Para entender a ruptura é preciso contexto

26/08/2019

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O genoma como política pública de saúde

Pela primeira vez na sua história, o National Institute of Health (NIH), centro de pesquisa do Ministério da Saúde dos Estados Unidos, considerado a Fiocruz deles, vai compartilhar dados de uma pesquisa de forma individualizada. Cada participante de seu programa de medicina de precisão "All of Us"  receberá os resultados de seu teste genético. Para fazer isso, o NIH investirá US$ 4,6 milhões em uma Healthtech, e a escolhida foi a startup Color, que vai ajudar os participantes a entender o que os resultados dos testes genômicos significam para sua saúde e a de suas famílias.

Mais de 30 mil pessoas receberão informações acionáveis ​​sobre problemas sérios de saúde, segundo o NIH e mais de 90% dos participantes obterão fatos úteis sobre o quão bem eles podem responder a certos medicamentos. É provável que os insights disponíveis se tornem mais valiosos com o tempo, à medida que aprenderem mais, como resultado desse esforço. “O recurso de aconselhamento genético ajudará nossos participantes a interpretar e agir de acordo com suas informações de saúde", disse Eric Dishman, diretor da All of Us.

A medicina de precisão é uma abordagem emergente para o tratamento e prevenção de doenças que considera as diferenças no estilo de vida, nos ambientes e na composição biológica das pessoas, incluindo os genes. Mais recentemente, o tratamento de certos tipos de câncer passou a usar terapias direcionadas ao DNA dos pacientes. Ainda assim, há muitas perguntas não respondidas que deixam os indivíduos, suas famílias, suas comunidades e a comunidade de assistência médica sem boas opções.

Por meio do programa, o NIH também espera fornecer aos pesquisadores dados genéticos anônimos e de código aberto que possam revelar tendências populacionais e melhorar a compreensão dos pesquisadores sobre a saúde da população dos EUA. “É uma oportunidade para indivíduos de toda a América serem representados em uma pesquisa e se tornarem pioneiros na próxima era da medicina”, disse o diretor do NIH, Francis S. Collins, MD, Ph.D.

Para realizar o programa o NIH financiou mais de 100 organizações, além da Color, de grupos comunitários a centros de saúde, centros médicos acadêmicos e empresas privadas, para desenvolver os protocolos e sistemas tecnológicos do programa, inscrever participantes e coletar e armazenar com segurança as informações e amostras biológicas para uso em pesquisa. Até agora, 230.000 pessoas se inscreveram no programa, sendo que 175.000 desses indivíduos completaram o protocolo principal. O objetivo é chegar a 1 milhão de participantes.

O custo de analisar um genoma humano completo caiu drasticamente desde 2001. Em setembro de 2001, a conta para sequenciar um genoma nos EUA era de US$ 95,3 milhões. O valor despencou para US$ 1,3 mil em fevereiro de 2019, segundo dados da NIH. Nesse link é possível conferir os dados agregados do programa All of Us.

  • Na Finlândia, o FinnGen Project,  parceria de pesquisa público-privada, pretende levantar 500 mil amostras genômicas (cerca de 10% da população finlandesa) para ajudar a entender as origens de doenças, priorizar tratamentos medicamentosos e propor novas terapias.

  • Os testes genéticos domésticos viraram um grande negócio nos EUA. A 23andMe, fundada por Anne Wojcicki há 13 anos, foi pioneira no tema e oferece um teste genealógico, com a inclusão de dados básicos de saúde, por menos de 200 dólares. Não é o sequenciamento completo, mas Wojcicki tem se defendido das críticas de que poderia criar mais alarme do que benefício, alegando que está democratizando o acesso a dados genômicos sem que as pessoas dependam de médicos.

5G mudará a IoT para melhor

A Internet das Coisas é uma das tecnologias que serão fortemente impactadas pela chegada do 5G. Mas qual o tamanho dos efeitos desta união, e de que maneira o 5G poderá ajudar a desbloquear o enorme potencial da IoT para empresas e consumidores?

