O contexto da ruptura - 24/03/20 

Bom dia!

Agora você recebe a The Shift todos os dias. Nesta edição, o caos ameaça as startups por conta do recuo dos VCs e PEs em meio à crise financeira provocada pelo coronavírus; a cibersegurança tem lições para a pandemia e a Telemedicina ganha a tão esperada regulamentação, na corrida por evitar o pior do Covid-19. 
  • E as startups brasileiras comparecem tentanto ajudar. Vale ler, e compartilhar, a carta de Eduardo LHotellier, CEO e fundador do Get Ninjas, oferecendo sua plataforma e conclamando o governo a tomar medidas que protejam os pequenos negócios e os profissionais autônomos do setor de serviços, que representam 10% do PIB nacional;
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Será março o pior mês do milênio?

A frase está no PitchBook, na abertura da coluna do sempre genial Kevin Dowd do último domingo. O assunto: como a pandemia do Covid-19 transformou-se na "praga de gafanhotos" que ameaça a cultura de venture capital (VCs) e private equity (PEs), levando com ela startups no mundo todo. A frase "nada mais será como antes", que começou no ano passado com o debacle do WeWork (veja post abaixo), vai se acentuar em 2020 por conta do coronavírus, e os cheques ou vão sumir ou vão ser bem mais magros

Vá lá, praga de gafanhotos pode ser um termo muito forte, mas o caos com certeza está se espalhando entre as startups, na medida em que os VCs e os PEs tiram o pé do acelerador nos investimentos ou ameaçam descer do bonde andando e voltar atrás em term sheets assinados. Os advogados começam a avaliar a invocação da velha cláusula "por motivo de força maior", mais conhecida como force majeure, relata o Techcrunch.

O coronavírus vai mostrar as "true colors" dos VCs, escreve Matt Clifford, co-fundador da Entrepreneur First, uma fomentadora de startups que ajuda empreendedores a achar desde co-founders a investidores. "Vi mais investidores se comportarem mal nos últimos dez dias do que nos últimos 8 anos. Term sheets assinadas geralmente são sagradas no investimento de risco, mas esta semana vimos empresas tentando cortar valores ou se escondendo de startups como se o deal nunca tivesse existido", escreve.

O declínio em captação de investimentos deverá prejudicar primeiro as pequenas startups, aposta o time de analistas do PitchBook. Na conta do CB Insights, a queda nos investimentos já se evidencia globalmente: o primeiro trimestre de 2020 está fechando US$ 77 milhões mais magro que o último trimestre de 2019 (16% menor) e 12% abaixo do primeiro trimestre de 2019. O passado comprova o comportamento de fuga, mas também sinaliza o retorno, como na epidemia de Zika, em 2015, que impactou o investimento na América do Sul em 2015 para depois subir velozmente desde 2017 até agora. A pergunta é quanto tempo vai durar a seca.

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CX é cada vez mais necessário nas empresas


Nas empresas, pensar em clientes de forma holística também significa olhar para os departamentos e para a tecnologia de forma integrada. Mais do que nunca, é preciso comunicar-se com os clientes nos canais de sua escolha ( e-mail, telefone, apps de troca de mensagens ou mídias sociais) e entregar isso da melhor forma diante da demanda crescente por interações personalizadas e ágeis. 

Para 80% dos brasileiros, basta uma única experiência negativa para abandonar uma marca. Uma pesquisa da Zendesk aponta que entre os principais motivos estão a repetição do preenchimento de dados e formulários e a peregrinação por diferentes departamentos para resolver um problema.

A experiência omnicanal e a integração tecnológica serão alguns dos temas do Zendesk Relater, evento global online de CX que acontece hoje (24 de março), das 13h às 15h.  O cadastro é gratuito, neste link.

Emprestando cadeiras para home office

Está difícil a vida da WeWork. No ano passado, a empresa que foi rebaixada para a segunda (talvez terceira) divisão dos unicórnios, encara agora o problema de ser um aglomerador de pessoas - são 739 locais e cerca de 662 mil membros em todo o mundo - e, portanto, ambiente de risco para disseminação do coronavírus. Em diferentes unidades, casos confirmados de Covid-19 levaram a interditar andares para limpeza e desinfeção: em Nova Iorque, em Londres, e no Brasil, na unidade da Avenida Paulista, entre outros.

