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Para entender a ruptura é preciso contexto

OFERECIMENTO
Bom dia, boa semana

Há 20 anos, a bolha dot.com acontecia e no final de semana, ela e a teoria do Cisne Negro, de Nicholas Taleb, foram assunto da mídia, associadas à crise do Covid-19, que se acentuou. Você também confere o ranking das 100 empresas mais sustentáveis do planeta - que inclui 3 brasileiras - e como a bioterapêutica vai salvar vidas.  
  • E a SXSW 2020 capitulou, pelo menos na sua versão física. A cidade de Austin decretou estado de emergência, e a conferência foi cancelada no final do dia na sexta-feira, 06/03, tornando-se um dos últimos eventos a serem disruptados pelo coronavírus 
  • Mas nós hackeamos a agenda de conteúdos e vamos entregar o melhor da SXSW Disrupted em uma série de newsletters exclusivas, em parceria com a Stilingue.
  • Vai ter Amy Webb, John Maeda, Rohit Bhargava e histórias exclusivas sobre as melhores ideias que seriam mostradas lá. Nesse link você confere mais detalhes. Só para os assinantes, um relatório para ler entender a mudança que vem por aí.
Boa leitura

O vírus, a bolha e o Cisne Negro

Nos últimos dias, a evolução do Covid-19 e suas consequências negativas para a economia global (incluindo o Brasil), geraram um certo "efeito deja-vu" no mercado de tecnologia. O que mais circulou desde quinta-feira, 05/03, foram artigos mencionando a teoria do Cisne Negro, de Nicholas Taleb, e a dot-com bubble, ou bolha da internet, que completa 20 anos no próximo dia 10 de março.

Será o Covid-19 o Cisne Negro - um acontecimento improvável, imprevisível, repentino, que causa um impacto global de grandes proporções, levando ao caos e forçando grandes mudanças? Certamente para as startups, garante a carta que a empresa de investimentos de risco Sequoia Capital enviou aos founders e CEOs das empresas em que investe, alertando sobre a crise e sua longa duração.

Se fosse resumir informalmente a missiva, seria mais ou menos assim: "apertem os cintos, porque o dinheiro sumiu, os clientes podem desaparecer, e aquela grana que você ia queimar para acelerar o crescimento da sua startup é melhor deixar no banco. E by the way, gaste menos com marketing, não contrate novos funcionários (se possível pense em cortar), não doure a pílula e vê se consegue dar lucro, porque Darwin impera. Mas tudo isso com saúde. olha lá".

E o The Telegraph lembra, com muita propriedade, o grande elefante no meio da sala: os milhões de trabalhadores da "gig economy" (a economia do bico) que de uma hora para outra podem ficar sem dinheiro e sem benefícios (que já não possuem) para enfrentar a falta de entregas, viagens e pedidos gerada pela ausência de funcionários nos escritórios ou passageiros nas ruas. Só no Reino Unido são 11 milhões de pessoas.

Coincidência, ou não, vinte anos atrás a bolha da internet - também conhecida como a bolha ponto.com - atingiu seu pico com a supervalorização das empresas de internet. No dia 10 de março de 2000, o índice Nasdaq batia os 5 mil pontos, para depois desabar 78,4% entre 10 de março de 2000 e 4 de outubro de 2002, dia que chegou ao seu valor mais baixo: 1.100 pontos.

O que se seguiu foi uma longa recuperação: a Nasdaq só voltou a atingir o pico de 5 mil pontos em 2014, ou 2017, se descontar a inflação, como escreve hoje o colunista Mark Hulbert do WSJ. O estouro da bolha levou de roldão centenas de startups e deixou milhares de pessoas desempregadas, acabando com o dinheiro fácil que era despejado por investidores de risco em empresas sem modelo de negócios nem proposta de valor bem definida. Mark Hulbert diz que desta vez não é bem assim, mas os sinais de problemas são grandes.

Há quem olhe o Cisne Negro pelo lado positivo. "Um Cisne Negro necessário", escreve a economista internacional Heather Morgan, colunista da revista Inc. e founder da SalesFolk. Heather acredita que o coronavírus pode ser o choque de mercado que vai evitar a recessão e dar um "tapa na orelha" do sistema de saúde norte-americano.

Positivo também é o artigo de Greg Petro, colunista da Forbes e founder da First Insight. Para ele, o Covid-19 pode acelerar a adoção de tecnologias de ponta na produção de remédios, no sistema de saúde e mudar práticas corporativas com foco em trabalho remoto.

