A Tua Destra Me Ampara
A chave ao poder espiritual não é a autoconfiança, e sim, a dependência de Deus. O apóstolo Paulo descreveu essa força quando explicou sua maneira de lidar com obstáculos insuperáveis: “De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (2 Coríntios 12:9-10). Paulo conhecia bem as Salmos de Davi, que faziam parte importante das Escrituras que ele estudou desde sua juventude. Alguns dos mais importantes hinos de Israel refletem esse mesmo espírito de confiança em Deus nos momentos de vulnerabilidade. Salmo 63 é um desses.
O título do Salmo 63 atribui o hino a Davi e se refere à sua circunstância: “Salmo de Davi, quando no deserto de Judá”. Quando pensamos no contexto histórico, uma forte possibilidade é o tempo da fuga de Davi diante da revolta liderada por seu filho Absalão, quando Davi e seus homens leais “passaram o ribeiro de Cedrom, seguindo o caminho do deserto” (2 Samuel 15:23). Foi um momento de enorme tristeza na vida do segundo rei de Israel. Problemas com seus próprios filhos haviam mergulhado a nação que Davi amava em uma guerra civil. Absalão se levantou contra seu próprio pai em uma tentativa de golpe. Para evitar um banho de sangue em Jerusalém, Davi fugiu e deixou que Absalão tomasse a cidade. Coberto de vergonha e aparentemente fraco, Davi olhou para Deus e orou. Salmo 63 pode ser um exemplo das suas palavras nesse momento.
As palavras desse Salmo não são egoístas, nem focadas em pedidos feitos por Davi. São expressões de louvor e de confiança que Deus fará, como sempre faz, o que for melhor. Das profundezas da sua tristeza e fragilidade, Davi pronuncia versos ricos de adoração, desejando a exaltação de Deus e não honras para si.
Os primeiros versos expressam o anseio de Davi na busca da presença do Senhor. A figura do deserto embeleza suas palavras: “Ó Deus, tu és meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água” (verso 1). Mesmo no deserto, os pensamentos de Davi voltaram ao santuário de Deus, o lugar onde este recebia a adoração dos homens (versos 2 a 4).
A ansiedade de Davi achou resposta quando contemplava os atributos de Deus (versos 5 a 8). Ele foi bem alimentado, a sua alma farta, com seus pensamentos de Deus. Ele achou ajuda quando procurou o Senhor, refúgio debaixo das asas de Deus. A figura da proteção oferecida na sombra das asas de Deus aparece várias vezes nas Escrituras para mostrar sua benignidade para com os fiéis (alguns exemplos: Salmos 17:8; 36:7; 57:1; 61:4; 91:4). O próprio Jesus usou a mesma linguagem quando falou do desejo de salvar e abrigar seu povo (Mateus 23:37). Mas Israel fugia do Senhor e desprezava a proteção que Davi tanto desejava. Aceitar a proteção na sombra das asas de Deus exige uma atitude de humildade e submissão. Homens confiantes do seu próprio poder não buscam esse refúgio.
Davi também disse para o Senhor: “a tua destra me ampara” (63:8). Como a destra, ou mão direita, normalmente é a mais forte, a destra de Deus representa o poder da sua justiça. A destra do Senhor “está cheia de justiça” (Salmo 48:10). “A tua destra, ó SENHOR, é gloriosa em poder; a tua destra, ó SENHOR, despedaça o inimigo” (Êxodo 15:6). “A destra do SENHOR se eleva, a destra do SENHOR faz proezas” (Salmo 118:16). Quando a Bíblia fala da posição de Jesus à destra do Pai, ela afirma sua posição de autoridade (Salmo 110:1-2; Efésios 1:19-21; 1 Pedro 3:22).
Davi expressa sua confiança nessa salvação divina por meio do contraste entre o destino dos seus perseguidores, entregues ao poder da espada, e o rei fiel, feliz na presença de Deus (versos 9 a 11). O poder de Deus contra seus inimigos (versos 9 a 10) implica na proteção daqueles que estão em comunhão com ele, que é o motivo da alegria do rei (verso 11). Deus é o Salvador daqueles que, como Davi, buscam refúgio (Salmo 17:7).
O Salmo 63 reflete os profundos desejos de um coração que desejava a presença de Deus mais do que qualquer outra coisa.
Dennis Allan
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