Mas o problema é mais embaixo: com o risco, e em vários casos por força de quarentena obrigatória, muitos membros decretaram home office total e agora as perguntas se avolumam: como ficam os contratos nesse período, que pode ser de muitos meses? Vão ser suspensos? Haverá desconto? Especialmente diante de uma contradição: a WeWork, ela mesma, optou por decretar home office para todos os funcionários. 

Em Nova Iorque, uma inquilina postou no Twitter "Mesmo com meu time todo em WFH, @wework não nos deixa pausar o contrato. Estamos literalmente sendo convocados por médicos, governo e todas as pessoas de bom senso da sociedade a NÃO ir para o trabalho mas o WeWork só diz "estamos limpos, podem vir." 

Lucas Mendes, general manager do WeWork no Brasil, diz que a resposta vai ter de vir da matriz. Grande parte dos membros locais optou por home office e Lucas é criativo no apoio aos clientes - em um caso, emprestando as cadeiras do escritório para que pudessem levar para a casa de cada funcionário - mas não tem resposta sobre mensalidades. "Estamos, em todos os países, tomando decisões na medida em que cumprimos as decisões dos governos locais", disse em entrevista para The Shift. 

O risco de queda brutal da receita com membros desistindo de contratos ou mesmo a eventual obrigação de rever contratos por força da lei, está impactando ainda mais a imagem do WeWork no mercado. Sem falar no SoftBank, que ameaça cortar US$ 3 bilhões do acordo que fez no ano passado para limpar a bagunça do CEO e co-founder Adam Newman e de sua própria falta de supervisão e governança como investidor e membro do board.

O paradoxo da eficiência

Nossa obsessão com a eficiência está realmente nos tornando menos eficientes? Talvez esse período de isolamento social seja um bom momento para refletir a respeito. Um dia, tudo será mais fácil, mais rápido e melhor, nos disseram. É uma visão atraente, mas há uma desvantagem em toda essa eficiência, diz o estudioso e escritor Edward Tenner, autor de "The Efficiency Paradox: What Big Data Can’t Do". na sua opinião precisamos encontrar equilíbrio para desfrutar dos benefícios da tecnologia ou perdemos os benefícios da natureza humana. 

Tenner define eficiência como "produzir bens, fornecer serviços ou informações ou processar transações com o mínimo de desperdício". E sustenta a tese de que nosso atual foco tecnocrático da elite na eficiência tem nos levado a uma série de "esforços desperdiçados e oportunidades perdidas". 

"Muita eficiência pode enfraquecer a si mesma, mas um pouco de ineficiência inspirada pode fortalecê-la. Às vezes, a melhor maneira de seguir em frente é andar em círculos", provoca nessa palestra proferida em maio de 2019 no Ted. 

 

Lições da pandemia para a cibersegurança

Desde o início de março, em meio à escala da pandemia de coronavírus, os ataques cibernéticos à Organização Mundial de Saúde (OMS) mais que dobraram.  Nenhum deles foi bem-sucedido, diz o diretor de segurança da informação da entidade, Flavio Aggio.
 
A cibersegurança tem sido uma preocupação a mais em meio ao caos de saúde pública e da anunciada crise econômica. Manter tudo em conformidade diante do êxodo global de escritórios e do aumento do trabalho remoto é um desafio significativos para a maioria das organizações. Ariel Zeitlin, co-fundador e CTO da Guardicore, enxergou na reação global à pandemia reflexos dos microcosmos das empresas em relação à segurança cibernética
 
Os países que apresentaram maior sucesso na mitigação das ameaças alimentar e sanitária provocadas pela Covid-19, até agora, adotaram medidas que guardam total paralelo com aquelas tomadas em reação às ameaças cibernéticas. Os principais fatores da mitigação bem-sucedida são:

  • Testes de visibilidade - Sem entender a extensão do problema, não é possível o controle. O teste é essencial para saber quem são os portadores do Coronavírus, onde eles estão localizados e que outros grupos de pessoas podem afetar. Também na cibersegurança, uma boa decisão depende dos dados que se tem. No dia a dia, as empresas contam com visibilidade para melhor gerenciar seus ativos de TI. Em uma crise (ou sob ataque), é preciso ter visibilidade para entender o que está acontecendo, onde, e qual é a extensão dos possíveis danos.
     
