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19/07/2019

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Bruno Rondani, fundador e CEO da 100 Open Startups (foto Divulgação)

O matchmaker da inovação

A ruptura começa com uma mentalidade de inovação aberta e processos bem azeitados, de forma a fazer a colaboração crescer. Foi por conhecer bem a cultura fechada de grandes corporações e universidade que Bruno Rondani, engenheiro, empreendedor e investidor, decidiu, junto com os amigos Rafael Levy e Carla Colonna, criar a rede 100 Open Startups.

O objetivo deles é ajudar cada membro do ecossistema a decidir sobre onde alocar recursos, tempo, esforço e dedicação em iniciativas desejadas pelo mercado, afastando toda a ineficiência dos fundos, que muitas vezes têm uma influência muito grande, mas pouco contribuem resolver problemas dos consumidores, deixando obsoletos quem até então era líder de mercado.

Nascida em 2016, a rede conta hoje com pouco mais de 8,6 mil startups ativas, 1,3 mil corporações e 15 mil avaliadores. E realiza anualmente um levantamento apontando as startups mais atraentes do ecossistema. O deste ano foi publicado ontem, e tivemos acesso a números exclusivos que nos permitem afirmar que Bruno pensa e age como um catalisador da inovação aberta do Brasil, e como um matchmaker de relações valorosas e promissoras.

Os dados sobre as ranqueadas de 2019 mostram um grupo de empresas maduras – 82% estão em fase de mercado, com produto e faturamento – e um coletivo de founders igualmente maduro: 54,2% deles já empreenderam anteriormente e a maior fatia (31,9%) tem entre 31 e 35 anos. O faturamento somado desse grupo foi de mais de R$ 193 milhões em 2018, projetando crescimento para R$ 324 milhões em 2019.

Agora, o matchmaker vai testar mais um pedaço da sua plataforma: o 100 Open Angels, uma ação de co-investimento que vai beneficiar 25 startups, que devem receber R$ 1,5 milhão cada. A turma de ranqueados de 2019 vai disputar uma dessas fatias em rodadas de speed-dating no evento Whow!

Nessa entrevista, Bruno revela os conceitos por trás das engrenagens que fazem a rede prosperar.  E explica como funciona o framework que permite às grandes corporações e aos empreendedores testarem novos modelos de negócios digitais, com liberdade para errar e aprender.

Ruptura é...

"Romper com o jeito como as coisas vinham sendo feitas. No nosso contexto, mudar alguns paradigmas de como a inovação é feita. A disrupção acontece quando aquelas coisas que anteriormente eram vistas como empecilhos para a inovação passam a ser encaradas e usadas como fortalezas.

No passado, inovação era algo bastante sigiloso, protegido. O elemento principal era a patente, o segredo industrial. O papel do inventor era criar uma vantagem estratégica contra os concorrentes e a sua atuação precisava ser extremamente controlada. Todo o esforço era para garantir que a propriedade intelectual ficasse vinculada à empresa.

Esse paradigma de inovação prevaleceu por muito tempo. E até entre as primeiras startups... algo similar ao antigo modelo prevaleceu no ambiente das venture capital. A forma de operação era furar as fortalezas corporativas e tentar cooptar as mentes mais criativas dentro das corporações, que estivessem dispostas a sair e inovar fora, com um pouco mais de flexibilidade, em empresas emergentes, sem precisar da estrutura corporativa e atuando quase como piratas. Os termos “Piratas do Silicon Valley”, ou “Os 8 traidores” (*) são típicos dessa época.

Hoje é totalmente diferente. Falamos em cocriação, redes de inovação, open innovation, a gente adotando open startups, os fundos colaborando com redes de anjo, anjos colaborando com plataformas de crowdfunding, grandes empresas servindo de plataformas para startups, chamando as startups para trabalharem com elas. 

"O problema, nas últimas duas décadas é saber qual será a nova metodologia, o novo framework para trabalhar esse modelo de inovação cada vez mais aberta, onde predomina o paradigma da colaboração, da troca de ideias entre todos os agentes do ecossistema, respeitando a competição, os conflitos estratégicos."

