Copy
(international readers, please scroll down for the english version)

Veja este email no seu navegador / Read this email in you browser 
<<Nome>>,

Boa tarde! Embarcamos definitivamente na reta final do ano, embalados por mais um feriado no começo dessa semana.

Abro com um breve comentário sobre o fechamento do mês passado, e aproveito a semana desprovida de grandes notícias, para dedicar a carta à um único tema.

5 Meses

Outubro nos deixa da mesma forma que os últimos 4 meses o fizeram: com a sensação de que os mercados locais são dominados pela falta de uma âncora fiscal, e balançam ao sabor de notícias como as do “waiver day” no dia 19 (vide carta #110). Paira a percepção de que, como país, ficamos incrivelmente para trás, e deixamos passar a oportunidade da retomada, agora que a crise sanitária parece finalmente ter um fim à vista. Praticamente todas as classes de ativos de risco continuam a sofrer, tornando árdua a tarefa de preservar algum nível de retorno positivo no ano. A título de comparação, enquanto nossa bolsa local perde, no ano, 13% até o final de Outubro, o SP500 (um dos principais índices acionários americanos) entrega impressionantes 25% no mesmo período. Em dólar.

Carry I

A medida que caminhamos rapidamente, e novamente, para o mundo dos juros de 2 dígitos, volta à tona a discussão sobre o antigo “carry trade”. Exploro o tema aqui porque creio que é ao mesmo tempo didático, e talvez nos forneça pistas sobre o rumo do dólar, assim que nossa economia deixe de ser disfuncional. Cumpre-me iniciar com o eterno alerta do economista, e um dos pais do plano Real, Edmar Bacha: “O câmbio foi inventado por Deus para humilhar os economistas". Pois bem, o “carry trade”, ou mais especificamente “currency carry trade” se refere à prática de pegar dinheiro emprestado em uma moeda que paga juros baixos, e investir numa moeda que paga juros altos - um clássico exemplo de arbitragem financeira. Durante muito tempo, fomos um dos destinos favoritos deste tipo de transação, e, proponho aqui como exercício mental, que talvez estejamos nos candidatando à um replay. Permitam-me exemplificar este conceito de arbitragem, que nada mais é do que se aproveitar de ineficiências pontuais, onde um mesmo ativo pode ser encontrado por preços diferentes, em dois mercados distintos. O preço de um Macbook Pro 14” no Brasil, na loja da Apple, é de estonteantes 27 mil Reais. O mesmo notebook pode ser comprado numa loja nos EUA por 2 mil USD. Supondo um câmbio de 5,50 – e sem considerar questões alfandegárias e tributárias – a arbitragem de comprar este MacBook nos EUA, e revender no Brasil, resulta num impressionante lucro de 145%. O carry trade é mais ou menos isso, porém a mercadoria em questão é o conceito abstrato de “taxa de juros”. 

Carry II

Funciona assim: o investidor estrangeiro, normalmente profissional, pega dólares emprestados nos EUA, a taxas de juros bem módicas, vem ao Brasil, troca por Reais, e investe em títulos públicos Brasileiros, pagando gordas taxas de juros. Em um cenário de juros básicos (Selic) de 2 dígitos, a diferença entre as duas taxas confortavelmente abriga uma considerável margem de lucro, os custos operacionais, e o tão importante hedge cambial para proteger o investidor de variações na cotação entre Real e USD. E o que tudo isso tem a ver com a cotação da moeda, que era meu ponto original? Um dos subprodutos desta operação é um aumento no fluxo da moeda estrangeira para dentro da nossa economia. Mais dólares entrando (maior oferta), tende à pressionar a cotação da moeda para baixo, consequentemente apreciando o nosso Real. Estou aqui à fazer previsões sobre o futuro da cotação do dólar? Não. Mas, penso ser meu dever de ofício trazer a provocação. Em tempo, a percepção de uma bolsa barata, como alguns agentes de mercado parecem defender, poderia também ser um atrativo para o investidor externo, gerando um efeito positivo duplo: apreciação das cotações, e valorização da nossa moeda (devido ao mesmo efeito de entrada de capital estrangeiro). Só falta arrumarmos a casa.

A dica da semana é pela recém-lançada terceira temporada da série “You”, disponível no Netflix. Este thriller psicológico teve o lançamento da primeira temporada em 2018, e acompanha a vida de um bibliotecário serial killer. Brilhantemente estrelado por Penn Badgley, a quem seus filhos adolescentes certamente reconheceriam da série teen “Gossip Girl”, “You” é daqueles dramas envolventes, e que dá sentido ao neologismo maratonar. As temporadas são curtinhas, então ainda dá tempo do meu leitor tirar o atraso, sem sentir que tem que se casar com a série. A produção é um grande sucesso de crítica, e faz com a que a gente se pergunte como pode se ver torcendo por um assassino - por mais encantador que seja. O fascínio de nossa sociedade pelo culto ao anti-herói me intriga. Que tipo de implicações societárias e filosóficas isso traz para nossa condição humana? Não tenho a menor ideia, mas, se quiser jogar conversa fora sobre o assunto, é só me chamar para um café... ou mesmo para um episódio!

 

bom final de semana! -pedro.


