Embora OCHA não esteja utilizando dados pessoais, em algumas bases, como as da UNICEF ou do ACNUR, há dados confidenciais que, embora não incluam atributos pessoais como nomes ou números de documentos, podem ser identificado facilmente, pois são plataformas de dados abertas. Se uma análise mais sofisticada for feita, pode haver um risco de identificação de pessoas.
Em um campo de refugiados, por exemplo, se há apenas uma pessoa com deficiência física e essa pessoa é uma mulher, isso seria possível identificar.
Agora, com o apoio da Comissão Europeia, o OCHA vai instalar uma infraestrutura segura na plataforma HDX, um algoritmo, que identificará vulnerabilidades. Como vulnerabilidades mudam constantemente, com hackers sempre procurando por brechas, a segurança de dados está agora em primeiro plano para as organizações, pois elas estão cientes da importância de investir para proteger seus dados, não apenas porque os novos marcos regulatórios em torno da proteção de dados exigem, como o GDPR.
Ataques também podem ocorrer em operações humanitárias, não apenas visando um único indivíduo. A HDX é uma plataforma de dados abertos, não tem nomes de beneficiários. Mas, obviamente, existem riscos de derrubar o site, ou usar indevidamente os dados, e isso é algo que olhamos com extremo cuidado.
Fica claro que a razão da criação do CHD não foi apenas consolidar a informação. O centro foi criado para informar políticas publicas de utilização de dados, e para oferecer treinamento. O CHD organiza workshops e webinars para o pessoal em agências humanitárias, priorizando os parceiros dedicados que são os principais colaboradores.
Em 2019, em parceria com a Data Literacy Foundation, fizemos uma ação desse tipo oferecendo treinamento interno no OCHA para seus oficiais de assuntos humanitários que trabalham em diferentes países. Um programa de três meses, uma semana em Haia, e depois alguns meses de treinamento e orientação remotos. Há uma grande demanda por outras partes da organização e parceiros para continuar fazendo isso.
Não estamos treinando pessoal técnico, porque profissionais da área de informática saberão como usar as ferramentas. Estamos visando realmente os tomadores de decisão que precisam fazer as perguntas certas.
Treinamos essas pessoas para que não tenham medo de usar o Excel, de usar essas ferramentas básicas. O workshop de data literacy é realmente importante. Trabalhamos muito na orientação sobre responsabilidade de dados, dentro do OCHA e com os parceiros que contribuem com os dados.
Outra linha de atuação também agora com a análise de dados e a modelagem preditiva (predictive modeling). Queremos usar a tecnologia para captar sinais relacionados à segurança alimentar, eventos climáticos extremos. Para também desenvolver um programa de financiamento automatizado. Tudo isso em um estágio piloto, ainda não totalmente operacional.
Os dados precisam ser confiáveis, é claro, pois é fundamental para que exista real valor. Mas é um processo lento. Como conseguir que os parceiros e as instituições confiem e colaborem? Na medida em que a confiança se estabelece, as instituições abrem suas bases de dados.
Lentamente, construindo relacionamentos, dizemos que estamos aqui para ajudar e tornar as coisas mais eficientes a nível do sistema. E fazemos isso trabalhando juntos, reunindo esses dados em um só lugar. E dando todo o crédito aos parceiros que estão compartilhando os dados e não a nós mesmos.
A primeira organização que ofereceu dados, em 2014, foi o Programa de Alimentação Mundial. Eles compartilharam seus dados de preços de alimentos e, em troca, a OCHA propôs construir uma interface de visualização de dados personalizada que mostrasse os dados ao longo do tempo, e eles poderiam incorporar essa interface de visualização e usá-los em sua plataforma.
Sempre houve um retorno para as organizações. Não se trata apenas de “sugar” dados, mas de construir um relacionamento, uma parceria, dando algo em troca. Então, através disso, criamos confiança, para que as pessoas saibam que somos bons parceiros, que queremos ‘o melhor para os dados’.
Os parceiros sabem que não vamos abusar dos dados. Isso, por sua vez, cria mais compartilhamento e mais demanda. Foi isso que realmente nos permitiu criar o centro.
Porque se o HDX não tivesse funcionado nesses primeiros anos, não poderíamos ter expandido para cobrir mais fluxos de trabalho e ter o calendário de iniciativas mais amplas, como o centro. Também devo dizer como somos financiados.
Nosso principal doador é o Ministério de Relações Exteriores holandês. Eles estavam muito interessados em dados e inovação e viram que nós também estávamos, então havia um alinhamento de visão. Isso saiu da Cúpula Humanitária Mundial, em 2016, quando houve um grande impulso para novas e inovadoras propostas."
"Uma das maiores oportunidades que temos é tentar usar os dados, e especialmente as ferramentas de análise preditiva para avançar, antecipar, prever, o que está prestes a acontecer e responder a emergências mais cedo".
Mark Lowcock, Subsecretário-Geral de Assuntos Humanitários (OCHA)
|