Copy

Newsletter Parent in Science n.3 - Março 2021


 

O que você vai encontrar nesta edição:

I. Parent in Science Entrevista:
Carolina Brito, idealizadora do podfiction A Saga da Carlota


II. Nossas Ações:
  • Vídeo especial mês da Mulher: Mães de Meninas
  • Lançamento do Informativo: Mulheres e Maternidade no Ensino Superior no Brasil
  • Programa Amanhã: Balanço final da campanha de arrecadação e seleção das beneficiárias
III. Parent in Science Indica: 
Maternidade e ciência: publicações recentes
Parent in Science Entrevista
 
 Carolina Brito: 
idealizadora do podfiction A Saga de Carlota

Texto de Rossana Soletti

PiS: A Saga de Carlota foi inspirada na peça teatral "A Ciência como ela é", de autoria sua e da Prof. Márcia Barbosa. Como surgiu a ideia de transformá-la nessa série de podcast ficcional?
A podfiction é a fusão de dois mundos. O primeiro é o teatro, que montamos em 2017 e desde então observamos que é uma maneira eficiente de atingir pessoas. Cada vez que apresentamos a peça, a gente tem um retorno muito bom tanto no que concerne elogios como críticas, o que é ótimo porque nos faz ver que o tema incomoda. O outro mundo é o dos podcasts. Junto com 3 colegas da UFRGS,  Jeferson Arenzon, Marco Idiart e Jorge Quillfeldt, eu produzo um podcast de divulgação científica chamado “Fronteiras da Ciência” que existe desde 2010. Nos últimos anos, vimos a produção e a audiência de podcasts crescer muito. Então, por ideia do Jeferson e depois melhor elaborando com a equipe, chegamos na proposta de transformar o teatro em uma rádio-novela apresentada em podcast. Aí descobrimos que isto se chama “podfiction”.  E felizmente o  Instituto Serrapilheira decidiu apostar nesta ideia!

PiS: Como foi o processo de colaboração entre cientistas e artistas no processo de concepção e desenvolvimento do podcast?                              Foi interessante e desafiador. De certa forma, é parecido com iniciar um projeto científico novo com alguém de outra área, pois leva um tempo até aprendermos os jargões e os mecanismos do novo campo. Mas penso que a arte tem muita coisa em comum com a ciência, pois fazer pesquisa também requer criatividade e para fazer arte também é preciso rigor. Então há mais pontos em comum do que podemos pensar de início. A parte de contato com os artistas ocorreu durante a elaboração do roteiro e  quando acompanhei as gravações das vozes dos atores, que segui todas online. Isto foi estressante principalmente pelos atrasos que ocorreram. Mas a concepção total do projeto foi muito mais complexa do que eu poderia prever, pois existem etapas práticas e absolutamente necessárias que consumiram muito tempo e energia. Sem contar que às vezes saía de uma reunião com algum fornecedor com a profunda necessidade de um glossário para entender o assunto. Acabei usando várias amigas para entender questões de marketing e design ou a minha irmã para questões jurídicas. 

                                                                                      As cientistas Márcia Barbosa e Carolina encenando A Saga de Carlota

PiS: Acreditamos que muitas mulheres, cientistas ou não, vão se reconhecer nessa podfiction. O que você acha que os episódios poderão agregar para as mães e os pais de meninas?
Sim, nós também acreditamos que muitas mulheres vão se identificar. Aliás, acho que esta é uma das razões pelas quais conseguimos atrair atrizes que têm um nome importante na mídia e que toparam participar principalmente pela causa política que o projeto traz. Há muitos elementos ali que são comuns a várias mulheres e a várias profissões. Mas será que os homens pais de meninas também vão absorver algo? Eu penso que sim e muita coisa. Um dos elementos mais legais deste projeto é os personagens e os narradores trazem exemplos. O que são os estereótipos de gênero aos quais as meninas são expostas desde muito cedo? Por que isto causa danos? O que são microagressões de gênero, a banalização do assédio e quais são os porquês da perda de representatividade da mulher no decorrer da carreira? Será que as pessoas agem “por mal” ao tratar homens e mulheres de maneira desigual ou são também vítimas de um mecanismo chamado “viés inconsciente”?Eu acredito que a história fará com que as pessoas se coloquem no lugar da mulher , mas também se enxerguem como já tendo passado pela situação do vilão ou da vilã. Além dos exemplos, a podfition é recheada de estudos científicos que embasam a discussão. Então, ao tirar a questão do nível do “achismo” e  colocá-la no debate científico, é um ganho para qualquer pessoa que esteja de mente aberta para enxergar o problema e talvez mexer em alguns pontos fracos seus, que obviamente todas e todos temos.  As referências bibliográficas usadas ao longo da história estão no nosso siteE já que estamos na newsletter do Parent in Science, é óbvio que a questão da maternidade é abordada em vários pontos da novela. E claro que citamos os dados do Parent in Science para embasar o nosso debate! 

