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BRAIN HUB - conectando mentes disruptivas

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Monica Meale, Head da Nestlé Health Science Latam (divulgação)

Muito além do alimento

Você é o que você come, já diz o velho ditado popular. Mas quando se trata da divisão de Health Science da Nestlé, o alimento deixa de ser um pacotinho calórico e nutricional para transformar-se a diferença que tira você do hospital mais cedo, ajudando a acelerar a cicatrização de uma cirurgia, ou fazer com que você fique muito longe do médico, ajudando a prevenir uma doença ou disfunção nutricional no futuro.

Que o diga Monica Meale, head da Nestlé Health Science Latam, que lidera suas equipes para pensar na tecnologia digital como elemento cada vez mais importante para ajudar os consumidores a ter mais qualidade de vida, apoiando os médicos e profissionais de saúde nos tratamentos e no entendimento da importância das terapias nutricionais, para muito além da comida. O que inclui lançar mão de projetos pioneiros com realidade virtual, QR codes e aplicativos móveis no Brasil.

Beyond Food, aliás, é nome do primeiro programa de aceleração de negócios de startups lançado pioneiramente pela Nestlé Health Science no Brasil no final do ano passado, que selecionou duas startups - Meplis e Insight Technologies -, dentre as 130 que se inscreveram, para receber até R$ 1 milhão e mentoria para acelerar projetos na área da saúde. Em fevereiro as startups começaram a trabalhar, muito próximas das equipes de Monica.

"A ideia do Beyond Food veio de saber que se a gente quiser realmente acelerar a inovação não precisamos fazer sozinhos", diz Monica, que tem uma opinião muito firme sobre como as empresas devem se comportar quando se trata de fazer a transformação digital: "é preciso aproveitar todas as oportunidades de contato com inovações, como a visita à SXSW no ano passado, por exemplo, para transformar insights em projetos acionáveis rapidamente".

Disrupção é...

"A gente sempre procura a disrupção nas grandes empresas, aquelas inovações que vão realmente fazer a diferença e nos elevar para um outro patamar. Só que, às vezes, as empresas ficam esperando alcançar uma grande disrupção que não é fácil acontecer. Mas é importante também olhar as pequenas transformações, que no final, acabam fazendo a diferença para os negócios.

Para a gente, em Health Science, disrupção é estar cada vez mais próximos dos nossos consumidores finais, e entendê-los. E fazer com que a jornada da doença, vamos dizer assim, seja melhor. Que as pessoas consigam passar por ela com melhor qualidade de vida e consigam chegar ao final do tratamento. Esse é o nosso objetivo.

Isso às vezes pode vir não só do desenvolvimento de produtos, mas de serviços ou do uso de novas tecnologias, e é aí o que a gente está ampliando o escopo do que seria inovação. Somos uma das divisões globais de negócios da Nestlé que tem como foco principal participar do mercado de Health Care e também desse mercado de Healthtech.

A inovação para nós é importantíssima. Sabemos de todos os benefícios dos investimentos em inovação, que 70% do retorno que a gente tem de vendas, a longo prazo, vêm desses 10% dos investimentos de inovação que a gente fez. Então é importantíssimo a gente estar acelerando, tem que estar, e foco não só para a parte de health, mas de pesquisa e desenvolvimento de ingredientes e novas tecnologias também, novos alimentos que a gente acaba também tentando prospectar e desenvolver.

Nós não somos uma indústria farmacêutica, mas podemos dizer que somos o braço 'mais farma' da Nestlé. Temos essa visão que precisamos estar atuando tanto na saúde, quanto na doença, do ponto de vista de alimentação.

Estamos divididos em dois negócios. Um deles mais focado e mais próximo do consumidor, que a gente chama de Consumer Care. Toda a atenção, desenvolvimento do negócio, estão voltados para produtos de nutrição que podem prevenir alguma doença ou alguma disfunção nutricional no futuro. 

Por exemplo, produtos direcionados ao bebê ou à criança que já tem alguma disfunção como a alergia à proteína do leite de vaca. Então temos uma fórmula totalmente hidrolisada, a base de aminoácidos, para diminuir esses sintomas quando a criança passa a ter uma alergia ao leite.

Sempre que existe a necessidade de uma prevenção, de uma atuação do ponto de vista de terapia nutricional, aí independente da idade, ela vai estar dentro do nosso negócio.

Temos um produto de fibras que é totalmente solúvel e que é indicado para regularizar o trânsito intestinal, para evitar constipação ou diarréia. Essa fibra está nos alimentos, é uma fibra alimentar. Só que para ter que ter os benefícios dessa fibra você teria que comer dois quilos de maçã, por exemplo. E isso é inviável. Mas a gente consegue concentrar essas fibras de uma forma que elas fiquem sem sabor, não mudem a textura, e que possam ser misturadas em sopas ou sucos mantendo os benefícios de uma fibra alimentar que você só conseguiria  se comesse os dois quilos de maçã. Esse é um bom exemplo de consumer care.

Usamos a tecnologia da indústria no desenvolvimento de produtos para dar acesso a uma terapia nutricional que vá impactar positivamente a vida do consumidor. Em uma ponta estão as indústrias farmacêuticas e na outra ponta a indústria alimentícia, a gente está bem no meio.

