Para entender a ruptura é preciso contexto


10/06/2019

Ruptura se escreve com "c", de consumidor

Uma explicação muito simples sobre o porquê de muitas startups com menos de cinco anos de idade serem capazes de colocar a perigo o futuro de uma grande empresa de mais de 20 anos, é a de que as startups têm duas vantagens: pensamento digital e foco do cliente. Isso é a melhor tradução para a inovação disruptiva.

"Modern disruption on a nutshell", é como define o brasileiro Thales Teixeira, professor associado na Harvard Business School, consultor, colunista, escritor, e especialista em Ruptura Digital (Digital Disruption) e Economia da Atenção (The Economics of Attention). Teixeira lançou um livro de leitura obrigatória: Unlocking the Customer Value Chain: How Decoupling Drives Consumer Disruption, que ainda não tem tradução para o português, e é um dos palestrantes convidados no Ciab Febraban 2019, que acontece esta semana em São Paulo.

"A ruptura é um fenômeno gerado pelo consumidor. Novas tecnologias entram e saem. As que ficam são aquelas que os consumidores escolhem adotar. Muitas startups de crescimento acelerado, como Uber, Airbnb, Slack, Pinterest e Lyft não tiveram acesso a nenhuma tecnologia inovadora diferente ou melhor que as dos incumbentes em suas respectivas indústrias. O que elas têm é a habilidade de entregar rapidamente e com mais precisão exatamente aquilo que o consumidor quer", escreveu recentemente em um artigo na Harvard Business Review.

Ignorar o que quer o consumidor e, mais importante, o que o incomoda, é atitude mortal para as empresas tradicionais. Elas se candidatam a ser vítimas de um fenômeno que Thales Teixeira define como decoupling. O decoupling (ou dissociação) acontece quando as ligações entre atividades tradicionais de um consumidor são quebradas por um inovador digital, alguém que, pior do que roubar clientes de uma empresa tradicional, rouba atividades dos clientes desse incumbente.

Quer um exemplo? Pense em aplicativos de transporte compartilhado x companhias tradicionais de táxi. O que eles fizeram não foi "roubar" passageiros dos táxis oferecendo transporte mais barato (nem sempre). Os apps sequestraram uma parte da rotina do passageiro. Ao invés de ligar para companhia de táxi ou ficar na rua abanando a mão, basta abrir o app no smartphone e chamar o carro. Desse gesto nasce a ruptura. 

As empresas que acreditam que estão sofrendo ruptura por causa de uma determinada tecnologia ou startup "deixam de perceber que o padrão mais comum e difusão da ruptura vem dos consumidores. São eles quem estão por trás das decisões de adotar ou rejeitar novas tecnologias ou novos produtos. Quando grandes companhias decidem se focar na mudança da necessidade e dos desejos dos consumidores elas acabam respondendo mais efetivamente à ruptura digital", garante Thales Teixeira.

Ou, como diria de forma menos elegante Homer Simpson, "It's the consumer, stupid, not the technology".

Ruptura digital em cinco minutos

Em uma apresentação na Inma (International Newsmedia Association), o professor Thales Teixeira explica o que é e como evitar a ruptura digital, em cinco minutos.

Escrevendo currículos para robôs

A empresa de recrutamento Hays está sugerindo que os candidatos comecem a preparar seus currículos para serem encontrados e analisados por algoritmos de IA. Ou não vão conseguir passar pela primeira barreira para conseguir ter contato com um interlocutor humano na empresa.
 
A diretora da Hays Austrália, Jane McNeill, foi quem teve a ideia. Segundo ela, são essas as dicas para escrever currículos para robôs:

  1. Identifique suas habilidades técnicas usando palavras-chave e perfis profissionais online que sejam relevantes para os empregos que você está se aplicando.
  2. Identifique suas soft skills. Fundamental incluir frases com palavras-chave associadas às habilidades comportamentais procuradas hoje ardentemente.
  3. Crie um perfil forte no LinkedIn. O truque é usar todas as dicas anteriores e ocupar todo o espaço de resumo que é oferecido, nada de deixar espaço em branco. E não invente com descritivos de cargo pouco comuns. O robô não vai entender que você foi "Chief Happiness Officer" ao invés de líder de comunidade, por exemplo.
O uso de Inteligência Artificial e analytics para triagem de candidatos tem sido proposto como uma forma de evitar o viés na hora da seleção, colocando foco nos skills e não em elementos como raça, gênero ou idade. Mas como toda aplicação de IA, se quem desenvolver e especificar o algoritmo não prestar atenção, pode incluir o viés no código e emprestar seus preconceitos à máquina. Um artigo na Forbes explora o problema. Vale ler.

