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semibreve
por dora guerra 
edição 106 ✶ enviada em 30-03-2022
bom dia, bom dia.

hoje, escrevo-lhe direto de são paulo, a cidade que te faz frequentar o subsolo de um restaurante de comida asiática em plena segunda de madrugada esperando o kaytranada tocar. eu tinha esquecido o sentimento de ter que se humilhar para assistir ao show que você gostaria, seja andando vinte mil passos por dia, seja gastando demais em uma segunda numa tentativa frustrada, seja atropelando 50 adolescentes pra conseguir lugar em grade.

os melhores shows requerem um pouco de humilhação mesmo. será que é isso que querem dizer quando falam que a arte deve ser desconfortável?

pois bem. vamos lá?


nesta semibreve vocês irão encontrar: grammy, oscar, lula, agenda
semana passada pedi:
músicas del centro-oeste
 daniel amaro indica kelton - distraído concentrado
lucas oliveira manda vanguart - semáforo
ives teixeira recomenda tete espíndola - olhos de jacaré
 alexandre calderero vem com froid - pseudosocial
ulysses dutra manda até quando esperar - plebe rude

 
o que tá rolando
– notícias do mundo musical em tempo quase real
✶ pra você que só prestou atenção no tapa do will smith, tivemos também apresentações musicais no oscar: billie eilish (vencedora de um!), com a música do 007; beyoncé, com be alive; we don't talk about bruno com participação da megan thee stallion e por aí vai.

✶o taylor hawkins, querido baterista do foo fighters, faleceu na semana passada. vi esse vídeo circulando por aí: da última apresentação do baterista no chile, cantando somebody to love. é linda, mas dá uma tristezinha.

✶ os grammys são essa semana, aliás: domingo, às 21h. a aposta geral é de que a olivia rodrigo vai rapar os prêmios principais, porque a academia adora uma adolescente branquinha.

✶ e pra quem não entendeu nada sobre a disputa lollapalooza x bozopalooza: o nosso presidente se incomodou um pouco com todo mundo querendo ele tomasse no c*, deu chilique, o TSE proibiu "manifestações políticas" no lolla, teve gente que fez mesmo assim, depois descobriram que o e-mail do advogado foi enviado errado (portanto a decisão nunca foi válida) e o nosso presidente ficou putinho e desistiu da censura. foi um péssimo fim de semana pra ser o b0ls0n4r0, o que sempre é uma alegria pra gente.
✶ bom, se você não viu ou quer rever o lolla, tem algumas coisas soltas pelo youtube; mas dá pra ver aqui pelo globoplay também (e parece que o conteúdo tá liberado pra não-assinantes). bom demais.
semiagenda

shows e festivais:
✶ esse finde tem o gop tun festival (SP), com um extenso lineup de DJs e artistas massa do brasil e do mundo; line aqui.
✶também vai ter o primeiro castro festival (SP), com gloria groove e outras atrações; compre aqui.
 ✶amanhã tem kaytranada (oficialmente) no circo voador (RJ); link aqui.
 ✶semana que vem tem breve festival (BH), com artistas de racionais a ney matogrosso; link aqui.


esta semiagenda não tem a pretensão de ser somente sudestina; por isso, se você souber ou quiser anunciar um show/festival maiorzin em qualquer lugar do brasil, manda pra cá e a gente inclui.

lançamentos que vem aí:
karol conká / red hot chili peppers / miley cyrus / vince staples / pabllo vittar + rina sawayama
father john misty / camila cabello / jack white/ pusha t / syd / omar apollo
você não perguntou, mas eu te recomendo:
que ótima ideia essas recomendações em pleno outono:
  • com uma voz deliciosa e um ar indiscutivelmente britânico, jaydonclover passeia pelo R&B com influências claras de grandes feito erykah badu, produção suave e piano presente. a gatinha tá começando por agora (só tem um álbum lançado, o recovering lover), mas já disse a que veio; ouça whataboutnow e secondsin.
  • e porque nem só de coisas novas e desconhecidas se faz uma newsletter, ando saudosista da M.I.A, nossa antivax doidona queridíssima. hoje vamos de recomendar o kala, álbum que vai da eletrônica a bollywood em alguns minutos. é o que tem a ótima e conhecidona paper planes, aliás. 
quer deixar uma indicação pra semibreve? manda pra cá!
 
recomendação muitobreve,
por amélia do carmo
 
call for help - pearly drops
 
"um desespero desenergético jovial para uma dança cansada – se o bebê de grimes, ao invés de elon musk, fosse de lana del rey"

um balanço dos festivais: achei uma pesquisa que tem bastante a ver com o papo da última semibreve: lá no site do coquetel molotov, a galera fez uma análise do lineup dos festivais anunciados para o brasil em 2022, levantando rapidamente um balanço geral sobre quem são e tudomais. vale ler!
 
as músicas dessa seção e outras recomendações do mês estarão na playlist mar2022. desculpa, tá no spotify a playlist... mas se você tiver spotify, segue lá. 

