Copy
View this email in your browser
semibreve
por dora guerra 
edição 101 ✶ enviada em 26-01-2022
bom dia pra quem já fez o term.ooo do dia!

se eu te contar o que passei na última semana pra trazer essa newsletter até você, você nem acredita. digamos que eu peguei uma bela de uma zica – mas tá passando, assim como outras pragas que estão se retirando da nossa vida essa semana. é pra começar o ano com os chakras se realinhando, entende?

então vamos de vamos que vamos. com as notas de falecimento só para quem as merece, tá?


nesta semibreve vocês irão encontrar: lana del rey e samuel rosa, ode à elza, música x local x geração
semana passada pedi:
seus álbuns-conceito de preferência
 eduardo lima manda illinois - sufjan stevens
 vitor barbosa adora o madame x - madonna
 pedro noizyman vem com "um dos maiores do hip-hop": 3 feet high and rising - de la soul
 alexandre calderero manda RÁ - rodrigo ogi
 kleber vinicius indica o clássico: dark side of the moon - pink floyd
 andré rocha indica a love supreme - john coltrane
 richard garcia foi na onda álbum-rádio com songs for the deaf - queens of stone age
 pedro santos e juliana ramaldes recomendam o lemonade - beyoncé
o que tá rolando
– notícias do mundo musical em tempo quase real
perdemos – com a mesma elegância e força que teve em vida – a gigantesca elza soares, uma das maiores de todos os tempos. essa declaração aqui, da neta, me deixou até com o coração mais em paz.

✶ no mundinho roqueiros clássicos, ainda há quem salve: o neil young mandou avisar que tá retirando todas as suas músicas do spotify, a não ser que a plataforma acabe com o podcast de um tal de joe rogan, antivax-negacionista-de-m*rda. em suas palavras, "é eu ou ele". já deu stream pro neil young hoje?

✶ rinha de músico: o damon albarn falou besteira sobre a taylor swift, ela ficou puta, ele pediu desculpa mas já tem swiftie quebrando a casa dele com certeza. 

✶ saiu baco exu do blues, king gizzard, zeca veloso....
e vai ter lançamento de: MØ, beirut, anitta, slayyyter, sebastián yatra, charli xcx e rina sawayama...
você não perguntou, mas eu te recomendo:
algumas perdas se destacam mais pelo ganho que tivemos por muito tempo que pela tristeza em si. elza viveu muito, viveu bem, criou tanto – por isso, vou poupá-los as reflexões (já foram inúmeras, muitas lindíssimas) e deixá-los com os maiores presentes que ela nos deixou: a sua voz.

para celebrar elza soares:
  • o álbum elza soares & joão de aquino, gravado em um dia só lá em 1997, foi o último lançamento no nome da artista – um registro puríssimo e de arrepiar, voz e violão, cru e ardente (te desafio a ouvir a sensibilidade com que elza canta drão sem cair pra trás). o disco tem música de chico, luiz melodia, jorge ben, aldir blanc. um deleite, lindezura.
  • e para facilitar a passagem de elza, ouça elza pede passagem: um disco meio samba/soul que te arranca um sorriso na hora. no espírito "hoje sou meu próprio patrão e ninguém me manda", é assim que eu gosto de manter meu imaginário da cantora – rodopiando com a sua voz por onde ela mesma deseja (ela não tinha que estar pedindo coisa nenhuma, convenhamos).
quer deixar uma indicação pra semibreve? talvez seja melhor você recomendar por e-mail mesmo... eu desisti da minha própria playlist... os bots não perdoam NADA...
 

 
mais um link pra quem é fã da tecnologia passando dos limites: a versão musical daquele recurso speech-to-text é o site record player, em que você tira foto de uma capa de álbum e ele te redireciona para este álbum no spotify. por exemplo, tira uma foto de um CD que você tem aí em casa – e deixa os robôzinhos te levarem até a versão digital do disco. útil? não sei. necessário? também não. divertido? sempre.
 
 
as músicas dessa seção e outras recomendações do mês estarão na playlist jan2022. segue lá. 

 
seção fiona apple
– a "palestrinha"

MÚSICA, CULTURA, LOCAL: DIVAGAÇÕES

hoje eu tô viajando, divagando. queria estender essa viagem pra você, cê me conta o que pensa.

quando eu tinha lá meus 13, 14 anos – naquela idade que, já conversamos sobre isso, é a mais formadora do seu gosto musical –, eu morava numa cidade pequena chamada curvelo/mg, subindo pra escola com meu mp3 (e depois ipod) na mão. a essa altura, eu não ouvia muito mais os CDs dos meus pais (ainda que eles tenham me influenciado, com certeza) e os poucos shows que eu tinha acesso eram os de sertanejo, que eu nunca fui particularmente fã. eu não estava necessariamente ouvindo música produzida na cidade, sequer no estado: ouvia arctic monkeys e até queen muito antes de descobrir clube da esquina. ou seja: música, pra mim, não era ao vivo nem o que estava à minha volta. mas eu podia selecioná-la, a dedo, baixando o que eu achava que poderia valer a pena.