Entre as muitas maneiras pelas quais o 5G mudará a IoT para melhor está o uso de redes mais robustas, com várias camadas. O fatiamento de rede também é uma nova abordagem que pode fornecer muitos serviços.

O novo padrão será vital na adoção generalizada da Internet of Vehicles (IoV) e dos veículos autônomos, além de estimular o rápido crescimento em aplicações V2X, gerenciamento de frota e direção remota.

Outro caso de uso promissor é o provimento de conectividade para grandes redes de sensores em instalações industriais, ajudando a alimentar aplicações de gêmeos digitais.

"Falta de noção" sobre digital agora vale demissão

A ignorância sobre aspectos básicos da economia digital está custando o emprego de executivos de grandes empresas, no exterior e no Brasil. E ao que parece não dá mais para fazer "cara de conteúdo" na reunião de diretoria para garantir o emprego, conforme reportagem do jornalista Fernando Scheller, publicada no jornal O Estado de S.Paulo.

Há pelo menos cinco meses, a consultoria Exec vem aplicando testes (escritos e depois orais) a pedido de grandes empresas que querem testar a proficiência das equipes de TI e de negócios em temas como internet, e-commerce e comunicação em tempo real. Os testes foram criados pela empresa espanhola Foxize, de educação e formação executiva, representada no Brasil pela Exec.

Uma pesquisa da empresa espanhola com mais de 30 mil executivos em 25 países mostrou por exemplo que apenas 22% dos CEOs e diretores de grandes empresas têm bom conhecimento sobre o tema. Os 78% restantes ainda lutam para entender o contexto da transformação digital.

No site da Foxize é possível fazer os testes - no plural, porque são 16 diferentes, dependendo da sua área de atuação - de conhecimentos básicos de economia digital a inbound marketing e metodologias ágeis. As perguntas podem ser muito genéricas, como por exemplo "o que é a internet" ou mais específicas, sobre técnicas de SEM e SEO. Na dúvida, prepare-se. 

  • Só 12% das empresas tiveram êxito total na transformação digital até agora, diz Patrick Litre, sócio da Bain & Company, em uma entrevista ao Estadão. Litre, que é líder de transformação digital da consultoria, diz que os principais obstáculos são os silos e mentalidade territorial dos líderes. "O mundo digital não respeita departamentos, exige soluções multidisciplinares". 

  • 20% das iniciativas fracassam por não conseguirem completar sequer 50% dos objetivos estabelecidos. "A grande maioria fica no meio termo, com 50% a 60% das metas atingidas", afirma Litre.

  • Abrir mão do controle é a lição mais dura que os executivos precisam aprender para realizar a transformação digital. A mudança de verdade nasce em plataformas e é alimentada pela rede, em modelo de cocriação. Não é fácil planejar para perder o controle, mas é necessário, diz o consultor Dion Hinchcliffe.

Os CEOs cedem a um novo capitalismo

Propósito é uma das palavras mais usadas nesses tempos de startups, empreendedorismo e economia digital. E qual seria o propósito de uma corporação? Até a semana passada, segundo os Princípios da Governança Corporativa escritos desde 1978 (versão mais recente de 1997) pela coalizão de empresas norte-americanas The Business Roundtable, uma corporação servia com o único propósito de atender seus acionistas.

Na semana passada o jogo mudou, quando um grupo de 188 empresas integrantes da Business Roundtable capitulou ao rolo compressor da disrupção digital e da crise de confiança dos consumidores, e lançou um novo Statement on the Purpose of a Corporation (Declaração de Propósito de uma Corporação) a ser incorporado aos princípios da governança, que estabelece que o propósito das corporações é atender o interesse de vários stakeholders, antes dos shareholders. E fazer isso garantindo inclusão e diversidade, duas outras palavras repetidas à exaustão nesses tempos digitais.

E a lista de stakeholders inclui, nessa ordem, os clientes, os funcionários, fornecedores, comunidades e acionistas. No comunicado liberado para a mídia, Jamie Dimon, presidente e CEO da JPMorgan Chase & Co. e presidente da Business Roundtable, declara que "O sonho americano está vivo, mas desgastado ". “Os principais empregadores estão investindo em seus trabalhadores e comunidades porque sabem que é a única maneira de ter sucesso a longo prazo".

