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Um giro pelas atualidades sob a lupa de gênero, sexualidades, raça, classe e outros atravessamentos.

Uma verdade difícil de engolir: apoio pleno às mulheres exige respeito à sua autonomia

Na ânsia por defender e proteger, muitas vezes reproduzimos opressões e endossamos silenciamentos

Vou contrariar tudo que aprendi no bom jornalismo e pedir licença pra falar de assunto velho. Mas é que tem sapos que a gente precisa cuspir antes que nos engasgue. Algum tempo atrás, todo mundo foi para as redes sociais meter a boca no trombone e manifestar seu apoio a uma mulher, negra, grávida e famosa, pela traição que ela havia sofrido e que tinha vindo a público. Até aí (quase) tudo bem.

“Quase” porque essa avalanche de gente de tudo quanto é canto “manifestando solidariedade” pode até ser vista como empatia, mas também lembra bastante o efeito “Nana Gouvêa”. Um meme icônico (e real) lá nos anos 2010, de quando a modelo fez um ensaio fotográfico em meio aos escombros deixados pelo furacão Sandy em Nova York, completamente fora do tom (e da casinha). O que quero dizer é: na ânsia de fazer parte de tudo, as pessoas acabam metendo os pés pelas mãos, e caçando like em momentos, no mínimo, inadequados.

Fora isso, casos como este da traição da famosa, especificamente, desencadeiam outra reação em cadeia desastrosa, de gente reforçando o machismo por outro efeito – o “efeito Seu Jorge”, em que milhares de homens e mulheres afirmam, ainda que nas entrelinhas, que “se fosse mulher feia tava tudo certo”. Neste fenômeno, enquadram-se posts dizendo que “se até Fulana foi traída, imagina eu”, e outros tantos “o cara é burro demais, fazer isso com uma mulher que nem Fulana”.

 
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Quanto a traições, quando se fura um acordo (seja ele qual for) num relacionamento, a beleza da vítima não aumenta grau de desonestidade e mau-caratismo de quem traiu. Não deveria, pelo menos.


Mas pior mesmo foi quando, pouco tempo depois, a mulher deste caso famoso decidiu reatar o relacionamento com o desquerido que a internet vinha xingando repetidamente. Uma outra enxurrada de posts começou, com gente chamando a então apoiada por todos de burra para baixo, falando do arrependimento em tê-la “apoiado depois da traição”. Para começar, essa onda de mensagens criticando uma mulher que decidiu voltar com um parceiro que a traiu culpabiliza a vítima por algo que foi causado a ela: “Por isso que é chifruda”.

Infelizmente, a gente tem a tendência de querer que a vítima de qualquer situação se comporte de maneira ideal: que consiga romper com o que lhe causa mal e esteja a salvo pra sempre. Usei esse caso da cantora, com uma traição, como exemplo, mas é o que acontece, com as mulheres, em todas as manifestações de violência e opressão a que são submetidas...

 
*Leia na íntegra no site do #Colabora
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Júlia Pessôa 

É jornalista, mestra em comunicação, especialista em gêneros e sexualidades e doutoranda em ciências sociais. Atuou no jornalismo diário por mais de dez anos, cobrindo principalmente cultura, gastronomia, gêneros, sexualidades e direitos humanos. É autora do livro de crônicas “Heteronímia” (2017) e tem publicações em veículos como UOL Tab, BBC Brasil e O Globo. Inexoravelmente feminista.

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