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as gaivotas que fiz com fita isolante na sala de jantar em 2016
para representar um momento de vida, das quais me despedi ainda em 2019


desculpe a bagunça, tive que aprender a me despedir de muita coisa ao mesmo tempo
 

(daqui)


eu espero que, onde quer que você esteja, você consiga dizer que está bem — sem problemas de saúde, com as pessoas que você ama seguras e protegidas, com recursos suficientes para viver. é o tal do "bem pandêmico", disseram — que "muito bem" raramente alguém está, após o devastador 2020; mas quem tem o mínimo para tocar sua vida já se considera uma pessoa privilegiada, diante de tantos que perderam tudo.

outro dia uma amiga me disse que "ninguém passou impune" a 2020. por aqui, passou um furacão, que teve suas maiores reverberações no início de 2021: me vi sem o emprego que exercia há alguns anos e de que tanto gostava, tendo que colocar em caixas um lar montado com muito cuidado e que me acolheu por mais de sete anos, voltando para a casa dos meus pais em busca de reencontrar outro rumo, desesperançosa com a falta de perspectiva do país como um todo. mas ainda com saúde, um lugar para (re)pousar, uma família generosa de braços abertos, amigos que sempre estão ao meu lado. não é tudo o que um dia já tive, mas ainda é tanto.

um período de imensos desafios e grandes descobertas, este também é o momento de reconhecer que podemos viver sentimentos aparentemente contraditórios: não é "ou", é "e" — dá para me sentir grata pelo presente e desesperançosa ao mesmo tempo, reconfortada e enlutada, animada com o que virá e triste pelo que não mais voltará. uma coisa não exclui a outra, e navegar emoções distintas é também um aprendizado e uma luta diários. 

sem dúvida, a mudança mais drástica foi sair de casa e buscar maneiras de me reencontrar novamente: o endereço no qual habitei por tantos anos não era apenas "um apartamento espaçoso e iluminado" com o qual havia sonhado por boa parte da minha vida; ele se tornou de certa forma um pedaço da minha identidade, a exteriorização de quem eu acreditava ser por dentro, uma (grande) conquista há muito desejada. meu "castelo", como essa amada casinha já foi chamada um dia e eu adotei.

o luto desta ruptura foi elaborado por um bom tempo antes de ela se concretizar de fato, mas nem por isso o processo se tornou menos dolorido: tem dias em que sinto tanta falta de lá, que parece que chega a me faltar ar. ou chão: quem é a nathalia que não habita mais aquela casa, que se encanta todo dia com a luz inundando todos os espaços, que se sente grata pela árvore embaixo da janela com passarinhos que cantam o ano todo mesmo numa das regiões mais urbanas da cidade, que recebe as pessoas de braços (e coração) abertos? o vazio onde hoje se encontram todas as possibilidades de reinvenção é, às vezes, também um lugar cheio de saudade pelo que foi deixado para trás.

no fundo, não é só um apartamento que representava tudo isso: ele era de certa forma a materialização de uma vida vibrante que eu vivi nos últimos anos, e que já não existia mais. deixar aquele espaço foi mais um luto somado ao da pandemia, que todos nós vivemos em algum grau: uma nova realidade que nos roubou a liberdade, a autonomia, a espontaneidade, a ideia de futuro. levou pessoas queridas, rotinas muito amadas, bases solidamente construídas, um pouco (ou muito) da nossa fé. que trouxe medo, restrições, perdas irreparáveis. e, no entanto, cá seguimos. qual seria a opção?

_______

 

dois pontos 

faz tempo que venho cultivando a ideia de fazer uma edição especial do drops com maneiras de expressar tudo o que essa nova realidade transformou por aqui. desde que li o livro do artista, há quase um ano (até cheguei a comentar no último drops diário que este era meu "próximo passo"), tenho tentado "fazer arte com o que se parte", pra dar sentido do lado de fora a tudo o que ocorreu aqui dentro.

os "dois pontos" são a maneira de iniciar esta conversa.

dois-pontos
substantivo masculino de dois números

  1. 1.
    ORTOGRAFIA
    sinal de pontuação (:) correspondente, na escrita, a uma pausa breve da linguagem oral e a uma entoação ger. descendente, e cuja função é preceder uma fala direta, uma citação, uma enumeração, um esclarecimento ou uma síntese do que foi dito antes etc.
  2. 2.
    GRAMÁTICA
    expressão catafórica que enfatiza, na linguagem oral, o que vai ser dito em seguida.
    "o que eu tenho a dizer é o seguinte, d., nada feito"



_______

então a cartinha de hoje é só para retomar o papo depois de tudo, e me reconectar com essa rede que tanto me inspira e acrescenta, que foi parte tão importante da minha vida nos últimos anos.

nas próximas quatro semanas, serão enviados quatro drops, sempre às terças, que marcam o ciclo de um ano na minha vida, do outono do ano passado ao deste ano. a natureza foi uma fonte inesgotável de fé, contemplação e esperança no decorrer deste tempo, então me pareceu natural que fosse ela a pontuar o ritmo desta produção: cada drops virá com reflexões geradas em uma estação do ano — uma analogia já muito utilizada, porém sempre rica e reveladora (não nego nem confirmo que assistir ao revival de gilmore girls e aos contos das quatro estações do rohmer neste período tenha influenciado nisso ;)

por e-mail virá uma introdução de cada edição, que será disponibilizada por completo numa página própria, apenas porque foi a maneira que me pareceu mais interessante para apresentar este processo. cada uma terá um projeto artístico referente ao período acompanhado de um texto, um autorretrato e uma seleção de mulheres que de alguma forma me inspiraram. é um trabalho bem íntimo, vulnerável e reflexivo. e eu ficaria muito feliz se você embarcasse comigo! ♥

a página principal também se chama dois pontos, e concentrará todas as informações.

por fim, o desejo de criar tudo isso desta forma é porque acredito que não exista uma saída individual, que este é um caminho criado no coletivo. a vida é um milagre e um mistério; e mesmo no meio dos altos e baixos, ainda busco na beleza mundana meu refúgio. e compartilhar um pouco disso me traz muita alegria e satisfação — é nas conexões criadas e solidificadas que encontro a força e a coragem para atravessar o que surgir. "tudo é perigoso, tudo é divino maravilhoso".

bora conversar? :)


obrigada por ter seguido comigo até aqui ღ

se puder fique em casa,
se cuide e cuide dos seus.
doe o que conseguir,
ajude quem puder.


e até semana que vem!


um forte abraço,
com amor




(as imagens para ilustrar cada drops são sempre escolhidas com muito carinho e cuidado, algumas de minha própria autoria e outras que encontrei por aí. todas estão sempre linkadas na própria imagem - caso queira saber mais, é só clicar ;)
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