Vou contrariar tudo que aprendi no bom jornalismo e pedir licença pra falar de assunto velho. Mas é que tem sapos que a gente precisa cuspir antes que nos engasgue. Algum tempo atrás, todo mundo foi para as redes sociais meter a boca no trombone e manifestar seu apoio a uma mulher, negra, grávida e famosa, pela traição que ela havia sofrido e que tinha vindo a público. Até aí (quase) tudo bem.
“Quase” porque essa avalanche de gente de tudo quanto é canto “manifestando solidariedade” pode até ser vista como empatia, mas também lembra bastante o efeito “Nana Gouvêa”. Um meme icônico (e real) lá nos anos 2010, de quando a modelo fez um ensaio fotográfico em meio aos escombros deixados pelo furacão Sandy em Nova York, completamente fora do tom (e da casinha). O que quero dizer é: na ânsia de fazer parte de tudo, as pessoas acabam metendo os pés pelas mãos, e caçando like em momentos, no mínimo, inadequados.
Fora isso, casos como este da traição da famosa, especificamente, desencadeiam outra reação em cadeia desastrosa, de gente reforçando o machismo por outro efeito – o “efeito Seu Jorge”, em que milhares de homens e mulheres afirmam, ainda que nas entrelinhas, que “se fosse mulher feia tava tudo certo”. Neste fenômeno, enquadram-se posts dizendo que “se até Fulana foi traída, imagina eu”, e outros tantos “o cara é burro demais, fazer isso com uma mulher que nem Fulana”.
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