Para entender a ruptura é preciso contexto

02 de Fevereiro de 2019

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Boa leitura,
Cristina De Luca e Silvia Bassi 

Já somos 4,39 bilhões na internet

Pela primeira vez na história, o número de novos usuários da internet global aumentou 1 milhão por dia em 2018. Foram 11 novas pessoas por segundo, 366 milhões a mais no final do ano. Começamos 2019 com 4,39 bilhões seres humanos conectados à internet, ou 57% da população global.

Na média, o usuário global de internet passou 6½ horas conectado por dia. Os seja, 100 dos 365 dias do ano. Já o brasileiro sai da curva global: somos o segundo país no ranking, com 9½ horas diárias (ou 136 dias no ano), só perdendo para as Filipinas.

Mais de 5,1 bilhões de pessoas (67% da população mundial) possuem telefone celular. O crescimento em 2018 foi de apenas 100 milhões de novos usuários (2%), sinalizando o grande desafio global da inclusão digital: levar telefonia móvel para os 1/3 restantes do planeta.

As redes sociais agora são usadas por 3,48 bilhões de pessoas (45% da população mundial), sendo que 3,25 bilhões o fazem também via mobile. O crescimento global foi de 288 milhões de pessoas (9%) para redes sociasi e 297 milhões de usuários (10%) para redes sociais móveis. O tempo gasto por usuário nas redes sociais é considerável: na média global são 2 horas e 17 minutos por dia; no Brasil ele salta para 3 horas e 34 minutos

Essa lista de dados é menos do que a ponta do iceberg do gigantesco relatório Digital 2019 preparado pela Hootsuite e We Are Social. A pesquisa usa mais de 8 mil fontes e tem informaçoes de 230 países. Certamente é um documento que deixaria nervosa a guru da arrumação Marie Kondo, já que tem 260 páginas. A novidade é que de forma inédita as empresas liberaram gratuitamente todos os estudos. Dá para baixar a versão global resumida e acessar online todos os relatórios (global e por países).
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The next billion users

O crescimento da internet daqui para frente dependerá dos países em desenvolvimento. Mas o que diferem os hábitos dos "the next billion users" dos hábitos dos usuários da Internet dos países desenvolvidos? Virtualmente nada, diz a antropóloga digital Payal Arora, que passou os últimos anos estudando usuários de internet no Brasil, China, Índia e vários países do Oriente Médio. Payal afirma que é preciso abandonar a visão romântica sobre o impacto da tecnologia nesses países. Reconhecer isso, é reconhecer a humanidade das pessoas.

Seu livro The Next Billion Users - Digital Life Beyond the West será lançado no dia 25 de fevereiro. Payal defende que os pobres nos países em desenvolvimento querem assistir pornografia, jogar, conversar com amigos e encontrar o amor tanto quando seus pares ricos no hemisfério norte, e é um erro não levar isso em conta na hora de pensar em como avançar as economias digitais nesses países. "Na Índia identificamos um template completo, o princípio do ABCD. Astrologia, Bollywood, Críquete e Devoção. Estes são os quatro principais impulsionadores da economia de dados".

Payal Arora é professora associada na Erasmus University Rotterdam, na Holanda. Neste vídeo você assiste uma palestra dela no TEDx Talks sobre o tema.

Fúria de Titãs

O destaque da semana foi a saga envolvendo a Apple e suas rivais, Google e Facebook, muito bem resumida e  explicada pelo The Next Web. A Apple alegou ter descoberto agora que Google e Facebook haviam violado duplamente a política para desenvolvedores, ao permitirem que aplicativos iOS internos, criados sob uma licença muito restritiva -  a do Enterprise Developer Program - fossem usados por consumidores com a finalidade de coleta de dados. Por isso, Google e Facebook tiveram as licenças suspensas, temporariamente, até assumirem publicamente a má conduta e retirarem os apps do ar. 
 
A questão surgiu quando o TechCrunch relatou que o Facebook pagava até US$ 20 por mês para usuários entre 13 e 35 anos usarem o app Facebook Research e monitorar tudo o que eles faziam em seus iPhones. O funcionamento do app corporativo era muito semelhante ao app de VPN do Facebook, o Onavo Protect, que a Apple retirou da App Store há alguns meses por violar as diretrizes da loja sobre coleta de dados.
 
Além disso, a rede social não era a única empresa gigantesca com um aplicativo de coleta de dados na plataforma iOS. O Google também estava distribuindo sua própria versão com o nome "Screenwise Meter". Depois que o Facebook teve a sua licença suspensa, o TechCrunch criticou o Google por fazer o mesmo - usando um aplicativo corporativo do iOS para coletar dados - e perguntou se a Apple também desativaria o certificado corporativo do Google. Provocada, foi o que a Apple fez.
 
Vale ressaltar que o Facebook Research já funcionava assim desde 2016 e o app do Google desde 2012. Será que a Apple não sabia? Ou será que começou a arrumar a casa depois da publicação do TechCrunch, para alinhar suas práticas à cruzada pró proteção de dados pessoais iniciada pelo presidente-executivo, Tim Cook? É o que o mercado está se perguntando agora.
 