A gente quer tratar a nutrição da forma mais terapêutica possível. Para prevenir as doenças ou tentar ser coadjuvante ao tratamento da indústria farmacêutica.

A outra divisão é a de Medical Nutrition. Onde os produtos nutricionais são um pouco mais complexos. Eles são mais indicados para uma pessoa que tem uma doença instalada. Estamos falando por exemplo de produtos que, além do suplemento alimentar completo, possuem um kit imunomodulador, composto de três ingredientes: arginina, nucleotídeos e ômega três. E que ele é o kit imunomodulador mais estudado nas pesquisas de nutrição.

Esse produto tem mais de cem estudos clínicos. Os estudos mostraram que uma vez tomado esse suplemento antes de um trauma grande, como uma cirurgia, por exemplo, é maior a probabilidade de diminuirem as infecções e as complicações infecciosas da cirurgia, portanto ele pode sair mais rápido do hospital. E aí a gente trabalha muito próximo dos profissionais de saúde, com os estudos clínicos. A gente tem também outros tipos de produtos que são melhor absorvidos para aumentar o nível de proteínas quando um paciente em uma UTI mais precisa, para auxiliar a recuperação nesse período crítico.

E isso é feito com nutrição. É o que a gente chama de nutrientes farmacológicos. Imunonutrição. Nutrientes estimulando a resposta imunológica. Isso exemplifica um pouco do tipo de tecnologia em produtos que a gente se propõe dentro dessa nova divisão.

A ideia do Beyond Food veio de saber que se a gente quiser realmente acelerar a inovação não precisamos fazer sozinhos. E é por isso que a gente vem trabalhando muito próximos dos fornecedores, por exemplo. E isso já vem de muito tempo. Então desenvolver e trabalhar próximos da comunidade já faz parte do nosso DNA há muito tempo. Quando a gente pensa em transformação digital, também é uma questão de incluir esses novos fornecedores que temos que acompanhar, não?

E aí pensamos que determinadas startups focadas em Heatlhtech poderiam nos ajudar e acelerar a nossa prestação de serviços ou a acessibilidade a novas soluções. E por isso focamos em algumas áreas que seria mais interessante acelerar.

Foram mais de cinco meses de desenvolvimento, de briefings, discussões. O que eu achei mais legal também desse processo, foi que as equipes de business, são não só de Health Science, mas da Nestlé como um todo, trabalharam muito próximas das nossas áreas de negócios. Para você ter uma ideia, eles tiveram seções com os nossos representantes de vendas, que visitam os profissionais de saúde, que estão nos hospitais, nos consultórios, para entender realmente alguns pontos que seriam importantes na hora do briefing das startups.

Com essa abertura para todas as áreas de negócios, desde vendas, marketing, inovação, finanças, logística, todo mundo foi meio que envolvido. E é por isso que apareceram diferentes aspectos do negócio na triagem, incluindo o foco no paciente que está fora do hospital e que, às vezes, não tem acesso à informação e a um atendimento que teria quando está dentro de uma clínica ou de um hospital.

E não olhamos os produtos em si, mas como a tecnologia poderia estar auxiliando essa captação ou o serviço no pós, vamos dizer assim. E uma das coisas mais legais é que, hoje, esses sponsors continuaram como sponsors dos projetos, porque sabem que, no final, a implementação também depende muito deles.

Não adianta só escolher as startups. É preciso viabilizar a implementação dessas soluções. E ter um link com a ponta, com os nossos soldados, vamos dizer assim.

Nós somos super adeptos a novos conceitos de entender como é que você aproveita os dados ou para tratar melhor um paciente ou para desenvolver novas coisas. O fato de a gente ter escolhido essas duas startups  mostra exatamente isso. Hoje a gente trabalha muito com dados, principalmente porque nós temos uma força de vendas que está no campo. A gente trabalha com profissionais de saúde, a gente tem uma plataforma de educação médica que nos possibilita atingir um profissional de saúde não só aqui em São Paulo, mas também lá em Manaus. Tudo isso gera dados. E um dos nossos grandes pontos é a gente tem que avaliar melhor esses dados e conectá-los de uma certa forma.

O olhar externo, que veio dos dados, direcionou a triagem dos projetos e a escolha das duas startups.

Fizemos um tempo atrás um estudo epidemiológico em que a gente avaliou mais de vinte mil pacientes dentro de hospitais parceiros com a ajuda dos nossos estagiários de nutrição. Esse estudo gerou dados para duas publicações científicas. E descobrimos que mais de 50% dos pacientes hospitalares, no Brasil, têm ou desenvolvem uma desnutrição leve ou moderada. Mas quase 70% deles, dos idosos, são os desnutridos. Só que aí a gente percebeu que o tempo que ele passa dentro do hospital não é suficiente para ele corrigir a desnutrição.

