Reforma, uma luta pela catolicidade

É comum pensarmos na reforma como um momento de divisão, mas será isso mesmo? Será que o mote da reforma protestante foi a saída da Igreja Católica Apostólica Romana, ou existe algo mais? Somos hoje uma igreja caracterizada pela divisão, ou podemos afirmar que existe ordem no corpo de Cristo? 

Nesse 31 de outubro comemoramos os 504 anos da Reforma e, ao contrário do que muitos pensam, não comemoramos a divisão, mas a união. Muitos criticam a igreja evangélica por ser uma igreja dividida, porém, colocar esse peso sobre os reformadores não é nada mais que injustiça. Embora o protestantismo tenha surgido de uma divisão, seu objetivo não era espalhar a igreja de Cristo em torno das mais diversas interpretações bíblicas. O Sola Escriptura não afirma que todos têm autoridade para interpretar a bíblia como bem entendem, muito pelo contrário, ele afirma que as Escrituras têm autoridade sobre todos os indivíduos e comunidades. Nossa interpretação bíblica deve ser coerente com o significado das escrituras, ou seja, ela é quem detém a autoridade. 

Deste modo, a reforma é um movimento de união. Somos convocados pelos reformadores a nos unirmos sob a autoridade das escrituras e assim vivenciar a verdadeira catolicidade. O termo católico não é restrito à Igreja Romana, ele denota a abrangência da igreja. Assim, a igreja protestante também se define como católica, e não só isso, mas também como Una, Santa e Apostólica. A verdadeira Igreja Católica não é aquela que se reúne ao redor do papa, do bispo, ou da cultura. A verdadeira Igreja Católica é aquela que se reúne ao redor das escrituras e esse era o desejo dos reformadores. 

Hoje somos lembrados que a diversidade cultural não atrapalha a unidade canônica, e mesmo igrejas com doutrinas diferentes apesentam o mesmo núcleo de fé. Vivemos em uma diversidade muito maior que Calvino e Lutero. Crianças são batizadas por imersão e aspersão, algumas igrejas praticam a salmodia enquanto outras têm em seu louvor os mais diversos instrumentos, existe aqueles que acendem velas e incensos enquanto outros nem usam vestes litúrgicas. Em meio a toda essa pluralidade podemos afirmar que somos um só corpo. Apesar das diferenças, cremos no mesmo Deus trino, e, por mais que haja algumas divergências, apresentamos a mesma fé. Assim, graças ao protestantismo, podemos viver tanto a verdadeira união, como a verdadeira catolicidade. 

Nessa semana comemoramos a comunhão provida pela Palavra de Deus e somos convocados à rendição completa perante essa Palavra. Assim como Calvino, Lutero e Bucer, abra sua Bíblia e deixe que ela governe sua vida. Assim como os reformadores, clamamos para que as Escrituras dirijam nossa comunidade. 

Pela coroa real do Salvador,

João Antônio Meireles Guimarães.