 
Entenda a tecnologia minION, que leu o DNA do Covid-19 em tempo real

A tecnologia foi usada pela médica Ester Sabino, diretora do IMT-USP, e pela pesquisadora Jaqueline Goes de Jesus, também do MIT-USP,  para sequenciar o coronavírus em apenas 48 horas

Mantendo produtividade e renda em meio a epidemia

Milhões de funcionários estão trabalhando em casa pela primeira vez desde que o COVID-19 começou a se espelhar. E milhares de empresas se viram obrigadas a  construir uma estrutura de trabalho remoto às presas.
 
"Muitas organizações estão trabalhando remotamente agora de uma maneira muito ad hoc", afirma Sara Sutton, fundadora do site FlexJobs. "As empresas não têm um plano formal em vigor. Isso deixa muitos trabalhadores remotos se sentindo isolados e sem suporte. E as companhias, vulneráveis à ação de cibercriminosos.
 
Olhando pelo lado copo cheio, o surto pode vir a ser um ponto de virada para tornar permanentes as políticas de trabalho flexível.  Embora tenha aumentado dramaticamente ao longo da década, o trabalho totalmente remoto ainda representa menos de 5% dos empregos em período integral nos EUA, por exemplo, onde a prática é mais difundida.  Em sua pesquisa sobre o estado do trabalho remoto, a empresa de gerenciamento de mídia social Buffer descobriu que 99% dos trabalhadores remotos gostariam de continuar trabalhando em home office pelo menos parte do tempo pelo resto de suas carreiras e 95% o recomendariam a outros.
 
Olhando pelo lado copo vazio, para que o home office se consolide será preciso resolver alguns problemas estruturais. Do ponto de vista social, o trabalho remoto imposto pelo Covid-19 está expondo a desigualdade entre os trabalhadores com maior e menor instrução. O pessoal de apoio (que faz a comida, cuida do transporte e da limpeza dos escritórios)  geralmente é pago por hora. Como o serviço diminuiu, a renda também caiu.  Para não penalizar esses trabalhadores, empresas como Microsoft, Google, Facebook e Twitter prometeram pagar os salários habituais,  mesmo com jornada reduzida.

O dinheiro digital é o fim do troco com balinhas

Adeus porquinho de porcelana, adeus carteira de couro. As novas tecnologias de meios de pagamento e o dinheiro digital mudam os hábitos do consumidor, têm um tremendo poder inclusivo e podem dar a qualquer empresa recursos de um banco. Confira o podcast, com Carlos Netto, CEO da Matera, e Renato Camargo, CMO da RecargaPay.

A bioterapêutica pode salvar vidas 

O segredo capaz de curar qualquer doença é ter medicamentos que descubram como construir a proteína correta em seu corpo para impedir a replicação de um vírus.Todo esse progresso está em andamento, graças em grande parte às técnicas de aprendizado de máquina e design generativo. Coletivamente, essas tecnologias permitirão a descoberta de novas soluções para problemas importantes a uma taxa que nunca vimos antes.

Proteínas criadas em laboratório poderão, um dia, neutralizar a gripe, proteger contra o envenenamento por botulismo e até impedir o crescimento de células cancerígenas. Nessa palestra no TED, o engenheiro molecular Christopher Bahl explica como profissionais como ele estão usando a modelagem e o design computacional para ajudar a criar uma nova geração de medicamentos personalizados.Essa ciência em rápido crescimento já produziu proteínas experimentais projetadas para funcionar como biossensores, imunosupressores, etc.

Para compreender a importância deste trabalho, uma proteína recém-mapeada no Covid-19,  chamada Nsp15, sugere que drogas que estavam em desenvolvimento para tratar o surto anterior de SARS poderiam ser desenvolvidas como drogas eficazes contra o coronavírus. A Nsp15 é 89% idêntica à proteína do surto de 2010 da SARS. Os inibidores que foram desenvolvidos para a SARS podem agora ser testados contra essa proteína

É hora de rever a cadeia de suprimentos

A escassez de componentes e matérias-primas por causa do coronavírus provavelmente será muito pior do que o esperado. Muitas empresas não estão totalmente cientes da vulnerabilidade de seus relacionamentos na cadeia de suprimentos a choques globais. Falta informação. Impactos em muitas empresas em muitos setores parecem inevitáveis. Há até quem afirma que nenhuma cadeia de suprimentos permanecerá incólume.
 
As empresas com exposição direta ao surto de Covid-19 estão realizando uma série de ações, incluindo garantir o transporte aéreo futuro à medida que o fornecimento, diminuir o que poderia ser o tempo de entrega com base no frete marítimo, ativar peças ou substituições de matérias-primas pré-aprovadas em locais onde o fornecedor secundário não foi afetado e ativar recursos de certificação de materiais onde as segundas fontes confiáveis ​​de peças ou matéria-prima ainda não estão disponíveis.  Providências que deixam  claro a necessidade de um novo modelo para cadeia de suprimentos.
 