 
seção fiona apple
– a "palestrinha"


LULAPALOOZA 2022

bora lá falar de lolla?

dessa vez, em termos mais práticos – menos no saudosismo de quem não via festivais há muito, muito tempo –, me peguei pensando no que fez com que alguns shows fossem curiosamente melhores que outros. é gostoso ter um distanciamento, mesmo que as músicas tenham uma relação afetiva fortíssima com a gente.

sinto que show em festival precisa essencialmente da interação pra funcionar; dos pequenos e grandes momentos de conexão com a galera, mais que as músicas em si. e por isso, quando um artista esquece da plateia do outro lado, a gente sente claramente porque parece um show pré gravado – não algo que depende da nossa reação pra acontecer. nem sempre isso acontece de propósito; senti isso um pouco no show da gloria groove, que me pareceu entregar muita energia à execução do show "perfeito" sem lembrar de conversar tanto com a gente. 

mas pode acontecer por falta de carinho com o público também, escancarando a parte mais feia dos artistas que ninguém quer ver. a última coisa que um público quer é sentir que é dispensável. pois nos sentimos: em um show dos strokes que só foi perdoável para quem ama demais as músicas, o diálogo de julian casablancas com a plateia era, mais uma vez, um monólogo – em que ele não fazia questão de 1) ser compreendido ou 2) de fato estar lá. entre isso, as letras erradas e pouquíssima sobriedade por parte do vocalista, de repente você se pega com raiva de conceder à banda seu tempo e dinheiro.

em contraste, poucas coisas são mais deliciosas que ver um artista emocionado de estar ocupando aquele palco. é questão de fingir que o poder está com a gente, ainda que esteja, na verdade, inteiramente nas mãos do artista. essa foi a melhor parte de shows grandes como da doja cat e marina, assim como de artistas menores e nacionais: muitos deles genuinamente surpresos e felizes com o mero privilégio de estar lá.

não que seja necessário ser humilde o tempo todo. miley, por exemplo, não o foi – ela sabe seu tamanho, sabia a recepção que teria e em nenhum momento se demonstrou falsamente surpresa com a multidão gigantesca a aplaudindo e cantando todas. por que deveria?

em vez disso, a artista usou de outras artimanhas, tão eficazes quanto: entre elas, a conversinha fiada enquanto retocava a maquiagem que tirava da bolsinha. esses breves momentos conseguem ser quase tão bons quanto as músicas em si – quando o artista não performa, ou performa, mas disfarça de vida normal; finge que somos amigos dele, compartilha um momento, nos faz acreditar que aquilo ali ninguém mais viveu com ele.

na verdade, um festival pode proporcionar diversas artimanhas, que foram muito bem usadas (de kehlani a fresno): encontros, convidados, pseudodecretos feitos por pseudopolíticos e a vontade de mandar todo mundo tomar no cu. a resposta brasileira a tudo que rolou foi um festival à parte – ainda que o público do lolla tenda a ser bastante privilegiado e um recorte específico das pessoas, existiram palcos (literais e não) para algumas falas importantes.

nesse momento, entrou uma cumplicidade a mais, especialmente envolvendo cantores e bandas brasileiros. desde 2018 – e especialmente quando rola um decreto desses –, a função desses artistas passou a ser não só de entretenimento, mas de representação de uma mensagem maior. claro, a arte é sempre política e a música sempre teve esse propósito; mas ultimamente, esse propósito teve que deixar de ser subliminar e ficar bastante explícito, constante, como se não pudéssemos curtir sem ter que dar uma resposta a esse contexto horrível.

o lolla foi um evento teste em mais sentidos que eu esperava: foi o primeiro grande festival que tivemos no país pós-retorno, em ano eleitoral, em uma espécie de fim-do-fim-do-mundo – uma aglomeração que parecia estranha nos primeiros minutos, até que você rapidamente esquecia que já houve outra realidade. 

era uma prova que eu precisava pessoalmente, aliás. a semibreve é quase um produto de pandemia, mas eu já vinha questionando a minha relação com música; dentro de casa, naquela realidade paralela de quem não estava vivendo, eu achava que não vinha absorvendo muito o que ouvia – não como quando eu tinha diferentes ambientes, emoções, acontecimentos. mas parece que algo ficou, sim: a recepção calorosa de artistas como doja cat e marina sena (artistas cuja fama é produto de anos pandêmicos) botou tudo à prova. é verdade – estivemos, nos últimos dois anos, vivos, ouvindo e absorvendo música mesmo sem escape.

o lolla escancarou o quanto a música vinha ressoando dentro de nós, resistindo – e estávamos doidos pra botá-la pra fora; gritar, entoar, cantar, dizer muito do que vinha sendo apenas digitado dentro de casa. foi muito gostoso lembrar que música é gente: calor de gente no público, gente cantando, gente tocando, gente, gente, gente.

gente é pra ver show.

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