominada por uma sigla: NFT. (Aparentemente) do dia para noite o mundo das artes digitais começou a “sediar” esse boom - que vem causando algumas transformações na maneira como nos relacionamos com a arte. Você ainda não tem ideia do que isso significa? Vem comigo que eu prometo que, aqui nessa newsletter, vou tentar te explicar e desmistificar o assunto.
Bom, vamos começar do começo. NFT, sigla em inglês, em tradução livre para o português, significa “Token não-fungível”. Essas três letras representam, portanto, a garantia de que aquela obra de arte digital não é fungível, substituível, mas sim única. Esse conceito de singularidade é ponto-chave nas artes desde que o mundo é mundo, digamos. O que faz o quadro “Abaporu”, da Tarsila, por exemplo, valer milhões de reais enquanto tantas reproduções suas na internet são de graça? Afinal, se trata da reprodução da mesma obra, da mesma imagem. Em suma, é por conta da singularidade material, temporal e histórica que o quadro físico sustenta.
O que o NFT fez foi levar essa noção de singularidade também para as artes digitais, na internet. Logo na internet, a terra dos compartilhamentos em massa, dos prints de tela, das imagens reproduzidas sem os créditos. O NFT funciona então, na prática, como um certificado de autenticidade da obra digital. É ele quem garante que um quadro X seja de minha posse, independentemente das reproduções que corram pela internet afora. Acho que agora ficou mais fácil, né?
O que complica é justamente o processo de compra e venda dessas obras. Ainda é muito complexo e caro tanto para os artistas cadastrarem seus trabalhos em um site de curadoria (onde essas obras são mais valorizadas), quanto para os possíveis compradores, já acostumados com a praticidade de gigantes como a Amazon - adepta do estilo clicou, comprou, chegou. Primeiro de tudo a pessoa tem que comprar o Ether (moeda virtual através da qual a maioria dos NFTs são comercializados) e isso, por si só, já é uma transação muito complexa e cheia de taxas altas - ainda mais para nós, aqui no Brasil, que negociamos em Real.
Quais são, então, as possíveis consequências desse boom do NFT a longo prazo para o mundo das artes (digitais ou não)? Há quem diga que isso não passa de uma bolha passageira que logo logo vai explodir. Mas há os que buscam imaginar um futuro mais democrático e mais “benéfico”, digamos assim, para o NFT. Alguns artistas e pesquisadores pensam que, passado esse boom inicial, com os valores das transações digitais diminuindo, os artistas iniciantes e independentes que não têm acesso às galerias terão mais oportunidades de expor e vender seus trabalhos.
Vejo que o preconceito com o NFT vem, em grande parte, do pensamento de que ele vai acabar com as formas de arte que conhecemos. Boom. Uma bomba mesmo. Fatal. Contudo, a história dos movimentos disruptivos de vanguarda na arte, como o Dadaísmo, por exemplo, nos mostra que não é bem assim. Mas isso é assunto para uma próxima newsletter...
Quem somos
Somos três arquitetos e professores de história da arte apaixonados. Nosso objetivo é mostrar a arte e a arquitetura através de narrativas do passado e, criando correlações estéticas e estilísticas, estabelecer uma interação ativa com o presente. A Arte (que) IN FORMA e TRANS FORMA.