Para entender a ruptura é preciso contexto


17/06/2019

Quando a IA entra no cotidiano

Quando a Inteligência Artificial (IA) deixa de ser hype e passa a ser atividade cotidiana nas empresas, começa um novo capítulo da jornada de transformação digital corporativa. Um capítulo que pode demorar décadas, na visão de Andrew Moore, chefe da Google Cloud AI, e que é marcado por um conjunto maduro de ferramentas, guiadas por uma visão estratégica que é compartilhada por representantes de diferentes áreas da companhia, com diferentes vivências e conhecimentos.

O principal sinal é a mudança do foco: da tecnologia em si para o impacto da tecnologia nos negócios, Em um artigo para a Harvard Business Review, Moore, que foi reitor da Escola de Ciências da Computação da Universidade Carnegie Mellon antes de assumir o cargo de head de IA da Google Cloud, em substituição à cientista Fei-Fei Li, chama essa fase de IA implantada (deployed AI) 

Um projeto de IA implantada começa do problema para chegar até a tecnologia. Ele tem 3 características fundamentais, segundo Moore: primeiro, identifica um problema sem solução há muito tempo ou uma oportunidade não aproveitada; segundo, a solução encontrada não poderia ser feita sem a IA; terceiro, prova que a IA tem papel em qualquer indústria, tecnológica ou não. 

Quem vai entrar nessa jornada deve responder 3 perguntas:
  • Como atrair ou desenvolver o expertise necessário para construir a solução?  Times de IA são multidisciplinares, envolvendo profissionais de tecnologia, ciências humanas e ciências da vida, em muitos casos;
  • Como evitar se prender a uma prova de conceito? Na pressa de inovar é fácil se perder, especialmente em um terreno como IA. Por isso faça revisões constantes sem perder o foco na experiência do usuário final
  • Quem é o responsável final pelas decisões que a IA vai tomar?  Em última instância, IA vai tomar decisões que antes seriam exclusivas de um ser humano. É preciso eliminar vieses, inconsistências e tornar a solução transparente, explicativa, ética e justa para todos os grupos

Mary Meeker alerta para o crescimento chinês...  

Desde 1995, a investidora de risco Mary Meeker, ex-analista de Internet do Morgan Stanley, publica um extenso relatório sobre tendências do mercado digital. O deste ano traz péssimas notícias: o crescimento digital global está desacelerando. Mais da metade da população mundial tem acesso à internet, mas está ficando mais difícil agregar novos usuários.  

Além disso, 53% de todos os usuários de internet do mundo estão localizados na região da Ásia-Pacífico, com a China sendo o maior mercado, com cerca de 800 milhões de usuários. Os populares aplicativos de vídeo curtos chineses se tornaram o principal motor do uso da Internet na maior população on-line do mundo.

Tem mais: a maior parte do crescimento da Internet virá da região Ásia-Pacífico, e da África. Não por acaso os chineses estão tão interessados nos africanos. Em linhas gerais, a liberdade na Internet está em declínio global, e a balcanização está em ascensão.

Mas nem tudo é ruim...
  • As mensagens privadas e criptografadas ganham força como resposta ao escrutínio da privacidade: 87% do tráfego global da Web foi criptografado no primeiro trimestre de 2019, contra 53% três anos atrás.
  • A inovação digital continua a beneficiar uma série de canais, incluindo vídeo digital; assistentes de voz como a Alexa, da Amazon; e o mercado de wearables, que tem dobrado o número de usuários nos últimos quatro anos.
  • As receitas de serviços de nuvem do Google, Amazon e Microsoft se aproximam de US$ 14 bilhões, um salto anual de 58%. Mais dados são armazenados na nuvem do que em servidores corporativos privados ou dispositivos de consumo.
  • Os cuidados de saúde estão cada vez mais digitais. Espere mais consultas de telemedicina e sob demanda.

...e Scott Galloway faz previsões para big tech em 2019 

"Um membro sênior do grupo executivo do Facebook será detido e preso no exterior em 2019". "Este será o ano em que a Tesla finalmente vai implodir". Essas são algumas das previsões de Scott Galloway, professor da Stern School of Business na NYU e autor do livro The Four: The Hidden DNA of Amazon, Apple, Facebook, and Google (Os Quatro) para 2019. Sua taxa histórica de acertos é de 70%. Na semana passada, Galloway foi à conferência CodeCon e lançou suas apostas para 2019. 

CIAB 2019: Blockchain e Open Banking em evidência

Nove bancos brasileiros já participam da primeira rede blockchain para o setor financeiro. A iniciativa, implementada pela CIP (Câmara Interbancária de Pagamentos), usa a plataforma Hyperledger Fabric, da IBM, para suportar a troca de informações a respeito da confiabilidade de dispositivos móveis, para evitar fraudes.

“Vamos fazer um acompanhamento de como vai funcionar essa fase de compartilhamento de informações para poder usar o blockchain, futuramente, em transações bancárias”, explicou Leandro Vilain, diretor de negócios e operações da Febraban.

Outra tecnologia desejável e inevitável para o setor, segundo Octavio de Lazari Junior, presidente do Bradesco, é o Open Banking.  O Banco Central, a exemplo de órgãos reguladores na Europa, já trabalha para regulamentar o modelo no Brasil, a fim de acirrar a concorrência no setor bancário.  É grande a expectativa sobre as normas e o cronograma de implementação que o BC colocará em consulta pública agora no segundo semestre.