Parece um adeus definitivo aos princípios formalizados pelo economista Milton Friedman, Nobel de Economia, em 1970, que escreveu que "a primeira e única responsabilidade de uma empresa era se engajar em atividades que aumentassem seus lucros" para fazer dinheiro para os acionistas. Resta saber se as 300 palavras do texto serão colocadas em prática para gerar esse novo modelo de capitalismo consciente. 

Como aprender qualquer coisa rapidamente

20 horas, é o tempo que você precisa para aprender qualquer coisa. Quem garante é Josh Kaufman, autor do bestseller "The Personal MBA: Master the Art of Business", que foi traduzido para o português com o título Manual do CEO: Um verdadeiro MBA para o gestor do século XXI. Josh é especialista em oferecer soluções pragmáticas para resolver qualquer coisa e explica seu método das 20 horas no livro "The First 20 Hours: Mastering the Toughest Part of Learning Anything". Na apresentação feita no TED, Josh detalha os 4 pontos do plano. Em tempos acelerados, nos quais é preciso dominar vários skills, #ficaadica. 

A terceira recessão tem raízes tecnológicas

Nouriel Roubini é taxativo: diferente da crise financeira global de 2008, que foi principalmente um grande choque negativo na demanda agregada, a próxima recessão (que é esperada para 2020) terá origem em três diferentes choques de oferta negativos permanentes resultantes da guerra comercial e tecnológica entre Estados Unidos e China. E essa recessão não poderá ser contida por estímulos monetários e fiscais, como a outra.

Um desses choques envolve a competição pelo domínio sobre as indústrias do futuro: inteligência artificial (IA), robótica e 5G, entre elas. Na visão de Roubini, a guerra comercial e cambial e a competição pela tecnologia se amplificarão mutuamente. “Com empresas nos EUA, Europa, China e outras partes da Ásia tendo refreado as despesas de capital, o setor global de tecnologia já está em recessão. E a única razão pela qual isso ainda não se traduziu em uma crise global é que o consumo privado permanece forte”, diz.

Partindo desse cenário, a equipe do The Information decidiu perguntar a analistas, empresários e economistas como uma recessão poderia impactar diferentes setores da economia digital. E como ela afetaria, por exemplo, o humor do venture capital, fundamental para a expansão das startups. Nesse caso, 2020 pode não se comportar como 2008, já que muitas lições foram aprendidas e há um certo vigor de caixa em fundos como o bilionário Softbank Vision Fund 2. Mas alerta para cautela dos empreendedores, especialmente os que queimam muito caixa, como entregas e micromobilidade.

E a União Europeia engrossa o caldo

Autoridades da União Europeia elaboraram um plano agressivo de 173 páginas que visa, ao mesmo tempo, combater as mudanças comerciais protecionistas de Donald Trump e proteger as empresas europeias de tecnologia na briga contra as Big Tech dos EUA (Apple, Amazon, Facebook, Google e Microsoft) e da China (Baidu, Alibaba e Tencent).

O plano - que ainda não teria sido apresentado à nova presidente da UE, Ursula von der Leyen - é criar um “Fundo Europeu para o Futuro”, que investiria mais de US$ 100 bilhões em participações acionárias em empresas europeias de alto potencial, capazes de concorrer com as gigantes da tecnologia americanas e chinesas.

O documento também busca medidas mais rigorosas para impedir que companhias chinesas participem de licitações na Europa para penalizá-las pelo nível de subsídios que recebem do governo em Pequim. Já para enfrentar as ameaças de Donald Trump, os burocratas europeus propõem uma nova estrutura altamente agressiva para aplicar tarifas unilateralmente aos Estados Unidos.