A 100 Open Statups é a derivação de técnicas, de metodologias de open innovation e de tecnologias de colaboração. Do desejo de encontrar uma forma de permitir que o ecossistema possa interagir de forma colaborativa, mantendo a estrutura capitalista baseada na competição, no livre mercado, onde as empresas precisam se apropriar e monetizar os investimentos feitos.

Uma rede colaborativa aberta que deixa para trás o paradigma do inventor para adotar o paradigma do corretor. Que coloca mais foco no que é mais capaz de atrair, de conectar, de ressignificar, de criar através da colaboração, e menos foco naquele que cria e depois protege, desenvolve e explora sozinho uma ideia.

E note, tudo isso respeitando a propriedade intelectual. A gente não está propondo um sistema onde ninguém mais é dono de nada. O ponto central do nosso processo é que você mantém a possibilidade de fechar e de abrir quando for mais vantajoso. Por isso que a gente gosta do termo matchmaker. Por ser um modelo que provoca mudanças na forma de interação entre as pessoas.

Por exemplo, no caso do relacionamento entre pessoas. Antigamente, você se relacionava amorosamente com alguém com algum vínculo social comum: colegas da escola, de trabalho, amigos da família, pessoas que frequentavam os mesmos ambientes. Esse era o ponto de contato inicial.

Hoje, uma parte significativa dos relacionamentos amorosos tem início online. A pessoa conhece nas redes sociais, nos app de relacionamento e aí deriva o relacionamento para o presencial, quando começa a estabelecer uma relação de confiança.
 

"O que a gente criou foi uma plataforma que permite que o primeiro contato entre pessoas que queiram inovar seja feito online, em um ambiente inspirado nos matches, ainda sem ter muitas informações sobre elas, e aprofundar a relação marcando encontros presenciais na medida em que ganham confiança entre si."


Assim você está conectado, mas também está protegido de relações que você não queira estabelecer, revelações que não façam sentido ser feitas antes do momento certo, etc.

A startup publica o que é relevante para encontrar parceiros, para ter feedback e para validar ideias, sem expor completamente o que faz, ou sem ter que abrir a propriedade daquela inovação para rede. Ela se mantém a criadora, mas pode se abrir de forma controlada para aqueles com os quais tenha interesse de interagir.

O mesmo vale para as corporações que reconheçam não ter todas as competências, para inovar, ou para solucionar uma dor dos clientes, mas sabem que podem haver pessoas lá fora que talvez possam ajudar, viabilizar e acelerar o processo de inovação.

Como elas muitas vezes não querem mostrar para o mercado suas eventuais fraquezas ou estratégias ao dizer estão procurando tal coisa, elas conseguem publicar as suas necessidades somente para aquelas startups nas quais elas tenham interesse. Podem filtrar e convidar somente aquelas que elas julgam estarem aptas a ajudar, após uma avaliação prévia do perfil. E também vão abrir poucas informações no primeiro momento.

Quando começamos a trabalhar com Open Innovation, nosso trabalho era conectar as grandes empresas às universidades. As universidades têm duas coisas: competências (linhas de pesquisa) e patentes (geradas por esses grupos de pesquisa). E começaram a criar escritórios de transferência de conhecimento e tecnologia, mas só conseguiram organizar a parte de patentes.

Era difícil saber se um determinado pesquisador estava interessado em trabalhar para uma determinada empresa. Elas se preocupavam em proteger o conhecimento patenteado para que ele pudesse ser transferido para exploração comercial. Era um processo muito penoso e moroso. Um desafio, ainda hoje, envolvendo duas instituições complexas: a universidade e a grande empresa.

O que mudou completamente, e que fez a gente crescer muito, foi que a quantidade de startups cresceu muito. E como elas também estavam acostumadas a não revelar as suas ideias e projetos, pouquíssimas tinham sucesso. Era preciso superar as barreiras entre a não revelação e o match com os possíveis parceiros.