Quando ele sai, o hospital perde contato com ele e ele não dá andamento a esse tratamento. E aí ele acaba voltando para o hospital muitas vezes por não seguir um tratamento nutricional correto. O paciente continua desnutrido, pega mais uma infecção pulmonar e volta para o hospital. E quando ele volta, começa o dado dele, de novo. Mas esse um mês que ele ficou em casa, o hospital não tem ideia do que aconteceu com ele em casa.

E essa desconexão é que nos fez realmente olhar um pouco mais para esse ambiente extra-hospitalar, que é um grande questionamento para os profissionais de saúde também. E por isso que a gente focou nesses outpatients, com essa conexão e a geração de dados.

A gente quer facilitar isso, essa captação, essa análise e talvez, para o futuro, fazer com que realmente a economia em Health Care possa ser melhor trabalhada.

A cultura corporativa ainda complica nas empresas a busca pela inovação, é verdade. Mas eu acho que há uns dois anos, a gente vem em um ritmo de transformação não só de inovação, não só digital, mas de todo o, vamos dizer, ambiente corporativo na Nestlé Brasil que favorece com que essas barreiras corporativas sejam rapidamente quebradas.

E esse projeto é realmente o resultado disso. Em cinco meses a gente já ter as duas startups mapeadas e estarmos implementando um piloto, há uns 2, 3 anos atrás, a gente estaria ainda pensando em como fazer um briefing. Mas eu acho que depende muito das lideranças e eu acho que a gente tem lideranças, hoje, na Nestlé Brasil que favorecem com a aceleração de vários projetos.

Não só todo o corpo diretivo, mas a nossa presidência, fomentam a quebra dessas barreiras. Mas isso não quer dizer que a gente não tenha que ter cuidados, principalmente com respeito aos nossos consumidores. E uma das coisas que é importante endereçar é a segurança de dados. E isso é um problema importantíssimo, por conta da nova legislação de proteção de dados. A gente está bem nesse momento, analisando todos os risco. Porque a gente vai trabalhar com dados dos nossos consumidores. Isso para a gente é fundamental. Os dados são importantes, isso já é fato. Agora, como lidar com eles e com a segurança devida é o ponto importante. 

Sobre inovação, eu vou te dizer que tem realmente um foco na transformação digital, das fábricas até nossos representantes. Porque você falar de terapias para os médicos, por exemplo, de como a nutrição pode ajudar, é um pouco mais difícil.

Então a gente tem que fazer uns malabarismos. E um dos pontos que a gente até conheceu no South by Southwest do ano passado foi como que a gente ganha, vamos dizer, atenção, foco e compreensão mais rápidos desses termos ou da terapia nutricional que não é familiar dos profissionais de saúde e dos médicos usando tecnologias como Realidade Virtual, por exemplo.

Estamos trabalhando com a equipe de campo para mostrar melhor o uso da terapia nutricional ou das nossas soluções nutricionais, usando a tecnologia de Realidade Virtual. Isso é um funding global para nós aqui no Brasil, já que o projeto foi desenvolvido aqui. Eles resolveram aportar esse dinheiro para trabalharmos com os óculos de realidade virtual. E que vão ser focados em dois conceitos: um que é a aceleração da cicatrização aí desse kit imunomodulador, desse produto que eu te falei. E o outro é o novo conceito que a gente está trabalhando de nutrição celular, quando a gente fala de célula a célula.

Quando você interage com isso é muito mais fácil você entender o que acontece dentro da célula, como as células vão ou como a cicatrização vai fazer, o quê que aquele ingrediente, por exemplo, a arginina, onde que ela entra, em que ponto da célula, para facilitar a cicatrização. Então isso tudo é novo, porque a gente tem que trabalhar, a equipe de marketing tem que trabalhar com conceitos novos com as agências, que tem que estar trabalhando como desenvolver isso para ser aplicado nos óculos, E a equipe de vendas treinada adequadamente para mostrar isso. A gente já está testando, com possibilidade para rollout em outros países do mundo.

A gente está começando a trabalhar com busca por voz também. E compra por gôndola virtual utilizando QR Code. 

Nós estamos apaixonados por tudo isso. Como levar isso para o nosso profissional de saúde? Como que ele pode ter melhor experiência? Como ele pode entender melhor o que é nutrição? Porque é tão importante ele entender isso e, às vezes, a gente não consegue tangibilizar isso que você está falando. Então vai ser bem legal, nós estamos animadíssimos.

E uma outra coisa que é simples e que a gente está trabalhando, que eu acho bem legal, é como essa parte digital com as nossas embalagens. E aí a gente vai lançar, em uma das nossas embalagens da nutrição celular, uma caixinha de dez centímetros, onde não dá para colocar muita coisa, QR Codes que podem ser lidos só com a câmera do celular.

O consumidor vai poder olhar e vai assistir um vídeo de como fazer a diluição, vai assistir o vídeo de ver o que acontece dentro da célula dele. E a gente quer levar essa experiência dele entender melhor o que ele está tomando. Acho que entendendo melhor o que aquilo faz no teu corpo é mais fácil de aumentar o compliance do tratamento. Então isso tudo a gente pode fazer com uma coisa simples como a embalagem. Isso foi uma coisa bem legal que já está assim sendo impressa, mês que vem já está nas gôndolas.

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