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13/09/2019

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Renata Vinhas, consultora de Inovação Aberta da Votorantim Cimentos (divulgação) 

Os alicerces da inovação

Há 3 anos e meio ela é responsável por prospectar desafios, implementar e gerenciar os programas de Open Innovation em um grande conglomerado industrial latino americano, o Grupo Votorantim. Primeiro, na Votorantim S.A. e, depois, na Votorantim Cimentos, onde desde março deste ano atua como consultora de arquitetura de soluções de Inovação Aberta.

A missão de Renata Vinhas é coordenar a plataforma VC Conect, lançada este ano com o propósito de solucionar os principais desafios da companhia, ligando as diferentes áreas com o ecossistema de inovação.

O foco da VC Connect é manter um fluxo contínuo de desafios, prospectando soluções para os mais variados temas dentro da Votorantim Cimentos, ajudando a acelerar a jornada de transformação da companhia para além do setor da construção civil, como você verá nessa entrevista.

“E minha meta é lançar 5 desafios este ano, através da plataforma. Já cumpri mais da metade. Temos três desafios em andamento, para diferentes áreas: finanças, indústria 4.0 e RH”, comenta.

Renata é o que chamamos de vetor da ruptura. Aquela pessoa que tem o papel de contaminar e inspirar a companhia a permanentemente buscar a inovação.

Com a flexibilidade necessária para se adaptar às novas necessidades do mercado, usando as tendências e evoluções tecnológicas para aproveitar melhor os recursos, evoluir os processos e atender melhor seus clientes atuais e futuros. Tudo isso por meio de parcerias sólidas com startups, fornecedores, universidades, centros de pesquisa, órgãos de governo e fundos de investimento.

Disrupção é ...

"É se reinventar a todo momento, conforme as condições do mercado. Sempre me lembro das aulas de gestão... Da questão de observar o mercado e avaliar até que ponto vale a pena ser disruptivo em função das condições do próprio mercado e da concorrência. Então sempre analiso a disrupção não só por ela, em si, mas também pelo que está acontecendo no entorno e no meio.

Hoje a gente pensa muito além do cimento. Temos muitas áreas não óbvias, como a de insumos agrícolas que, entre outras coisas, produz um protetor solar para plantas. Algo que me surpreendeu quando cheguei. Jurava que toda planta precisasse de sol... Temos também a Engemix, que está em um processo de transformação digital muito forte. E que, como nós, vem se muito questionando muito sobre oportunidades e modelos de negócio que podem surgir do nosso core, da nossa atuação.

No Votorantim.Hub, a empresa mostrou claramente que ela está deixando de ser uma empresa da construção civil e começando a ser uma empresa de soluções e serviços. Não chega a ser uma mudança brusca, porque a gente tem que acompanhar o mercado, as condições econômicas do país, etc, mas é um grande movimento que vai levar a um novo posicionamento.

A ideia é agregar serviços e soluções para deixar de ser apenas um fornecedor de cimento, concreto, calcário agrícola...

Isso está bem caracterizado no “Juntos Somos +”, que é um programa de fidelidade para o varejo da construção civil nascido e incubado na Votorantim Cimentos, em 2014. Ele se transformou em uma empresa independente, que tem como acionistas a própria Votorantim, a Gerdau e a Tigre. Queremos ter outros “Juntos Somos +”. Tenho certeza que outros modelos de negócio sairão dos nossos ciclos de inovação aberta.

A solução que a Engevix está desenvolvendo com o Senai Cimatec é outro bom exemplo de um projeto que resolve uma dor do cliente e uma dor do mercado de construção civil, através de uma solução inédita no mundo. Algo que vai muito além dos ganhos para a própria Votorantim Cimentos.

Ter um dispositivo na própria betoneira que mensura o fluxo de entrega e imprime um ticket informando a quantidade de concreto descarregado é ter como comprovar para o cliente que, de fato, a quantidade entregue é exatamente aquela comprada. Essa certeza é algo crítico para nós e para os nossos clientes.

Embora ainda seja um protótipo, em estágio de desenvolvimento, pretendemos transformar a solução em produto, fazer o rollout e aplicar em todas as betoneiras da Votorantim, tão logo a gente atinja o máximo de assertividade possível na entrega.  Algo que vai contribuir para a Engemix levar a boa prática da formalização ao mercado, além de facilitar o controle de custos pelo cliente, tornando a relação cada vez mais transparente e confiável.

Esse projeto também é um bom exemplo da parceria da Votorantim com os centros de pesquisa realizado pela área de inovação aberta.

Em todos os desafios olhamos sempre para os dois lados, startups e centros de pesquisa e inovação.

O caminho pela startup é mais ágil, mas cria uma demanda interna de gestão da startup. A curva de aprendizado e monitoramento é maior. Já o caminho com o centro de pesquisa, não. Eles fazem toda a gestão do projeto. Então, além de recursos e de conhecimento externo, trazem mais braços para a nossa operação, mais inteligência.  

Há vantagens e desvantagens em cada umas das duas frentes de trabalho, a VC Connect, que se relaciona com as startups, e a outra que interage com os centros de pesquisa e inovação.