As penalidades, embora temporárias, pontuaram a escalada da campanha da Apple nos últimos anos para ressaltar suas supostas proteções de informações ao usuário, em contraste com os grandes rivais tecnológicos que Tim Cook descreveu como arrogantes quanto à privacidade. O chefe da Apple tem defendido uma legislação de privacidade - uma ideia com a qual muitos chefes de tecnologia se preocupam. A luta pela privacidade é parte de disputas entre os gigantes à medida que seus negócios colidem cada vez mais.
 
Os movimentos também destacam o papel duplo da Apple como um rival para essas empresas e um gatekeeper que controla seu acesso aos mais de 900 milhões de iPhones em uso em todo o mundo. Em um movimento rápido, foi capaz de minar a capacidade de dois concorrentes para continuar seu trabalho diário de atualização, correção e melhoria de aplicativos populares como Instagram e Gmail, antigos e atuais funcionários do Facebook e da Apple.
 
A revogação da licença corporativa é uma tremenda dor de cabeça, por que deixa inoperantes todos os apps usados por funcionários e parceiros comerciais da empresa certificada. Por algumas horas, funcionários do Facebook e do Google ficaram sem acesso aos apps corporativos na plataforma IoS. À imprensa, a Apple disse que revogaria a licença corporativa de qualquer empresa em discordância com as suas políticas para desenvolvedores.  Você tem andado na linha?
 

Duas faces da mesma moeda

O futuro criado pela Amazon, Facebook, e Google é uma distopia esquisita... bizarra. As pessoas não são mais seres humanos. Elas são apenas mercadorias intercambiáveis, “informação”, cujas representações digitais são infinitamente “arbitradas”, compradas e vendidas. E são exploradas a cada turno, primeiro por seu trabalho físico, depois por seus intelectos e criatividade, e finalmente  por suas emoções, relacionamentos, sexualidade, curiosidade, empatia e sociabilidade, escreveu recentemente Umair Haque, diretor do Havas Media Labs e autor de "Betterness: Economics for Humans" e "The New Capitalist Manifesto: Building a Disruptively Better Business". 

Em contrapartida, ele enxerga a Apple do outro lado dessa mesma moeda do capitalismo digital, testando a hipótese de ser uma instituição com fins lucrativos, maior do que muitos governos, países, sociedades e ainda assim se manter firme aos seus ideais, seu caráter vital, e seu espírito de rebeldia em perfeita consonância ao seu senso de responsabilidade. 

A imagem da moeda de duas faces ilustra bem o embate da semana.
 

A propósito...

Na segunda-feira, a Apple teve um problema de privacidade quando foi descoberto um bug na função de bate-papo por vídeo do Group FaceTime, que permitia que os usuários ligassem para outro usuário da Apple para ouvir o toque do dispositivo do destinatário. Um patch para o problema acaba de ser lançado.
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Achados da semana

  • OS RESULTADOS TRIMESTRAIS das FAANG começaram a sair. Enquanto o Facebook nada de braçada, apesar de toda a crise, ajudado pelo crescimento nos negócios do Instagram e um aumento nos gastos com publicidade das empresas, a Microsoft viu as receitas com a nuvem desacelerarem e a Amazon divulgou previsão de vendas para o primeiro trimestre abaixo das estimativas de Wall Street, mas tem visto a receita com publicidade crescer consideravelmente. Já a Apple teve um período de festas ruim. A empresa vendeu menos iPhones e viu a receita cair 15% em relação ao ano anterior. Os números do Google só saem na segunda-feira, 4 de janeiro.
     
  • A NETFLIX  já havia reportado lucro acima do esperado, mas segue lutando contra a desaceleração do crescimento da sua base de assinantes. Um ponto crítico para uma empresa que tem o seu modelo de negócio baseado quase que integralmente em assinaturas. 
     
  • SAIU A LISTA das 51 indústrias pré-qualificadas para a segunda edição do Edital Startup Indústria 4.0 da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), 30 delas brasileiras. Segue agora a fase de habilitação. As indústrias elegíveis serão conhecidas em abril. As inscrições para startups seguem abertas até 31 de março. Na sua primeira edição, o concurso selecionou 10 das mais inovadoras indústrias do Brasil (BRF, Embraer, Natura, 3M, Embraco, Ericsson, Libbs, Votorantim Cimentos, Caterpillar, Dow), muitas delas pré-selecionadas novamente, e premiou 8 startups.
     
  • JÁ SÃO 37 UNICÓRNIOS entre as fintechs, avaliadas em US$ 142,17 bilhões, segundo a edição 2019 do Fintech Trends To Watch, da CB Insights. O Brasil figura no mapa com uma delas: a Nubank, cotada em pouco mais de US$ 4 bilhões. Os  Estados Unidos lidera o ranking, com 23 unicórnios de tecnologia financeira. 
     
  • A FONTE DA JUVENTUDE não está tão distante. A capacidade de construir partes humanas para substituir órgãos e tecidos com problemas ou editar nossos genomas para curar doenças está impulsionando o mercado de biotecnologia genética que, segundo estimativas da Grand View Research, movimentará US $ 727 bilhões até 2025.
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