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semibreve
por dora guerra 
edição 102 ✶ enviada em 02-02-2022
bom dia e feliz 2 do 2 de 22, pra quem é fã do número dois. se você não é, melhor esperar amanhã.

venho por meio desta aquietar seu espírito nervoso: nessa rinha de músicos, plataformas, produtores, organizadores de shows e do vírus, fica um pouco difícil se orientar mesmo. quem você deve detestar? quem deve ouvir? quem é caloteiro? quem tá grávida? vai ter show? qual streaming você deve assinar? apesar de eu não ter praticamente nenhuma resposta, eu gosto de fingir que tenho. 

e hoje, especialmente, eu tô fingindo muito bem. vamos lá?


nesta semibreve vocês irão encontrar: processinhos, açúcares e desafetos, tigres & cancelamentos
semana passada pedi:
álbuns que marcaram a sua adolescência
 gustavo brigatti foi marcado por americana - the offspring
pedro noizyman sentiu com sign o'the times - prince
francine costa viveu profundamente o let go - avril lavigne
letícia pinheiro amava o save rock and roll - fall out boy
ramiro ribeiro veio de ventura - los hermanos
joão victor campos e seus colegas curtiam um unorthodox jukebox - bruno mars
gabriel oliveira estava desconfigurado com admirável chip novo - pitty
 arthur de carvalho amava PCD - pussycat dolls
 laura machado foi marcada por whatever people say i am, that's what i'm not - arctic monkeys
✶ já gabriela rocha foi pelo AM, também dos arctic monkeys
ana luísa de medeiros estava gótica com fallen - evanescence
maurilia fagundes foi marcada por pure heroine - lorde
kleber vinicius ouvia (em k7 falsificado) um o papa é pop - engenheiros do hawaii
o que tá rolando
– notícias do mundo musical em tempo quase real
✶ esqueci de informar (desculpa, gente, tô recuperando o ritmo!) que o alok tá sofrendo processinho, vindo de uma dupla de produtores com quem colaborou desde o início de sua carreira. aparentemente, esses produtores não foram pagos – e o alok nega. eu tô aqui pela briga.

✶ também esqueci de informar que o chico buarque abriu mão de cantar "com açúcar, com afeto" nos seus próximos shows, por se tratar de uma música em que a mulher está em um relacionamento abusivo e se submete a ele, etc, etc. antes que você diga que o mundo tá chato demais e a geração do mimimi, vale lembrar que a decisão foi do próprio chico.

✶ mais do rock in rio: eles anunciaram um dia dedicado ao rap no palco sunset, incluindo ninguém menos que os racionais

✶ e a rihanna tá grávida do a$ap rocky, o que não é bem uma notícia musical, apenas uma notícia importante para o mundo. a notícia musical, no caso, é que ela nunca mais vai lançar um álbum.

✶ saiu numanice 2, anitta, denzel curry, toro y moi, baco exu do blues...
e vai ter lançamento de: rosalía, mitski, animal collective, black country new road...
você não perguntou, mas eu te recomendo:
tranquilidades, suavidades, coisas meio quinta à noite:
  • sabe aquele r&bzinho que entra tranquilo e transforma qualquer noite em noite de vinho? é o caso de elujay, artista que transita aí nessa meiuca entre jazz, soul, r&b e alternativo, com influências cá e lá. seu novo álbum, circmvnt, é uma audição gostosinha garantida por 30 minutos; ouça luvaroq e 1080p.
  • indo por outra linha bem diferente, tenho curtido as músicas da sassy 009, produtora/compositora norueguesa que faz coisas dançantes meio hyperpop e também eletrônica pra gente que gosta de suavidade. te sugiro começar por wannabe e mystery boy.
quer deixar uma indicação pra semibreve? manda pra cá!
 
recomendação muitobreve,
por amélia do carmo
 
le tigre - le tigre
 
"feliz ano do tigre: que sejamos como este de Le Tigre: elétricas dançantes e sempre punks: que sejamos tigresas!"
 
as músicas dessa seção e outras recomendações do mês estarão na playlist fev2022. segue lá. 

 
seção fiona apple
– a "palestrinha"

A TAL TRETA DO SPOTIFY (E O QUE PENSAR A RESPEITO)

muito vem se falando sobre os assuntos neil young, spotify, streaming, antivaxxers e mais. o papo é complexo, muita gente tá confusa. por isso, me meti em trabalho jornalístico e investigativo profundo – nível jornal nacional – pra esclarecer o assunto. cola comigo:

bom, tudo começou quando neil young botou seu sobrinho blogueiro pra trabalhar e postou uma nota anunciando que ia retirar seu catálogo inteiro do spotify. o motivo? há alguns anos, a plataforma comprou e disponibiliza com exclusividade o podcast de um tal de joe rogan, comediante que agora dissemina informações antivacina entre outras coisas (e é líder de audições nos EUA).

esse pronunciamento do neilzinho, cujo impacto foi difícil de prever a princípio, foi gerando uma bola de neve pro streaming – a empresa tá caindo em ações, respondendo mal, perdendo inclusive um número significativo de usuários (ainda que não o suficiente pra causar danos à empresa a longo prazo). ah, a joni mitchell vazou também. roqueiro de verdade faz assim. 

