A Repórter Brasil completou 20 anos em 2021. São duas décadas de jornalismo que provoca impacto na sociedade. Neste ano, investigações realizadas por nossa equipe abalaram os planos de empresas poderosas, forçaram órgãos do governo a se posicionarem e levaram o Ministério Público a atuar.
Em dezembro, seis redes de supermercados europeias decidiram parar de comprar carne com origem do Brasil ou ligada à JBS, por causa do desmatamento de florestas nativas. A decisão veio após a Repórter Brasil publicar uma investigação em parceria com a organização Mighty Earth, que abordou as relações entre a carne vendida por grandes varejistas nos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia com a destruição do meio ambiente brasileiro.
Nossas investigações na cadeia produtiva da carne geraram mais impactos ao longo do ano. Ao revelarmos que um pecuarista fornecedor da JBS e Marfrig entrou na lista suja do trabalho do escravo, os frigoríficos suspenderam as negociações com ele. O BNDES também recuou e afirmou que vai apurar as irregularidades após denunciarmos que o banco financia frigoríficos que compram de fazendas com multas por desmatamento e flagradas com mão de obra escrava.
Também em dezembro, foi a vez da cervejaria Heineken desistir da construção de uma fábrica em Pedro Leopoldo (MG). Três meses antes, a Repórter Brasil revelou com exclusividade que a obra foi embargada pelo ICMBio por diversas razões, sendo a principal delas que a construção poderia soterrar o complexo de grutas e cavernas onde foi encontrado o esqueleto mais antigo das Américas — o crânio de Luzia.
As violações de direitos humanos seguiram como foco das matérias da Repórter Brasil. Revelamos um “canto dos maus-tratos” em abrigos de Roraima para confinar indígenas alcoolizados. A denúncia levou o Exército a acabar com o espaço e provocou a Defensoria Pública da União e o Ministério Público, que inspecionaram o local, além de ser acolhida pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
Outro absurdo foi quando revelamos que agrotóxicos são lançados de avião sobre crianças e comunidades em disputa por terra no Maranhão, o que levou a uma decisão liminar obrigando o fazendeiro a pagar as despesas médicas dos atingidos pelo veneno.
Infelizmente, não faltam absurdos em 2021. No especial Caçadas, com histórias de violências contra mulheres indígenas, mostramos um episódio de racismo de dois radialistas de Dourados (MS), que comparou os Guarani Kaiowá a animais famintos. Após a reportagem, os radialistas fizeram acordo com o Ministério Público para escapar de ação e a emissora em que eles trabalham foi obrigada a fazer campanhas enaltecendo os valores da cultura indígena por um ano.
Em 2021, mergulhamos na investigação para descobrir quem lucra com o ouro garimpado ilegalmente de terras indígenas. Nosso especial Ouro de Sangue Yanomami, em parceria com a Amazônia Real, levou o Ministério da Saúde a afastar uma funcionária da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) flagrada negociando ouro, além de provocar uma investigação do Ministério Público.
Outro desdobramento do especial foi a Ação Civil Pública que o MPF ingressou pedindo suspensão das atividades das Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários (DTVMs) citadas na reportagem HStern, Ourominas e D’Gold: as principais compradoras do ouro ilegal da TI Yanomami.
Os impactos do jornalismo da Repórter Brasil não são notados apenas em decisões de gigantes multinacionais ou ao provocar investigações do poder público. Vai além. O pagamento da pensão do marinheiro Célio Albuquerque só foi reiniciado após a reportagem questionar o INSS diversas vezes sobre o motivo de ter sido suspenso. Célio é um dos trabalhadores vítimas dos abusos que ocorrem no transporte fluvial da soja, como mostrou a reportagem “Cicatrizes da soja”. Outro abuso trabalhista, dessa vez na colheita da laranja, foi denunciado na reportagem “Em plena pandemia, Cutrale demite trabalhadoras grávidas e suspende vale-alimentação”, o que levou o Ministério Público do Trabalho a investigar a Sucocítrico Cutrale.
Uma das linhas de investigação da Repórter Brasil foca a indústria de medicamentos e a pandemia. Após mostrarmos que a indicação da cloroquina para Covid seguia em vigor, mesmo depois do ministro da saúde dizer na CPI que não seguia, o Ministério da Saúde apagou links com protocolos de cloroquina.
Leia abaixo nossas reportagens publicadas em dezembro
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