Onde focar a seguir? As consultorias falam em melhorar a visibilidade da cadeia de suprimentos, modelar novos riscos e custos, e em aumentar a resiliência. O ponto de partida é responder a algumas perguntas críticas, que embora possam parecer óbvias, não têm sido respondidas de forma clara até agora, como “Você entende onde seus insumos são fabricados ou produzidos?”, “Sabe como é a rota logística?”, “Tem opções de fornecimento de contingência?”, etc.
 
Vale ler:

As empresas mais sustentáveis do planeta

O Brasil é o único país da América Latina a ter empresas incluídas no ranking das 100 corporações mais sustentáveis do planeta em 2020. A lista é elaborada desde 2005 pela empresa canadense Corporate Knights, que produz conteúdo e pesquisas focados no "clean capitalism".

As 3 empresas brasileiras - Banco do Brasil, CEMIG e Natura Cosméticos SA - estão classificadas entre as 30 primeiras do ranking, sendo que o Banco do Brasil está entre as 10 mais. As três também entraram no ranking de 2019. 

Duas empresas dinamarquesas - Orsted A/S e Chr. Hansen Holding A/S - estão em primeiro e segundo lugares do ranking, respectivamente. E apenas 20 empresas dos setores de computadores, software, internet e telecomunicações estão no ranking. De internet, só a Alphabet Inc (holding da Google). E em software são 3: Autodesk, Dassault Systemes e Workday.

Mas o que é uma empresa sustentável, pelo critério da Corporate Knights? São empresas lucrativas, altamente competitivas, que seguem as novas diretrizes do capitalismo de criar valor para todos os stakeholders e não apenas gerar lucros para os acionistas. E isso inclui, entre outras coisas, compatibilidade com as diretrizes ESG (Environmental, Social and Governance), um item cada vez mais cobrado por investidores em todo o mundo, e com as metas de desenvolvimento sustentável da ONU (Sustainable Development Goals - SDGs)

As métricas do ranking para avaliar as empresas incluem 21 KPIs distribuídos por quatro grandes categorias: Gestão Financeira, Gestão de Pessoas, Gestão de Recursos e Clean Revenue.

Alguns dados relevantes: comparadas com as empresas do índice ACWI (All Country World Index) da MCSI, as empresas do ranking G100 são mais sustentáveis (83 anos x 49 anos), têm mais mulheres no board (30% x 24%) e nos cargos executivos (20% x 17%).

Garimpo da semana

  • A disrupção não vai desacelerar. E em tempos disruptivos, o poder vem das pessoas, comentou Eric Schmidt, hoje à frente do programa Rise. “Se você entrou no mercado na semana passada, obteve ganhos econômicos desproporcionalmente maiores do que se tivesse entrado nesta semana. Uma das regras do meu mundo é que é difícil recuperar o atraso e ainda mais difícil avançar, uma vez que você fica para trás”. 
     
  • Quando um vírus se espalha, sofre mutações, desenvolvendo alterações aleatórias em letras genéticas únicas em seu genoma. Ao rastrear essas mudanças, cientistas podem rastrear sua evolução e aprender quais casos estão mais relacionados. É o que eles estão fazendo agora com o Covid-19.
     
  • Para curar sua filha, um programador do Google mergulhou no mundo dos medicamentos hiperpersonalizados.
     
  • Há quem defenda que os benefícios das drogas genômicas são exagerados.
     
  • A Fundação Bill e Melinda Gates está financiando um projeto para fornecer kits de teste de coronavírus em casa para aqueles em risco de infecção na área de Seattle, Washington. 
     
  • Uma sofisticada ferramenta de lavagem, chamada de “peel chain", foi descoberta por autoridades americanas ao prender dois cidadãos chineses por supostamente conspirarem com hackers patrocinados pelo Estado norte-coreano para roubar milhões de dólares em dinheiro digital de trocas de criptomoedas.  
     
  • Mark Warner, um ex-empresário de telecomunicações e senador pela Virgínia, diz que salvar a indústria (e a democracia) pode significar explodir a Big Tech como a conhecemos.
     
  • A SpaceX fez a 20ª e última entrega de suprimentos para a Estação Espacial Internacional usando sua cápsula Dragon sob esse contrato original. A partir de outubro, ele substituirá o Dragon pelo Dragon 2, maior e construída para levar pessoas. 
     
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