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semibreve
por dora guerra 
edição 128 ✶ enviada em 29-03-2023
bom dia, bom dia. retorno aqui das férias com muuuuitas maluquices para cobrir, reportar e comentar. confesso que fiquei até perdida.

temos, por exemplo, uma edição eventosa de um festival que colocou a gente pra questionar tudo: dos bastidores, os contratos, os serviços prestados, até a forma que os shows são recebidos nas telas de celulares e televisões. no meio do caminho, vi alguns colegas jornalistas sendo atacados por algumas opiniões (umas relevantes, outras realmente sem pé nem cabeça). o drake virou o inimigo público número 1 do brasil (será que foi contratado como cortina de fumaça pro caso das joias do bolsonaro?). o primavera vai ser em interlagos, e a aurora pode ou não vir a ter um baterista nazi. 

e tudo isso quase me fez esquecer de algo muito importante: a billie eilish faz um show do c*ralho.

vamos lá?


nesta semibreve vocês irão encontrar: um compilado frenético de acontecimentos, críticas, rock indie/tristeza pura, geração tiktok
semana passada pedi:
bons links no soundcloud
 evelyn marchant manda maria tinha olhos azuis - anelise furquim
 kleber vinicius vem de kemistry & storm feat. mc flux - dj storm dnb
 zhoy indica lockjaw - flume & chet faker
 maíse sanches representa o grupo kpopper e avisa: vale ver o soundcloud do taeyong do NCT 
 henrique schimith manda um remix de SOPHIE, feito pelo DEGRAV
 rômulo candal indica the beauty room II - the beauty room
 andressa melo recomenda OBSESSED POST-FRAILTY EXTENDED MIX de ⓸
 flávio chubes manda the rainbows - heart of marble stone, de kamil jankowski
 pedro galvão manda esse set de kiara felippe
 pedro chamberlain vem com esse set de house de músicas de videogame, do dj dedeco
 e gregório fonseca manda essa fita demo do pato fu... chamada pato fu demo
o que tá rolando
– notícias do mundo musical em tempo quase real
✶ rolaram denúncias de trabalho escravo no lollapalooza, como você deve ter visto; calcula-se que cerca de 800 funcionários tiveram seus direitos trabalhistas gravemente violados. falo mais disso ali embaixo.
✶ rolou o show de despedida do skank, no mineirão. o evento vai render um DVD (que hoje, acho que é uma expressão usada pra descrever shows-no-youtube). eu estive no fatídico dia e fiz uma review pra popload.
✶ o drake odeia tudo que vem do brasil – exceto o dinheiro.
✶ o primavera sound vai acontecer em dezembro, agora em interlagos e por realização da t4f; rumores de shows de halsey, kendrick lamar e fka twigs.
✶ aparentemente, o baterista da aurora é neonazi. ela (e ele) dizem que não. 
semiagenda

lançamentos das próximas semanas: 
boygenius, adriana calcanhotto, chloe, daniel caesar, ellie goulding, mudhoney, thomas bangalter
você não perguntou, mas eu te recomendo:
duas recomendações rock, indie e tristeza pura, pela querida amélia do carmo:
  • from another sky - emelia austin: "nada melhor que se encasular profundamente ao som de um bom, jovem, subestimado indie rock – perfeitamente apropriado o lançamento deste ter sido feito pela gravadora de nome “anxiety blanket”, ele, sim, nos cobre terapeuticamente". 
  •  i need to start a garden - haley heyndericx: "seguindo o fio dos cobertores-indie, um bom embalador da melancolia de outono, essa que só pode ser sentida ao som de um violão de nylon (ou também guitarra semi-acústica) acompanhando, quase só, uma amanteigada voz feminina".
se ouvir algo que a semibreve recomendou e quiser mostrar ao seu instagram o seu bom gosto impecável, marca @asemibreve pra eu saber... e provar que tem gente que lê a newsletter!
 
as músicas dessa seção e outras recomendações das últimas edições estarão na playlist fev/mar23. desculpa, tá no spotify a playlist... mas se você tiver spotify, segue lá. 
 

sobre o lollapalooza, dois pontos:

- os cancelamentos. todos nós nos assustamos com o alto índice de cancelamentos de shows no festival – dois dos headliners e uns quatro nomes menores cancelaram suas participações, fazendo com que o lineup oficial fosse bem, bem diferente. o g1 fez uma matéria bem interessante sobre como funcionam os contratos, se a multa de cancelamento é mesmo 5 reais e uma coxinha, etc. esse processo também vem expondo outro problema: o cachê baixíssimo para artistas nacionais, versus milhões prometidos ao drake que, como lembramos, odeia pobre.
- agora, vamos lá: o trabalho escravo. nem sei por onde começar. há inúmeras acusações contra o festival, que apontam centenas de pessoas trabalhando sem os direitos básicos – trabalho escravo, basicamente. não é o primeiro ano que isso acontece, mas confesso que foi o primeiro ano que eu me dei conta das notícias. enquanto público, ficamos meio perdidos mesmo: a gente só queria ver um show que a gente gosta e, de repente, isso soa como conivência com um caso tão brutal.
o que fazer? primeiro, se informar. essa thread reconta bem o histórico desses festivais (não, não é só o lolla) e é uma boa forma de começar. os maiores festivais do brasil estão nas mãos das mesmas duas ou três produtoras, que cometem o mesmo absurdo com frequência e a certeza de que, até a justiça baixar, o negócio já aconteceu. ou seja – a gente tem que ficar muito atento daqui pra frente.
além de pressionar a t4f e a yellow stripe, vale expressar apoio ao projeto da erika hilton, pressionar marcas patrocinadoras e tudo o mais. pode comemorar seus shows preferidos do festival, mas é com a mão na consciência do privilégio e do absurdo que envolveu, sim. e se a gente continuar nessa linha, é caso de boicote.
seção fiona apple
– a "palestrinha"