aí vem as perguntas de um milhão de dólares: o que o spotify vai (ou pode) fazer? por que outros artistas aparentemente engajados não fazem nada? e principalmente: você deveria cancelar a sua assinatura, também?

primeiro, vale lembrar que nunca nada é tão simples quanto parece. não é de hoje que os artistas têm uma profunda insatisfação com o spotify: por ter a pior qualidade de áudio entre todos os streamings e porque, se as plataformas de streaming já não pagam bem, o spotify é a pior delas – pra você ter uma noção, o "retorno" financeiro vem em cerca de $0.004 por stream.

tá bom. enquanto artista, você consegue bancar tipo um picolé com todos os milhões de usuários que te ouvem no spotify. mas você vai encarar sair da plataforma mais usada em boa parte do mundo ocidental, em uma realidade movida à visibilidade? dificilmente. não estar no spotify é, em parte, não existir; e para artistas cuja renda de shows e mercadorias reduziu significativamente nos últimos anos por motivos óbvios, retirar-se do spotify pode ser um tiro no pé – por pior que seja o tratamento da plataforma. claro, se você é o neil young – consolidado, tranquilão, preocupado com o mundo –, até rola. mas quantos são os neil youngs?

ainda que fossem muitos, vem a outra questão: os direitos. os próprios artistas não costumam ter os direitos legais sobre suas próprias músicas; pô, a própria taylor swift já não é mais dona do seu próprio catálogo e tá nessa luta há um tempo. afinal, o spotify sobrevive da forma que sobrevive porque está ali, lado a lado com grandes gravadoras e detentores de catálogos, fazendo chás da tarde aos quais você não foi convidado – e zero interessados em mexer no esquema que banca a escolinha do filho mais novo do CEO. 

mas você tem princípios, eu também tenho. você tem uma assinatura no spotify, eu também tenho. precisamos fazer com o spotify o que fizemos ao torcer o nariz pro madero, riachuelo, havan? ou o spotify não tem tanta problemática assim?

bom, problemática tem. a nota de resposta de daniel ek (CEO do spotify), lançada na segunda-feira, tem uma série delas. em meio a propostas rasas, ela cai na falácia de equiparar opiniões e fatos, dizendo que o próprio CEO discorda de várias das coisas divulgadas em sua plataforma. e se dedica a acrescentar um rótulo em TODOS os conteúdos relacionados à covid-19, levando a um diretório de informações deles sobre o assunto pra quem quiser clicar – mais uma vez, colocando negacionistas e cientistas em uma mesma categoria, sem ações diretas sobre os primeiros (e todo mundo sabe que negacionista nenhum gosta de ler diretório de informação. é isso que os fazem negacionistas!).

esse argumento de "liberdade de expressão" ou "neutralidade de informação" – uma tecla em que o facebook bateu e martelou principalmente após as eleições americanas – nada mais é que uma falsa isenção moldada pra você acreditar. existe, sim, uma série de coisas que a plataforma pode fazer (começando pelo simples: derrubando um podcast negacionista do ar ou no MÍNIMO rotulando-o como conteúdo falso), mas gente, o podcast gera renda. derrubá-lo significa perder dinheiro. aliás, podcasts geram muito mais renda ao spotify que as músicas, diga-se de passagem; e em se tratando de música, a saída de alguém feito neil young não dá o mesmo preju que alguém feito the weeknd poderia.

é triste lembrar o quanto nosso consumo artístico é mediado por empresas; o inferno do inferno do capitalismo ficou ainda mais insustentável nos últimos anos, em que o "bem público" foi pro beleléu em nome do lucro. mas antes que você se sinta totalmente impotente, essa situação tem uma questão importante: ao contrário do caso facebook (como boicotar facebook, instagram e whatsapp nas nossas vidas?), o spotify é de fato uma briga que a gente pode comprar. 

porque qualquer menor barulho pode, de fato, causar um rebuliço; talvez não nessa luta labiríntica contra fake news, mas em uma luta possível contra a remuneração injusta de músicos que admiramos e consumimos. é possível lembrar ao spotify que eles devem mais aos nossos artistas – e que nós, usuários, temos outras opções. 

“músicos de todo o mundo estão desempregados agora, enquanto os gigantes da tecnologia que dominam a indústria faturam bilhões. trabalho musical é trabalho, e estamos pedindo para ser pagos de forma justa por esse trabalho.” – mary regalado para a pitchfork

vou te cancelar por manter a assinatura? também não. estamos todos encarando o dilema – ao mesmo tempo, sem saber muito bem o que fazer. a gente tem apego às nossas playlists, aos wrappeds, a ver o que nosso amigo está ouvindo naquela segunda à tarde. acontece. 

mas sei lá, se der, aproveita a onda. cancela. surfa no tidal, que tem ficha técnica apuradíssima pra cada música. experimenta o áudio espacial da apple music. fuça o youtube music, amor. deixa os hegemônicos se f*derem um pouquinho. e depois que o pau quebrar… cê pensa se volta.

ou larga tudo e vive de comprar vinil, meu bem. o vinil nunca machucou ninguém.

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