ENGLISH VERSION
 
<<Nome>>,

Hello! The end of the year appears to be just around the corner, as we exit another short week due to a local holiday (the Catholic “All Souls´ Day”).

I start off with a brief commentary on the last month´s closing, but take advantage of the rather unnewsworthy week, to dedicate the letter to a single theme.

5 Months

October departs in much the same way as the last 4 months did: leaving us with the sensation that local markets are dominated by a lack of fiscal anchoring, and sway at every new gyration such as those displayed in the “waiver day” on the 19th (see letter #110). We´re left with the perception that, as a country, we are being left behind, missing the opportunity afforded by a comeback, now that there appears to be an end in sight to the sanitary crisis. Practically all risk-bearing asset classes have continued to suffer, turning the task of maintaining year-to-date positive returns into an arduous one. For the sake of comparison, while our local markets dropped, year to date, 13% at the close of last month, the SP500/TR delivers impressive 25% gains.

Carry I

As we, yet again, head rapidly into 2-digit interest-rate territory, the discussion around the infamous “carry trade” inevitably crops up. I explore the issue because I believe it is at the same time educational, and might provide us clues about where our local currency (the “real”) may be heading – as soon as our economy stops being dysfunctional. I kick off with the eternal alert offered by economist, and one of the fathers of the “real” plan, Edmar Bacha: “Exchange rates were invented by God to humiliate economists”. So: the “carry trade”, or more precisely “currency carry trade” refers to the practice of borrowing money in a currency that pays low interest rates, and investing in one that pays high rates – a classic example of financial arbitrage. For a long time, Brazil was one of the favored destinations for such a transaction, and, as a thought experiment, I propose we may be heading there for a rerun. I´ll use an example to explain arbitrage – which, in simple terms, is taking advantage of momentary inefficiencies, where an asset can be found for two different prices, in two different markets. The price of a Macbook Pro 14” at an Apple store in Brazil is a dizzying 27k reals. The same notebook computer can be purchased in the US for 2k (dollars). Assuming an exchange rate of 5.50 to 1 – and disregarding customs and taxation – the arbitrage consisting of buying this Macbook in the US and reselling it in Brazil, yields a jaw-dropping 145% return. The carry trade is basically the same concept, but the merchandise in question is the abstract concept of “interest rates”.

Carry II

This is how it works: a foreign investor, normally a professional player, borrows dollars in the US, at low rates, comes to Brazil, exchanges them for reals, and invests in Brazilian treasury bonds, paying fat interest rates. In a scenario where Brazil reaches 2-digit rates, as it has done in the in past, the difference between the two rates comfortably accommodates a considerable profit margin, the transactional costs, and the all-important currency hedge designed to protect against variations in the exchange rates between the two currencies. And what does this all have to do with our local currency, the real? One of the by-products of this operation is an increase in the flow of foreign currency into Brazil´s economy. More dollars coming in (greater supply), tends to force its price down, consequently appreciating the real. Am I making bold predictions about the future of our exchange rates? No. But I think duty requires me to foment the discussion. As an additional and related thought, the perception that somehow our local markets are “cheap”, as some market agents seem to believe, could also attract the foreign investor, and generate a doubly positive effect: rising stock prices, and appreciation of our currency (due to the same effect of foreign capital inflows). Now, all we need is to get our house in order.

My recommendation this week is for the newly-released 3rd season of the “You” TV series, available on Netflix. This psychological thriller had its first season launched in 2018, and narrates the life of a serial-killer book keeper. Brilliantly starred by Penn Bradgley, who your teenage children might recognize from the teen show “Gossip Girl”, “You” is one of those binge-worthy dramas that keeps you coming back for more. Each season is pretty short, so there is still time for my reader to catch-up, without feeling overwhelmed. The show has received widespread critical acclaim, and makes you wonder how one could get so involved, and root for, an assassin – albeit a charming one. Our society´s fascination with the anti-hero intrigues me. What types of societal and philosophical implications are there for our human condition? I have no idea, but, if you would like to explore this conversation, invite me for coffee.. or to watch an episode!
have a great weekend! -pedro.
Website
Instagram



Para garantir o correto recebimento, recomendamos que adicione nosso endereço à sua lista de contatos confiáveis.

Esta carta semanal, destinada a clientes de Pedro Saboia, tem o objetivo de fazer um apanhado breve e bem-humorado das notícias do mercado financeiro, com foco nos temas de gestão de riqueza e planejamento financeiro. O texto não constitui nenhuma oferta de produto financeiro, ou recomendação de investimento.

Pedro Saboia é sócio da Portofino Multi-Family Office, investidor profissional, CEA (Certificação de Especialistas em Investimentos ANBIMA), e Consultor de Valores Mobiliários autorizado pela CVM, conforme instrução 592. As opiniões pessoais aqui contidas não necessariamente refletem o posicionamento oficial da Portofino.

A Portofino cuida das pessoas para que alcancem um futuro financeiro equilibrado - com ética, transparência e responsabilidade. Quer conhecer mais? Agende uma conversa conosco!

Nosso arquivo de cartas antigas encontra-se aqui

Você pode se descadastrar (unsubscribe) desta lista clicando aqui.