Robôs domésticos: a caminho da inteligência plena

"Autonomia não é inteligência". Em uma palestra na re;MARS, conferência da Amazon sobre robôs, Colin Angle, fundador e CEO da iRobot falou sobre como pretender levar seus robôs domésticos da simples autonomia mecânica para um comportamento sistêmico inteligente, agregando inteligência responsiva a comandos de voz, inteligência colaborativa e a habilidade de entender o espaço ao seu redor. Desde que foi criada em 1990, a iRobot já vendeu 25 milhões de robôs e detém 1/4 das vendas de aspiradores de pó nos EUA com seu robô-aspirador Roomba®.

A nova aposta tecnológica de Bill Gates

Chips de luz para turbinar a Inteligência Artificial são a nova aposta de Bill Gates. A startup Luminous Computing levantou US$ 9 milhões em capital semente de investidores proeminentes, incluindo Gates e Dara Khosrowshahi, CEO da Uber.

A técnica usa lasers para irradiar luz através de pequenas estruturas em seu chip, conhecidas como guias de onda, e assim transportar grandes quantidades de informações rapidamente. Por isso os processadores ópticos estão sendo considerados ideais para lidar com o grande número de cálculos exigido pelos modelos de IA. Eles também consomem muito menos energia que os elétricos .

O gargalo de processamento para IA está piorando: um estudo do instituto de pesquisa OpenAI diz que a capacidade de computação necessária para treinar os maiores modelos de IA está dobrando a cada três meses e meio.
E um estudo da doutora Emma Strubell, que será apresentado no final do mês na conferência da Association for Computational Linguistics, em Florença, mostra que os sistemas de treinamento para reconhecimento de voz de assistentes digitais geram tanto CO2 quanto um americano médio gera em dois anos. 

A Luminous já enfrenta uma forte concorrência. Startups como Lightelligence e Lightmatter também estão trabalhando em chips óticos para acelerar a IA. E gigantes de semicondutores como a Intel estão intensificando a pesquisa no campo, o que poderia levá-los a lançar novos processadores ópticos.

O garimpo da semana

  • A criptomoeda do Facebook deve ser finalmente apresentada ao público nesta terça-feira. Mais de duas dúzias de grandes corporações estão apoiando a iniciativa, incluindo Spotify, eBay, Visa, Mastercard, PayPal, Uber e Andreessen Horowitz. Essas empresas terão participação no controle do token como membros da fundação que a rede social estabeleceu na Suíça, a Libra. E ajudarão o Facebook a ganhar credibilidade.
     
  • Novos robôs, novos empregos para humanos. Já são 5 as especialistas controladoras de fluxo de robôs trabalhando no centro de distribuição de mercadorias da Amazon.com em Denver, nos EUA. Sua função é controlar em tempo real, por meio de um tablet, os 800 robôs laranja que circulam pelo depósito fazendo o trabalho pesado. A posição é nova e foi oferecida a funcionárias que já trabalhavam no centro. O projeto que iniciou em Denver vai se estender a outros centros de distribuição nos EUA em 2019.
     
  • Tudo pelo 5G! As autoridades norte-americanas estão prestes a aprovar a fusão de US$ 26 bilhões entre a Sprint e a T-Mobile. As empresas terão que vender alguns ativos para criar uma nova gigante da telefonia móvel. Combinadas, elas teriam mais de 127 milhões de clientes - grandes o suficiente para desafiar a Verizon e a AT&T, líderes do setor. Sprint e T-Mobile argumentam que o negócio aceleraria a implantação do 5G e proporcionaria maior cobertura de banda larga para áreas rurais carentes, prioridades da administração Trump.
     
  • Duas gerações interrompidas. Uma nova pesquisa sobre as gerações Millennials e Z, feita pela Delloitte, mostra que, paradoxalmente, a velocidade da inovação e da transformação tecnológica e social, estão deixando os jovens inseguros e deprimidos sobre o futuro e pessimistas sobre suas carreiras e sobre a sociedade.
     
  • Enquanto no Brasil políticos resolvem exigir carteira de habilitação para dirigir patinetes elétricos, em Paris começou na semana passada um projeto experimental instalando estações de carregamento de veículos elétricos (carros, patinetes, scooters ou bicicletas) nos postes de iluminação das ruas do 7o Distrito.
     
  • IA empática. A empresa norte-americana Pegasystems, especializada soluções de CRM para interação com clientes em tempo real utilizando inteligência artificial, começa a atuar no Brasil e deverá trazer para o país o recém-anunciado Customer Empathy Advisor, que permite criar assistentes virtuais empáticos usando IA para graduar diferentes níveis de engajamento com o cliente. A empresa baseou seu trabalho em uma pesquisa com mais de 5 mil consumidores sobre sua relação com IA. 
     
  • Contra Deepfakes, pesquisadores da Adobe dizem estar trabalhando em ferramentas que possam detectar se o rosto de uma pessoa foi alterado em uma imagem em movimento. A iniciativa é parte de esforços mais amplos para facilitar a detecção de vídeo, áudio e documentos manipulados.
     
  • É a sua voz? Pesquisadores desenvolveram um sintetizador capaz de copiar a voz de qualquer um.  A pesquisa usou 452 horas do TED Talks no treinamento do algoritmo.
     
  • Todo mundo de olho no CRISP. A GlaxoSmithKline despejará US $ 67 milhões em um novo laboratório na Universidade da Califórnia para industrializar a busca por pistas de drogas usando CRISPR. E um biólogo russo planeja produzir embriões humanos editados por CRISPR e levá-los a termo ainda este ano.
     
  • Um pouco de sujeira não faz mal. Startups americanas estão trabalhando em uma moda mais ecológica, baseada em roupas que exigem menos lavagem.
     
  • 10 principais tecnologias que definirão a inovação em 2019.
     
  • 5 razões pelas quais os chatbots precisam cada vez mais do processamento de linguagem natural.

Esta é a 22a edição da The Shift.

 

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Gratidão pela leitura e boa semana.

Cristina De Luca & Silvia Bassi

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