Ouça A SAGA DE CARLOTA
Nossas Ações

Vídeo: Mães de Meninas
Texto de Camila Infanger 

Neste mês das mulheres, buscamos trazer a celebração e reflexão sobre a data para bem perto de nossas realidades: Qual é o significado de ser mãe(cientista) de menina?

Em nossas conversas refletimos sobre a sobreposição de nossos papéis como mulheres e mães, assim como sobre as variadas perspectivas individuais acerca da importante missão de criarmos as mulheres que colherão os frutos de nossa luta por uma maior inclusão de gênero.
Para além da visão que cada uma destas mães compartilhou sobre cultivar valores numa criação livre de estereótipos, foi possível também a observação sobre como as filhas destas cientistas assimilam as vivências na forma de brincar e suas percepções sobre o futuro.

Agradecemos  às pesquisadoras e integrantes do PiS Eugenia Zandoná(UFRJ), Rossana Soletti(UFRGS), Gisele Camilo(UFMG), Milena Freire(UFSM) e Daniela Pavani(UFRGS) e suas filhas - respectivamente - Olga, Anita, Marina, Lara, Eleonora, Nina e Ana Luiza.

Compartilhamos a experiência encantadora que tivemos com essas meninas e mulheres que aquecerão seu coração nesse finalzinho de março.

                      

Assista ao vídeo completo

Mulheres e Maternidade no Ensino Superior no Brasil
Texto de Rossana Soletti

Na semana da mulher, o Parent in Science lançou um informativo sobre a representatividade de mulheres e mães no ensino superior no Brasil. 
 

Leia o Informativo

Programa Amanhã : campanha de arrecadação finalizada com excelentes resultados 
Texto de Milena Freire

                     

No dia 8 de março, o Programa Amanhã encerrou o recebimento das contribuições e fechou o período de 45 dias de campanha com a arrecadação de R$ 100.004,34. Resultado foi considerado bastante satisfatório, especialmente por se tratar de um financiamento coletivo de participação espontânea. O programa Amanhã é uma inciativa do Movimento Parent in Science que tem o objetivo apoiar estudantes/mães que estão nos últimos meses dos cursos de Pós-graduação Stricto Sensu (mestrado e doutorado), especialmente aquelas que não tem bolsa, para que possam concluir os seus cursos.

O programa Amanhã foi idealizado no contexto da pandemia de Covid-19 em que, reconhecidamente, as dificuldades de continuidade das atividades por parte de pesquisadoras mães foram bastante agravadas. 

Através de edital, 772 estudantes/mães se inscreveram. A grande procura pelo incentivo demonstra a necessidade de ações institucionais e políticas públicas que reconheçam demandas específicas das pesquisadoras/mães.

O perfil das inscritas, em vários aspectos, está relacionado aos dados coletados na survey realizada pelo PiS para dimensionar as dificuldades pelas quais estão passando as mães/cientistas no período da pandemia. Uma parte significativa do grupo corresponde ao perfil cuja demanda se fortalece quando considerados os dados de raça/renda e formação familiar/rede de apoio. 