hoje eu queria refletir sobre umas das várias reflexões que esse eventoso lollapalooza trouxe. 

teve gente falando que tinha um possível playback no show da billie eilish (até onde consegui ver e documentar, não vi nada disso). aí, no meu twitter, alguém se disse estarrecido por não ver uma reação negativa ao tal playback, por entender que os fãs hoje não se importam com a música ser tocada ao vivo ou a qualidade com que isso é feito.

mentira, eu acho, mas tá bom.

aí veio outra pessoa (eu devia ter tirado prints pra dar nomes aos bois, mas perdi onde foi a discussão) e afirmou o seguinte: nas gerações anteriores, artistas eram valorizados pelo seu virtuosismo – a banda de rock, pelo mais difícil solo de guitarra –, e hoje, são valorizados pela personalidade, por idolatria, por quem eles são em cima do palco; não o que são capazes de tocar ao vivo.

já isso, eu concordei.

muito é dito pra afirmar, naquele susto geracional, que os novos formatos, artistas e performances são inválidos. que o bom era a época sem celulares nos shows, o show que não ia parar no tiktok, a virtuose explícita, anti-eletrônica e por aí vai. e às vezes até a gente cai nesses discursos: esses dias mesmo fiz o papo pró-celular em shows com um amigo não muito mais velho, defendendo a necessidade dos baixinhos (como eu) de até enxergar melhor o que acontece… e a necessidade de todos de, poxa, registrar um pouco do que se vê ali. 

fato é que o show não é só mais o que acontece no palco: ele é a pessoa ali presente, é o que você vê em casa, revê no celular, ouve histórias sobre. é um crime se adaptar para essas mil variáveis, entender seus diversos públicos – como rosalía, que controlou as imagens transmitidas para o público em um show que se apresentava tanto para os presentes, quanto para os que a viam de longe?

e se você tem diversos públicos para atender em múltiplos formatos, faz sentido responder a eles com uma afirmação de si enquanto artista, mestre de cerimônia, não necessariamente enquanto só musicista. essa nova dimensão existe desde que os videoclipes são uma instituição – agora, só se potencializou.

é o visual, o porte do artista, o manejo das imagens, a música nova ali tocada pela primeira vez e que, claro, vai repercutir pra além do presencial. chamar esses elementos de possíveis distrações "do que é o ponto verdadeiro, a música" é um pensamento praticamente arcaico e não se sustenta; se você já viu um videoclipe na vida, já derruba esse argumento imediatamente. 

tá, mas os sustos e questionamentos são válidos? claro. na medida em que as nossas dinâmicas são constantemente tensionadas pelo novo do novo do novo, a gente tende a se assustar. normal. normal sentir falta do não-playback, das telas horizontais ou dos tempos mais simples, sem celulares em shows. mas o novo momento é esse – viver o momento – por outras perspectivas difusas e frenéticas. tudo bem. tudo bem assustar, também.

eu tendo a acreditar que um excelente show, como os de billie e rosalía que tiveram lá ocasionais críticas, é lido como um excelente show pela maioria. se na comunicação o importante é que o emissor comunique e o receptor receba com o menor ruído possível, penso desse jeito simplista mesmo – no show, o importante é o artista se apresentar e o público curtir, com o menor ruído possível. pergunte à maioria de quem esteve nos shows e eles te responderão com entusiasmo.

essa foi a moral que o chris martin me ensinou, pelo menos, ao convidar régis tadeu para ver seu show – e dizer subliminarmente que a opinião dele não importaria, perto dos outros milhares de fãs ali encantados com o espetáculo; não é o régis que vai conseguir afirmar, naquela multidão, que não se trata de um bom show. pirotécnico demais? talvez. mas se 50 mil pessoas saem de lá comovidas, não há muito o que dizer.

as coisas nem tão mudando tão rapidamente assim – não subiu um chatgpt no palco ainda, então dá tempo de acompanhar. dá tempo de ver que as mudanças fazem sentido, que os ótimos shows seguem ótimos e que o celular, que tá aí há um tempo, não acabou com a música. (mas vale dizer que ainda sou contra playback). 

ok, boomer?

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