Em "O retrato de Dorian Gray", Oscar Wilde conta a história do jovem que troca a alma pela vida eterna: o protagonista permanece jovem e belo, ao passo que as marcas do tempo e os excessos cometidos pelo rapaz são transferidos para seu retrato, que ele esconde. Gray leva uma vida em que a aparência difere profundamente da realidade interior.
No Brasil, ao analisar as diferenças de percepção entre o investidor estrangeiro e o local, a comparação com a obra de Wilde é inevitável. Os fluxos de investimentos seguem altos e dão sustentação ao dólar, que, mesmo com ruídos no front econômico, chegou a ser negociado abaixo de 5 reais. As declarações que põem em dúvida a independência do BC atrapalham, mas não a ponto de diminuir o apetite do exterior com o Brasil. O investidor local, desgastado como o retrato de Dorian Gray, aproveita o momento para aumentar a exposição em dólar: também acreditamos que o nível atual é uma boa oportunidade de compra de dólares.
No exterior, ainda usando a literatura inglesa vitoriana como inspiração, os desafios da economia americana nos transportam para “O médico e o monstro: o estranho caso do dr. Jekyll e sr. Hyde”.
Nessa semana, o FED fixou a taxa de juros em um intervalo de 4,5% e 4,75%, um aumento de 0,25%. Em entrevista após a decisão, Jerome Powell indicou novos aumentos, mas se demonstrou satisfeito com a trajetória inflacionária após o início do ciclo de alta de juros no ano passado. O mercado, otimista, interpretou que o fim das altas está próximo. Nessa sexta, no entanto, os números do mercado de trabalho e desemprego apontam para uma economia ainda aquecida, o que pode frustrar os planos da autoridade monetária americana. Como o romance de Robert Louis Stevenson, os sinais mostram que não há consenso a respeito da dose do remédio necessária para o controle da inflação.
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