Entre as inscritas no programa Amanhã, 44,3% se autodeclaram brancas, 35,1% pardas e  15,8% pretas. A maior parte do grupo (62%) tem um filho e se declara mãe solo (56,7%), o que leva a crer que assumam uma responsabilização mais intensa pelos cuidados com os/as filhos/as. No que diz respeito aos rendimentos, os dados são preocupantes: quase a metade as inscritas (49,4%) afirma não ter uma fonte de renda fixa, entre as que declararam a renda familiar 28,4% recebe até um salário mínimo, 26,9% tem rendimentos de até 2 salários mínimos e 17,9% recebe entre 2 e 3 salários mínimos.

Além de mensurar o perfil e mapear os enfrentamentos vividos pelas estudantes inscritas, através de vários depoimentos compartilhados na página do Instagram do PiS,  foi realizada uma enquete para procurar mensurar se as instituições tem elaborados políticas específicas de apoio alunas mães na Pós-Graduação.

Na enquete feita na página do PiS no Instagram, respondida por 324 pessoas, 94% das pessoas afirmou que nas suas instituições não existem politicas de apoio específicas para as mães/pesquisadoras. A maior parte dos que afirmaram haver políticas públicas mencionou a extensão da bolsa por 120 dias. É preciso registrar, entretanto, que este benefício não é uma concessão do programa, mas um direito estabelecido na lei 13.536 de 15 de dezembro de 2017, que se estende aos casos de Licença Gestante ou Adoção.

Ainda na enquete, os relatos dão conta de situações de assédio, que desencorajavam as estudantes a continuar o curso após a gravidez ou desqualificavam sua capacidade de concluir o curso a tempo ou a contento. Em alguns depoimentos expostos na enquete, as estudantes revelaram que a licença maternidade foi considerada por colegas e, principalmente, por professores/as do programa como uma “mordomia”, quando, na verdade, se trata de um direito.  

Situações como estas levantadas, além das dificuldades já reconhecidas para a inserção e manutenção de estudantes/mães nos programas de Pós-Graduação precisam ser debatidas de modo coletivo, a fim de que possamos avançar na conquista de condições mais igualitárias no que diz respeito ao gênero e a parentalidade na academia.

Gostaríamos de fazer um agradecimento especial à empresa On Safety pelo apoio e contribuição ao programa AMANHÃ. Conheçam o aplicativo com soluções para segurança do trabalho pela página @onsafety_app no Instagram.

Confira o Relatório Final do Programa AMANHÃ
Parent in Science Indica 
Maternidade e ciência: publicações recentes
Texto de Gabriela Reznik

                

Parentalidade como o 'xis' da questão - Com dados de cerca de 3000 docentes mães e pais de 450 departamentos de pós-graduação nas áreas de História, Computação e Negócios nos Estados Unidos e Canadá, o artigo "The unequal impact of parenthood in academia" sugere que a parentalidade explicaria a maior parte das desigualdades de gênero na produtividade acadêmica, ao diminuir a produtividade média de curto prazo das mães, ainda que esta desigualdade diminuía com o passar do tempo. Publicada em fevereiro deste ano na revista Science Advances, a pesquisa considerou os cinco anos antes do nascimento dos filhos e dez anos após o evento, relacionando-os a dados longitudinais de publicação das/os docentes, percepções sobre a expectativa de produtividade e políticas específicas de licença parental das universidades. Levando em conta que a regulamentação americana e canadense é distinta entre si e da brasileira, um dos resultados que chama atenção é que mulheres e homens usaram a licença parental em taxas diferentes: enquanto mais de 90% das mães tiraram a licença pelo menos uma vez, apenas aproximadamente 60% dos pais o fizeram. Segundo os autores, as normas de gênero em torno da parentalidade e do tempo alocado nos cuidados com filhos parece ser uma questão chave nestas disparidades, e sugerem que a licença parental remunerada e políticas de equidade nos cuidados com os filhos são fatores importantes no recrutamento e retenção de mulheres na carreira acadêmica. Leia o artigo na íntegra aqui.