A gente abriu a Open Innovation para as startups a partir de programas de capacitação. O primeiro foi o Desafio Brasil, da FGV.  
 

"O nosso trabalho era promover jovens querendo empreender, com ideias muito iniciais e sem nada a perder. Eles não tinham muita dificuldade de revelar seus projetos para o mercado. Queriam viabilizar as ideias. Serem vistos e reconhecidos por quem já estava bem posicionado no mercado."


Então abrimos essa base de estudantes e projetos para executivos de grandes empresas, para que dessem feedback apenas. No fundo, era um processo de mentoria. Mas à medida que os executivos começaram a se envolver com comunidades de empreendedores, eles perceberam que podiam começar a empreender também, a partir de oportunidades reais.

Hoje, a maior parte das startups mais atraentes da nossa base têm entre seus fundadores executivos com experiência prévia nas suas áreas de atuação. Deixaram de ser apenas os garotos de 20 anos sem nada a perder, ainda que eles continuem podendo participar da rede e também estejam representados entre as startups de sucesso. Com esse processo que a gente criou, passamos a ter um público muito mais qualificado empreendendo.

Os avaliadores e os investidores anjo foram necessidade que a gente sentiu mais recentemente. Nem todo mundo está disposto a abandonar uma carreira e empreender. Mas são pessoas que querem ter contato com esse universo de inovação, de startups, aprender com ele, se manter conectado com as possibilidades de disrupção que possam estar ocorrendo, se tornar um profissional melhor e até investir.

Então, para que eles pudessem se beneficiar de todo o conhecimento e troca gerados na rede, eles passam a ingressar só como avaliadores ou, caso tenham interesse de investir como um investidor anjo.
 

"Hoje, do total de avaliadores, 2 mil já investiram em startups e grande parte participa da plataforma com o objetivo de encontrar empresas para investir."


Começamos com um modelo de equity crowdfunding, porque percebemos que existia o interesse desses executivos de participarem com aportes menores. Hoje, por tecnologia e por regulamentação, isso passou a ser possível. O nosso modelo para o Open 100 Angels começa com um investimento de R$ 5 mil. Eles podem ajudar na criação de uma startup sem serem necessariamente um empreendedor líder. 

A ideia não é a mesma do crowdfunding financeiro. Não é só pelo apelo financeiro. É essa ideia que deixa o crowdfunding pequeno. Não há garantia de que o dinheiro investido vai retornar. Vale mais o aprendizado, o esforço, o envolvimento com o desenvolvimento de um projeto, onde o conhecimento dele é valorizado.
 

"Junto com o pequeno investimento ele também aprende mais sobre esse mundo, vê como é o jogo, e se prepara para fazer um investimento maior."


Caso o empreendimento onde ele investiu tenha sucesso empresarial, aí sim ele passa a ser sócio, com participação no capital da empresa. Hoje o nosso ranking mede objetivamente acordos, negócios, investimentos fechados dentro do ecossistema. Não é opinião mercado. É resultado.  A efetivação, em contratos, dos relacionamentos estabelecidos. Pontua em quem tem melhor desempenho em termos de negócios  gerados.

A gente está trabalhando para que a colaboração se viabilize por meio da nossa metodologia. E que essa colaboração tenha impacto na economia do país. Nossa missão é criar a nova economia. Viabilizar as empresas do futuro, sabendo que todos os mercados estão ou vão passar por disrupção. Queremos ajudar a gerar os novos líderes de mercado.

Em 5 anos, eu espero que a nossa metodologia seja a referência para a criação de novos negócios e a modernização das empresas existentes."



(*) Entre os oito traidores que deixaram o Shockley Semiconductor Laboratory em 1957 estavam Gordon MooreRobert Noyce, que três anos depois fundariam a Intel.

ERRAMOS: Na edição da The Shift de 15/07, Pascal Finette foi identificado como fundador da Singularity University. Ele na verdade é chair da Singularity University.

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