minhas referências do que eu deveria escutar vinham misturadas entre os clássicos que a MTV me ensinava (prometo, um dia vamos falar da MTV por aqui) e as novidades que eu assistia na hora dos videoclipes. quando eu chegava em casa, caçava em sites ou no limewire por alguns álbuns completos zipados ou singles que eu tinha que ter – pra achar boas músicas pra baixar, em boa qualidade, provavelmente eram artistas grandes (e às vezes gringos). 

esse pequeno relato é meu, mas é do lil nas x, também: lá de atlanta, frequentador assíduo da internet desde novo, lil nas cresceu ouvindo tudo menos a própria música de atlanta. esse nosso consumo musical introspectivo, pessoal, mediado pela disponibilidade de download – e depois, pelos views no youtube – nos deu uma perspectiva muito engraçada do que ouvir; é possível que eu e ele tenhamos uma formação musical similar, ainda que tão distantes geograficamente e em contexto.

fato é que a "minha leva" de jovens foi das primeiras a viver a globalização ao mesmo tempo que sua formação cultural. eu e os grandes artistas internacionais de 20 e poucos tivemos o acesso simultâneo à internet; quase que os mesmos torrents de álbuns disponibilizados gratuitamente; os mesmos streamings, no auge da globalização e nós, adolescentes dos anos 2000 e bolinha, sabendo falar inglês mesmo antes de algumas coisas em português*.

*falo de forma muuuito generalizada (e excluindo questões de classe e acesso à internet pra não entrar em discussões muito densas).

e com isso, o fator "onde você está" começou a ser muito menor na hierarquia das coisas. a música que vem de curvelo não necessariamente soaria mais como curvelo, assim como a de atlanta também não; podendo refletir mais o que fulano ouvia e via na tela do computador do que a vida do lado de fora. por um lado, isso pode acarretar em algumas perdas de marcadores musicais-geográficos importantes; por outro lado, penso de forma egocêntrica e concluo que fui feliz não sendo restrita às rádios sertanejas do centro de minas. 

o resultado é um mundo musical/cultural mais autofágico que nunca: quando normani – uma artista com vivências quase opostas às minhas – acena às suas próprias referências, eu as entendo. eu sei o que ela quer fazer, sei de que fontes bebeu, conheço os clipes que viu quando era mais nova porque foram os mesmos que eu vi. e isso vai além do que ouvimos, alcançando inclusive o que assistimos quando mais novos até o tipo de perrengue tecnológico-amoroso que vivemos. se antes você se identificava com uma música gringa simplesmente porque ela falava de coração partido, hoje eu me identifico porque ela faz alusão a todo um universo cultural particular que eu e aquele artista vivemos na mesma idade, na mesma "nuvem" cibernética. eu sei do que ele está falando quase como se ele dissesse sobre a minha experiência particular.

e o local, sumiu? não. algo da nossa localização sempre vai se sobressair: mesmo que eu tenha ouvido essencialmente as mesmas músicas que uma jovem inglesa da mesma idade, ela tem sua língua, linguagem, sotaque; eu tenho o carnaval na vida, clima caloroso, gambiarra no sangue. existe uma parte do local que é indissociável da gente e, portanto, fadada a criar especificidades subliminares pra cada música feita em cada lugar. se eu fizesse música, claro, o resultado seria muito diferente da jovem gringa – e, sem dúvidas, a minha adolescência ouvindo sertanejo nas rádios e caetano veloso em casa apareceria denunciando de onde sou. 

mas não é mais do mesmo jeito. sinto que, hoje, ao ouvir uma música muito marcada pelo seu lugar geográfico, isso pode parecer muito mais proposital que acidental – música baiana porque pretende ser, não porque precisa ser. música parou de falar tanto sobre o seu lugar no mundo literalmente; hoje, diz mais do seu lugar do mundo figurativamente. assim, parece que a música feita por pessoas da mesma idade em vários cantos do mundo nunca conversou tanto; o retrato da geração ficou espalhado, refletindo que estamos quase todos no mesmo barco (imagina agora que, enquanto mundo, passamos por uma mesma experiência coletiva traumática, ainda mais abrangente que as guerras mundiais?).

será que a música vai se tornar um bloco homogêneo? duvido muito. as trocas locais seguem sendo necessárias, a diversidade segue sendo um respiro imprescindível pra música resistir.

mas existe um lado legal em pensar que a música mundial dialoga. aliás: como nunca.

seção colaborativa*
*para colaborar com a seção colaborativa, basta responder este e-mail com sua colaboração

me conta um álbum famoso na sua adolescência, que te marcou?
 
quer bater um papo? pode responder diretamente esse e-mail ou me chamar aqui.
e se você curte a semibreve e quer me ajudar a ser uma newslettereira de sucesso, encaminhe para alguém que ache que vá gostar de ler também! o link é semibreve.com.br meu amor

 
a semibreve também está disponível para criar um #publi genuíno e simpático pra sua marca. chama aqui!

quer mudar algo na forma que você recebe esses emails?
você pode atualizar suas preferências ou cancelar sua assinatura, o que seria absolutamente rude.

Email Marketing Powered by Mailchimp