 

Promessa ainda não cumprida - O movimento #maternidadenoLattes surgiu durante o primeiro simpósio organizado pelo Parent in Science com o intuito de promover a inclusão de informações de maternidade na base de currículos Lattes e aprimorar as pesquisas no contexto brasileiro que considerem o hiato de gênero relacionado ao impacto da maternidade no meio acadêmico. Em junho de 2018, com uma carta assinada por diferentes sociedades científicas, esta reivindicação ganhou força nas redes e na mídia, e, em 2019, o CNPq anunciou oficialmente que seria incluída a possibilidade de inserir a data de nascimento ou adoção de filhos na base de dados. Na carta “Maternity in the Brazilian CV Lattes: when will it become a reality?”, publicada nos Anais da Academia Brasileira de Ciência, em fevereiro deste ano, pesquisadoras do PiS comentam que, após um ano do anúncio, a medida ainda não foi implementada e reivindicam: “esta não pode ser mais uma promessa quebrada”.  Acesse a publicação aqui.

 

Discursos sobre maternidade e ciência nas mídias – A rede de discursos em torno das questões sobre maternidade e ciência é analisada no artigo "Identidades e (não)lugares da maternidade na ciência: discursos e contra-discursos nas mídias contemporâneas”, publicado na revista Estudos Linguísticos em dezembro de 2020. As autoras analisam o movimento de discursos sobre o dispositivo 'maternidade na ciência', por meio do referencial teórico foucautiano, a partir da lei aprovada em 2017 que implementou a prorrogação de bolsas de pesquisa em caso de maternidade e adoção. Elas traçam um percurso dos movimentos discursivos nas redes sociais que permeiam as páginas de grupos de pesquisa, eventos, materiais audiovisuais e outros elementos, destacando o movimento Parent in Science como um espaço de relevância nesta discussão. Leia o artigo aqui

 

Ser mãe e etnobióloga - As percepções de etnobiólogas brasileiras e argentinas sobre o impacto da maternidade na produtividade acadêmica e nas condições de realização de trabalho de campo foram analisadas por meio de questionários, realizados de forma on-line com 100 respondentes mães ou que desejam ser mães, e publicadas no artigo “Maternidade na Etnobiologia: desafios encontrados por pesquisadoras que são ou buscam ser mães”, na edição especial de fevereiro da revista Ethnoscientia, que reuniu demais publicações sobre olhares femininos no campo da Etnobiologia – área que estuda a relação de seres humanos e demais componentes bióticos. Leia aqui  o artigo na íntegra. 

 

Entrevista sobre a temática das mulheres na ciência – "Ninguém ganha em uma sociedade em que mulheres têm menos direitos, muito menos a ciência, que precisa de diversidade para uma maior qualidade" é uma das afirmações destacadas, em entrevista à Revista Ciência Hoje, da química Maria Domingues Vargas, que é integrante do GT Mulheres na Ciência da UFF, membro da Academia Brasileira de Ciências e jurada do programa Para Mulheres na Ciência, da L’Oréal, Unesco e ABC. Na entrevista, a pesquisadora falou sobre sua trajetória acadêmica, fatores que afetam a participação e progressão de mulheres nas ciências, estereótipos que afastam as meninas da carreira científica, os problemas relacionados à meritocracia, a importância da temática enquanto justiça social e de políticas que promovam equidade de gênero nas ciências. A íntegra da entrevista é restrita a assinantes. Leia aqui a parte inicial da entrevista.
Facebook
Twitter
Link
Website
A Newsletter Parent in Science é o boletim eletrônico mensal do movimento Parent in Science, com novidades sobre políticas, ações, pesquisas recentes, oportunidades e eventos que envolvam as questões da maternidade na ciência.
Redatoras: Alessandra Brandão, Beatriz Muller, Camila Infanger, Gabriela Reznik, Milena Freire e Rossana Soletti.
Editora: Camila Infanger.
Informações, sugestões, comentários e críticas são bem-vindos pelo nosso email.
Inscreva-se aqui.
Se desejar cancelar sua assinatura, nos envie um e-mail para newsletter.parentinscience@gmail.com






This email was sent to <<E-mail>>
why did I get this?    unsubscribe from this list    update subscription preferences
Parent in Science · Rua Diogo Jacome, 553 · Vila Nova Conceicao · Sao Paulo, Sp 04512-001 · Brazil

Email Marketing Powered by Mailchimp