Almoço? Só se for na mesa do escritório

Não convide um millennial para almoçar no trabalho. Pelo menos não nos Estados Unidos. Há uma grande chance dele dizer não, ou, pior, sugerir que vocês dividam um sanduíche na frente do notebook.

Uma pesquisa feita pela Tork, uma das maiores fornecedoras de guardanapos de papel para a indústria de alimentação dos EUA, mostra que a geração Millennial é, de todas as gerações, a que mais se preocupa em ser estigmatizada por sair para almoçar no intervalo do trabalho.

Eles até gostariam de sair mais regularmente para almoçar (66% deles) mas, segundo a pesquisa, são quase três vezes mais propensos do que os Baby Boomers a acreditar que os colegas de trabalho os julgariam negativamente se parassem para almoçar fora da mesa de trabalho. Pior: 37% deles disseram não se sentir empoderados o suficiente para sair para comer fora do escritório.

O problema fica mais grave quando o millennial vira chefe. A pesquisa da Tork descobriu que os gestores millennials são duas vezes mais propensos que a geração X, anterior, a menosprezar funcionários que fazem intervalos regulares de almoço. A Tork contratou a nutricionista Joy Bauer, estrela de programas de TV, para protagonizar a iniciativa “Take Back the Lunch Break”, na qual enfatiza que a comida é apenas uma parte do benefício de sair no intervalo.

Desistências históricas do mercado chinês

As oportunidades são gigantescas para quem consegue entrar com uma empresa no mercado chinês. Mas são igualmente gigantes a dificuldades de competir internamente com as empresas locais. O Visual Capitalist juntou em um infográfico 11 exemplos de "cavalos de pau" ou U-Turns, que grandes grupos fizeram ao longo do tempo, com os motivos de saída.  A decisão mais recente é da Amazon.com, que vai deixar o e-commerce doméstico que tem há dez anos e vai apenas oferecer aos chineses produtos de outros países via seus sites de fora da China.

O garimpo da semana

  • Cientistas e engenheiros chineses divulgaram um código de ética de IA que pode sinalizar a disposição surpreendente de Pequim de discutir tais questões dentro dos círculos políticos chineses. Chamado de Princípios da IA de Pequim, o código define diretrizes para pesquisa e desenvolvimento em IA, incluindo que “privacidade, dignidade, liberdade, autonomia e direitos humanos devem ser suficientemente respeitados”.
     
  • Um artigo da McKinsey reúne 4 fatores de sucesso para automação na força de trabalho, obtidos a partir da análise de casos reais bem-sucedidos em diferentes empresas. 

     
  • Um curso de capacitação em TI, criado pelo Google, foi traduzido para o português e será oferecido a partir de 16 de setembro na plataforma Coursera, ao custo de US$ 39 ao mês. O  Certificado Proissional de Suporte em TI dura 8 meses e mira ampliar oportunidades de emprego no Brasil. A Google vai distribuir 2 mil bolsas para alunos carentes. Um grupo de empresas já se ofereceu para avaliar esses profissionais formados para contratação, entre elas Adecco Group, Coca-Cola, Cognizant, Localiza, Magalu, Telhanorte, Tumelero e Rappi.
     
  • Um Dicionário de Startupês com 300 verbetes (indo para 400 em breve) está disponível grátis para download. A autora é Ana Letícia Rico, que integra a equipe do Nexus - Hub de Inovação do Parque Tecnológico São José dos Campos, e que foi co-fundadora do Núcleo de Empreendedorismo da USP Lorena (EmprEEL).
     
  • O Google usa um algoritmo de aprendizado por reforço para reduzir os custos de energia para o resfriamento de seus data centers e também está experimentando algoritmos que aumentam a eficiência de seus parques eólicos.
     
  • Uma startup está criando novos chips de inteligência artificial que se sobressaem no trabalho de adivinhação. Ao aproximar a intuição humana, eles podem processar dados muito mais rapidamente do que suas contrapartes convencionais.
     
  • A Amazon quer usar a IA para te recomendar roupas - de novo. O StyleSnap é a mais recente tentativa da Amazon de usar o aprendizado de máquina para vender sua moda. Como funciona: A ferramenta permite fazer upload de fotos de roupas e acessórios que você gosta. Em seguida, ele usa algoritmos de aprendizado de máquina para combiná-los com itens semelhantes na Amazon. O sistema se baseia na maior força do aprendizado de máquina: correspondência de padrões em imagens.
     
  • Huawei assinou um acordo para construir a primeira rede sem fio 5G da Rússia.  É o mais recente sinal de uma cortina de ferro emergente da Internet.
     
  • Treze dos maiores bancos do mundo, incluindo o UBS, o Barclays e o Santander, estão se preparando para lançar versões em criptografia das principais moedas globais em 2020. 

Esta é a 21a edição da The Shift.

 

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Gratidão pela leitura e boa semana.

Cristina De Luca & Silvia Bassi

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