A UE e alguns países europeus têm estado na vanguarda da regulamentação da privacidade dos dados, com medidas antitruste e tributárias, como o GDPR, o imposto digital de 3% da França sobre as Big Tech e as multas por conduta anticompetitiva. Fortalecer as empresas locais através de investimentos é outro jeito de atacar a falta de competitividade em tech. Para o colunista da Bloomberg, Ferdinando Giugliano, esta seria a próxima "má ideia" da UE.

Mapeando o estado da transformação digital

E aí, como anda a transformação digital na sua empresa? A Raconteur resolveu compilar uma série de estudos de 2018/2019 sobre o tema e montou um infográfico esclarecedor. Um dado relevante é que 46% dos executivos senior de TI de grandes empresas acreditam que precisam aumentar sua familiaridade com tecnologias emergentes para prosseguir relevantes na tarefa de encaminhar os investimentos. E 61% das empresas veem os retornos sobre os investimentos em digital transformation como estratégicos, pagando-se em longo prazo. O legado, sempre ele, continua infernizando a vida dos transformadores: 59% considera difícil incluir novas tecnologias ou modificar as preexistentes. 

Venture capital aumenta aposta no Brasil

Os investimentos dos fundos de venture capital e private equity no Brasil continuam crescendo e, se o ritmo se mantiver, vão ultrapassar 2018 com alguma folga. A Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP) e a KPMG soltaram relatório mostrando que, entre janeiro e junho de 2019, startups locais receberam um total de R$ 7,4 bilhões em investimento, somando aportes de R$ 3,4 bilhões de venture capital e R$ 4 bilhões de private equity.

A soma de todos os investimentos representa 54% do total de 2018 (R$ 13,5 bilhões). A projeção do estudo é de 2019 terminar com R$ 6,8 bilhões em investimento de venture capital. O total de empresas investidas foi 115 - 76 em venture capital e 39 em private equity. Em 2018, o total do ano foram 202 empresas. O destaque é a atração cada vez maior de investidores estrangeiros. 

O setor que mais atraiu investimentos foi o de Fintechs e Insurtechs (21 empresas), seguido de software (13 empresas) e de healthtech (10 empresas). O valor médio investido por empresa na primeira metade de 2019 foi de R$ 64 milhões.

O garimpo da semana

  • Bitcoin e blockchain estão longe de serem anônimos. Uma nova pesquisa comprova que os agentes da lei não só podem rastrear transações e como até mesmo identificar quem as está fazendo.

  • Mas autoridades e organizações  que rastreiam o financiamento do terrorismo estão cada vez mais alarmadas com a adoção do Bitcoin e outras criptomoedas por terroristas islâmicos.

  • A Bakkt, tão alardeada bolsa de ativos digitais criada pelo dono da Bolsa de Nova York, acaba de receber autorização dos reguladores para iniciar operações em setembro.

  • O governo chinês acaba de revelar um plano de três anos para regulamentar fintechs. A China é o lar de algumas das maiores fintechs do mundo, como Ant Financial Services, Tencent e JD.com. A íntegra do plano ainda não foi publicada.

  • Ações simbólicas, cuidadosamente executadas, são essenciais para vencer o desafio de fazer uma transformação cultural, aponta um relatório da McKinsey.

  • A Volocopter revelou o design do seu primeiro táxi aéreo autônomo comercial, o VoloCity. Não é muito diferente do protótipo testado em Dubai, em 2017 e em Las Vegas, na CES 2018. O novo modelo pode transportar dois passageiros e sua bagagem de mão, e tem autonomia para percorrer 35 km, atingindo a velocidade de 110 km/h.

  • Computadores são muito ruins em gerar números aleatórios, essenciais para quem trabalha com criptografia. Mas a Cloudflare, desenvolveu um método nada convencional para encontrar aleatoriedade confiável. Por que isso é tão importante?

  • O trio JPMorgan, Goldman Sachs e Citi já investiu em 22 startups financeiras só este ano. Que tal conhê-las melhor?

  • Já viu o Mindar, padre robótico andrógino que tem feito sermões simples, projetados para estimular o interesse pelos ensinamentos budistas? O robô prega, mas ainda não está programado para conversar com seus discípulos.

  • 18 riscos do mundo real e digital para antecipar e se defender.

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