  • Segmentação ou quarentena para controle –  Recorrer à quarentena para restringir o acesso de e para populações infectadas interrompe a propagação em grandes áreas, seja quando falamos de seres humanos ou de computadores. O oposto também é verdadeiro: quanto mais tempo se leva para segmentar o problema, mais rapidamente o vírus se espalha. Daí a importância de uma infraestrutura segmentada antes que os problemas surjam e fujam ao controle.
     
  • Proteção dos elementos mais vulneráveis com boas práticas - Ficou claro desde o início, que o Covid-19 era mais letal para certos grupos demográficos. Reduzir o contato com pessoas potencialmente infectadas é essencial para proteger populações importantes e em risco (ou, em termos de segurança cibernética, ativos críticos e vulneráveis). Para manter suas operações, é importante que as empresas protejam seus ativos críticos, sejam eles pessoas ou aplicativos.

O que você não sabe sobre a LGPD?

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) exige que dados bancários, financeiros, e outras tantas informações sejam mapeados, avaliados, identificados e protegidos pelas empresas para seguir dentro da lei. O dever de casa é gigante. Patrícia Peck, advogada; e Antônio João Filho, diretor da Embratel para o mercado financeiro, contam tudo. Dá o play.

Ministério da Saúde regulamenta a Telemedicina

Startups, hospitais e demais profissionais que desenvolvem atividades utilizando a telemedicina, têm agora mais segurança jurídica. Com o objetivo de reduzir a propagação do Covid-19 e proteger as pessoas, o Ministério da Saúde publicou nesta segunda-feira, 23/03, a Portaria 467/2020, que regulamenta o seu uso. 

É importante destacar que a norma tem caráter temporário e excepcional, o que implica dizer que o seu tempo de duração (vigência) está condicionado à situação de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN), declarada por meio da Portaria nº 188/GM/MS, de 3 de fevereiro de 2020.
 
Entre os pontos regulamentados estão:

  • A  necessidade do médico registrar o atendimento em prontuário clínico;
  • A possibilidade do médico emitir atestados ou receitas médicas em meio eletrônico;
  • A necessidade de validação  do atestado ou receita médica emitida pelo médico por meio eletrônico. 

Toda a consulta deverá ser, obrigatoriamente, registrada em prontuário clínico com indicação de data, hora, tecnologia da informação e comunicação utilizada e o número do Conselho Regional Profissional do médico e sua unidade da federação. E caso o paciente necessite de isolamento, caberá a ele enviar ao médico um “termo de consentimento livre e esclarecido ou termo de declaração”, contendo a relação das pessoas que residam no mesmo endereço.

Na semana passada, o Conselho Federal de Medicina (CFM) já havia liberado a telemedicina para orientação e consultas.

Mapeando ocorrências de Covid-19 aqui no Brasil

A Lagom Data tem se dedicado a mapear casos confirmados de Covid-19 no Brasil, diariamente, a partir de dados oficiais das Secretarias de Saúde. De acordo com eles, já há casos confirmados em ao menos 174 municípios brasileiros. Todos os Estados já têm pelo menos um caso desde o sábado (21). As maiores incidências estão nos Estados menos pobres, visto que os primeiros casos são sempre de pessoas que vieram do exterior.  São Paulo já chegou aos 745 casos confirmados em menos de um mês. 

Há 34 mortes confirmadas, todas nos dois primeiros Estados a registrarem casos de coronavírus. A diferença: Rio de Janeiro detalha por cidade (uma morte cada em Rio de Janeiro, Niterói, Petrópolis e Miguel Pereira), São Paulo não.

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