Estamos agora em um momento de ampliação desse trabalho com organizações de pesquisa. Há desafios de P&D sigilosos, restritos, que a gente faz dentro de casa. Mas tem muita coisa que a comunidade de pesquisa pode ajudar a resolver. Por isso a gente vem sempre acompanhando os editais, para aproveitar e se conectar com o tema. De alguns a gente já está participando, como o ABDI Indústria e o ABDI Conecta. 

É um processo de inteligência que a gente tem obrigação de ter. Afinal, nosso trabalho é ajudar a alavancar outros caminhos que não os tradicionais. E acho que a gente tem tido muito sucesso nisso. A gente procura calibrar bem o que a vai procurar no mercado. Muitas vezes não há a necessidade de lançar um desafio. Vou lá, me conecto com a startup e resolvo o problema.

Cimento é um setor tradicional, mais conservador, que tem muitas oportunidades de melhoria. Em Indústria 4.0 temos muito a fazer.

Um dos desafios de Indústria 4.0 lançados foi para a área de agregados, pedra e areias extraídas por meio da mineração e da britagem. São quatro plantas com problemas operacionais que podem ser evitados se mapeados antecipadamente.

O desejo da área é ter uma solução que consiga simular todo o processo, para prever alterações no ritmo de produção e nos fluxos de caminhões e tomar melhores decisões. É um simulador, uma espécie de gêmeo digital, embora ao lançar o desafio a gente não diga isso para não induzir as startups. Deixamos em aberto.

Nunca escrevemos que tipo de solução temos em mente, para não influenciar o processo.  A metodologia é sempre essa. O desafio da área financeira, de meios de pagamento, é emblemático nesse sentido. Estávamos abertos a qualquer proposta, mas não estávamos pensando em open banking. Foi uma possibilidade que surgiu durante o desafio.

O problema a ser resolvido era o de substituição do boleto. Mais de 90% dos pagamentos são a prazo. Emitimos mais de 100 mil boletos por mês. Aí olhamos para o mercado de fintechs e suas diversas soluções e pensamos se não seria possível trazer algo que agregasse valor para a área de crédito da Votorantim Cimentos.

Como bem disse a diretora da área, começamos querendo substituir o boleto e podemos acabar substituindo o banco, já que a solução selecionada endereça o conceito de open banking, abrindo a possibilidade operarmos como um banco.

Antes de lançar qualquer desafio, também fazemos uma análise prévia. Avaliamos se ele é factível para ser um desafio ou se já existe alguma solução no mercado que nos atenda. Se existir, avaliamos a possibilidade de partir direto para sua contratação.  Porque lançar um desafio é algo complexo, que demanda tempo, envolvimento da comunicação, do jurídico...

Às vezes a gente encontra várias soluções que nos atendem totalmente, mas há variações entre elas. Então vale a pena fazer o desafio, porque posso chegar à conclusão de que ganho mais combinando essas soluções. O desafio da área de agregados, por exemplo, é um dos que provavelmente vamos ter que combinar soluções. São muitos processos em um desafio só.  Dificilmente vai aparecer uma solução que nos atenda de imediato.

Normalmente os desafios têm o mesmo padrão para as fases de comunicação e inscrição. A grande diferença está na etapa de prova de conceito [POC]. A gente normalmente muda o período dos testes em campo, que dependem muito do problema a ser resolvido. Se for algo relacionado à área financeira, envolvendo software e o ambiente corporativo, é mais rápido. Mas se for para fábrica, e eu tiver que parar a operação, aí vai levar mais tempo e requerer um bom planejamento, porque não posso impactar a operação.

O objetivo é ter uma solução rápida e eficiente.E a nossa função é manter o ritmo. A gente geralmente trabalha com períodos de um a quatro meses entre o lançamento do desafio e ter a primeira POC, para validação. O gerente de projeto fica muito em cima desses prazos, para não deixar o processo enrolar, porque isso não vai ser legal para empresa, nem para startup. Não fica uma relação saudável.

Nosso processo aqui é muito plug and play. A gente não investe na startup. A gente contrata a solução.

Tem projetos que até dá para selecionar startups early-stage.  Mas geralmente  preciso de uma solução pronta. Quando a gente abre as portas para as startups, elas têm a oportunidade de se tornarem fornecedoras da Votorantim Cimentos e até de outras empresas do grupo, porque a gente tem uma rede de inovação entre todas as empresas onde há muita troca.

Então as startups não vêm só pelo dinheiro. Vêm também por mentoria, potencial de escalabilidade do produto ou serviço, etc. É mais uma questão de smart money. No futuro vemos a área de inovação aberta como uma área que será absorvida pelas áreas de negócio.

Nossa área não deve durar para sempre. Open Innovation vai estar em cada área de negócio. Nosso desafio maior é que elas se apropriem das metodologias que estamos desenvolvendo, para que passem a olhar para as startups por conta própria.

O ideal é que a gente evolua essa agenda e cada empregado incorpore essa preocupação de olhar para o mercado, para as startups e a inovação, e seja continuamente provocado a melhorar sua atuação.  A inovação dever ser atribuição de todas as áreas.

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